RS: Índios aliam mapas à sabedoria Guarani para recuperar áreas degradadas
O levantamento serve de base para definição do trabalho, planejamento das ações e acompanhamento dos processos de reconversão produtiva, recuperação e conservação ambiental.
Vinte e oito hectares de reconversão produtiva, 74 hectares de recuperação de áreas degradadas e mais de 3 mil hectares de conservação de biomas. Estes são alguns dos dados levantados por meio de georreferenciamento em nove aldeias guarani no Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do projeto AR, Água e Terra – Vida e Cultura Guarani, que há quatro anos realiza ações de recuperação e conservação ambiental em solos indígenas. O trabalho é coordenado pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM) com o patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental.
Os mapas de “uso da terra” auxiliam no manejo mais detalhado das áreas. Cada aldeia recebe o seu mapa. O levantamento serve de base para definição do trabalho, planejamento das ações e acompanhamento dos processos de reconversão produtiva, recuperação e conservação ambiental. Auxiliam, ainda, na realização de rotas e atividades de etnoturismo, fonte de renda para as aldeias. A familiaridade com essa ferramenta começa cedo. Eles também são utilizados nas escolas como material de apoio para atividades de Educação Ambiental, de forma interdisciplinar.
REALIDADE – O histórico dos povos Guarani revela modos de vida tradicionalmente integrados aos ecossistemas florestais, por meio de um manejo sustentável, que permitia a extração de alimentos, medicamentos e matéria-prima para a construção das casas e para a confecção de utensílios, instrumentos e adornos. “Um dos problemas enfrentados pelas aldeias é que as áreas disponibilizadas, atualmente, nem sempre apresentam florestas, sendo algumas bastantes degradadas devido a monoculturas anteriores e outros sistemas de produção de grande impacto”, explica a bióloga Denise Wolf, presidente do IECAM. “O trabalho de recuperação ambiental é de grande importância para a manutenção dessa cultura”, conclui.
“Hoje, depois que a mata cresceu, os animais estão voltando, já tem bugio, tatu, tem borboleta, pássaros. Temos erva-mate, frutas nativas. Assim, as pessoas ficam com mais saúde porque o espírito fica mais feliz”, comemora o cacique da Aldeia da Lomba do Pinheiro (Tekoá Anhetengua), José Cirilo.
SABERES – A atuação da equipe multidisciplinar do Projeto se fundamenta no respeito e na valorização da Cultura Guarani, com sua visão de mundo, seu ritmo de vida, distribuição do tempo, divisão de atividades por gênero. Eles, em contrapartida, aceitam sugestões ecológicas para resolver os problemas derivados das condições atuais de vida.
Por meio dessa troca de conhecimentos, é possível saber, por exemplo, que a Aldeia da Lomba do Pinheiro (Teko’a Anhetengua) possui área de 23,84 hectares, distribuídos em 14,39 hectares de conservação de florestas e pampa; 6 hectares de recuperação de áreas degradadas; 2,41 hectares de reconversão produtiva; 0,99 hectares de áreas de passeio e trilhas; e 0,71 destinados para corpos d´água, áreas de lazer e esporte e construções.
As conquistas e os desafios de cada aldeia serão debatidos entre os dias 19 e 22 de abril. Cacique e lideranças indígenas estarão reunidos na Aldeia da Lomba do Pinheiro para compartilhar as experiências e também permutar saberes, mudas e sementes.
* SOBRE O IECAM – O Instituto de Estudos Culturais e Ambientais – IECAM é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1991, no Rio de Janeiro-RJ, por ambientalistas engajados na organização da Rio 92 (ECO 92). Sediado desde o ano de 2011, em Porto Alegre, RS, a missão do IECAM é a pesquisa e o desenvolvimento de ações socioambientais sustentáveis, através da revitalização de saberes tradicionais e da biodiversidade.
Colaboração de Mila Netto, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/04/2018
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Quando é índio a “divisão de atividades por gênero” é cultura, quando é branco é sexismo, preconceito, discriminação… rsrsrsrsrs