Produtos de origem animal têm ‘impacto excessivo’ para meio ambiente e clima, diz FAO
Produtos de origem animal têm ‘impacto excessivo’ para meio ambiente e clima, diz FAO
ONU
Em fórum realizado em Berlin, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, ressaltou neste mês (20) que a pecuária continua sendo um dos pilares da segurança alimentar mundial.
Mas alertou que expansão do setor ameaça proteção da biodiversidade, para o acesso sustentável a água e, principalmente, para o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris — limitar a elevação da temperatura média do planeta.
Na avaliação de Graziano, conforme cresce a demanda por carne e outros produtos da pecuária, em especial nos países em desenvolvimento, a questão da distribuição equitativa e eficiente dos benefícios dessa atividade econômica adquire cada vez mais importância.
Mais da metade das pessoas pobres em zonas rurais do planeta dependem da pecuária, e é necessário disponibilizar conhecimentos e tecnologias adequadas para que elas participem dessa expansão do mercado, em vez de serem “deixadas de lado pela expansão dos grandes empreendimentos com uso intensivo de capital”, defendeu o chefe do organismo internacional.
O dirigente acrescentou ainda que o aumento do consumo de produtos de origem animal poderá melhorar a nutrição, sobretudo das crianças mais jovens, cujo desenvolvimento cognitivo e físico requer micronutrientes cruciais como zinco e ferro. Todavia, Graziano lembrou que o consumo em excesso também traz riscos. “Temos que nos concentrar em dietas saudáveis e equilibradas”, afirmou.
O chefe da FAO também ressaltou que existem fontes alternativas de proteínas, como a pesca e os legumes, que precisam ser exploradas.
Mudanças climáticas
Graziano alertou para as consequências da pecuária para a natureza. O setor é o que mais gera gases do efeito estufa entre as cadeias produtivas de alimentos, além de responder por 14,5% de todas as emissões antropogênicas.
A expansão do setor traz desafios para a proteção da biodiversidade, para o acesso sustentável a água e, principalmente, para o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris — limitar a elevação da temperatura média do planeta.
Apesar dos problemas, o chefe da FAO garantiu que “é possível chegar a uma pecuária com baixas emissões de carbono”.
Pesquisas da agência da ONU já mostram que as emissões de metano podem ser reduzidas rapidamente, de 20 a 30%, em todos os sistemas produtivos, com a adoção de práticas conhecidas — entre elas, técnicas regenerativas no manejo da pastagem, a seleção do pasto, melhorias na reciclagem dos nutrientes e a utilização dos resíduos do gado para a produção de energia.
Outras estratégias incluem o fortalecimento das capacidades do solo de armazenar carbono, o que pode aumentar a produção da pecuária e evitar o avanço do desmatamento. “Com práticas aprimoradas e climaticamente inteligentes, podemos estabelecer cadeias de abastecimento mais sustentáveis e ecológicas”, enfatizou Graziano.
Saúde animal
Outro tema abordado pela FAO foram as preocupações sanitárias com a pecuária. Segundo Graziano, “a aparição de doenças possivelmente se intensificará nos próximos anos, uma vez que o aumento das temperaturas favorece a proliferação de insetos”.
Na avaliação da agência da ONU, as patologias zoonóticas — que são transmitidas do animal para o homem — com potencial pandêmico “representam uma grande ameaça para as pessoas, os animais e o meio ambiente”.
Outro risco é a crescente resistência de agentes patogênicos a antibióticos, um problema agravado pelo uso excessivo e inadequado de medicamentos na pecuária. O uso dessas substâncias na produção de alimentos triplica o consumo que os seres humanos fazem desses fármacos.
Em seu pronunciamento, Graziano pediu a suspensão imediata do uso de remédios para promover o crescimento do gado. A FAO defende que antibióticos só sejam utilizados para tratar doenças e aliviar o sofrimento desnecessário dos animais. O uso preventivo deveria ocorrer apenas em condições muito específicas e restritivas.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/01/2018
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