Sexta extinção em massa e a insegurança alimentar global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Sexta extinção em massa e a insegurança alimentar global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A humanidade, de modo geral, é egoísta e não se preocupa muito com o destino das demais espécies vivas da Terra. Pior, o avanço do bem-estar humano tem ocorrido às custas do empobrecimento dos ecossistemas e da crescente perda de biodiversidade. Enquanto cresce a população humana, decresce as populações não humanas da fauna e da flora. Mas este processo é insustentável e pode levar a civilização ao colapso, pois o ecocídio é também um suicídio.
Um novo relatório da Bioversity International (2017) revela que a agrobiodiversidade global está sob grave ameaça diante da sexta extinção em massa da vida na Terra. O estudo confirmou o fato de que a sexta extinção em massa, que já está acontecendo, ameaça mais do que os animais selvagens. Também ameaça seriamente o fornecimento de alimentos em todo o mundo.
Grandes proporções das espécies de plantas e animais que formam a base do nosso abastecimento de alimentos estão ameaçadas. Segundo a WWF, o estado atual da biodiversidade do planeta está pior do que nunca. O Índice do Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês), que mede as tendências de milhares de populações de vertebrados, diminuiu 52% entre 1970 e 2010. Em outras palavras, a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás.
Ainda segundo a WWF, a biodiversidade está diminuindo em regiões temperadas e tropicais, mas a redução é maior nos trópicos. Entre 1970 e 2010, o LPI temperado diminuiu 36% em 6.569 populações das 1.606 espécies em regiões temperadas, ao passo que o LPI tropical diminuiu 56% em 3.811 populações das 1.638 espécies em regiões tropicais durante o mesmo período. A redução mais dramática aconteceu na América Latina – uma queda de 83%.
Estudo publicado na revista científica Plos One (18/10/2017) revela queda de 75% no número de insetos voadores na Alemanha (Insectageddon). Os dados foram obtidos em áreas protegidas do país, mas o resultado têm implicações para todas as regiões onde a paisagem é dominada pela agricultura. De acordo com os autores da pesquisa, a constatação é preocupante, já que os insetos têm um papel crucial no funcionamento dos ecossistemas, polinizando 80% das plantas e fornecendo alimento para 60% das aves. O colapso das colmeias é um ecocídio contra as abelhas e que pode ter um efeito devastador sobre a produção de alimentos.
Voltando ao relatório da Bioversity International (2017), os dados mostram que, atualmente, cerca de 75% do suprimento global de alimentos vem de apenas 12 culturas e cinco espécies de animais. De acordo com o relatório da Bioversity International, o investimento em produtos básicos de alto rendimento levou a apenas três arroz, milho e trigo, fornecendo metade das calorias baseadas em plantas do mundo, apesar de terem sido documentadas entre 5.000 e 70.000 espécies de plantas como alimento humano.
Essa falta de agrobiodiversidade significa que os suprimentos de alimentos em todo o mundo são muito vulneráveis ??a pragas e doenças, que podem se mover rapidamente através de grandes regiões de monocultura. Isso é exatamente o que desencadeou a fome da batata irlandesa, mesmo que causou um milhão de pessoas morrer de fome. As mudanças climáticas e as emissões de carbono também são uma ameaça.
O relatório destaca a necessidade de salvar a agrobiodiversidade, pois existem dezenas de milhares de espécies raramente cultivadas e selvagens, oferecendo uma variedade de alimentos que são nutritivos, mais tolerantes às mudanças climáticas e mais resistentes às doenças.
No entanto, a mesma degradação, poluição e destruição de áreas selvagens que começaram a extinção em massa de espécies de animais selvagens na Terra ameaçam a biodiversidade agrícola e o abastecimento de alimentos da humanidade. A agrobiodiversidade também é crucial para erradicar as principais causas da deficiência humana e a fome no mundo: uma dieta pobre, seja composta por muito (obesidade) ou pouco alimento (desnutrição). As dietas pobres decorrem de um conjunto estreito de commodities e não há diversidade suficiente.
Não existe produtividade agrícola sem biodiversidade, assim como não existe ECOnomia sem ECOlogia.
Evitar a sexta extinção em massa não é apenas um dever ético, mas também uma condição essencial para a segurança alimentar e a sobrevivência do ser humano.
Referência:
Bioversity International. Mainstreaming Agrobiodiversity in Sustainable Food Systems: Scientic Foundations for an Agrobiodiversity Index. Bioversity International, Rome, Italy, 2017
https://www.bioversityinternational.org/fileadmin/user_upload/online_library/Mainstreaming_Agrobiodiversity/Mainstreaming_Agrobiodiversity_Sustainable_Food_Systems_WEB.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/01/2018
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A principal causa do desequilíbrio planetário apresentado no artigo ora comentada, e que “levará à sexta extinção em massa” é a super população humana.