Germoplasma, artigo de Roberto Naime
Germoplasma, artigo de Roberto Naime
Bancos de Germoplasma podem ser definidos como unidades conservadoras de material genético de uso imediato ou com potencial de uso futuro. No caso de plantas são comumente sementes.
Estas estruturas são especialmente utilizadas para conservação de espécimes “crioulos” e nativos de determinadas regiões geográficas.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), criou em 1976, em consonância com as recomendações do International Plant Genetic Resources Institute (IPGRI) germoplasma, objetivando conservar fontes genéticas para uso futuro em programas de melhoramento e pesquisas e prevenir e evitar perdas de valiosos recursos genéticos.
As atividades básicas estão relacionadas ao manejo, conservação e uso de germoplasma do tipo semente, com o recebimento do germoplasma do tipo semente, sua documentação, e o controle de qualidade e monitoramento da viabilidade das sementes durante o período de armazenamento.
São conservados acessos de germoplasma nacional e internacional de variedades e cultivares obsoletas, espécies silvestres, espécies afins, raças locais e indígenas. Atualmente, aproximadamente 87.000 acessos de diferentes espécies estão conservados a longo prazo.
O enriquecimento da coleção de germoplasma de sementes é realizado por meio de intercâmbio e de coleta de sementes de espécies cultivadas e nativas. O monitoramento das qualidades fisiológica e sanitária destas sementes de plantas é de fundamental importância. Através de monitoramento, tem sido prospectados quais os acessos que devem ser regenerados ou multiplicados, assim como quais são os patógenos associados com as sementes que estão contribuindo para a deterioração ou perda de viabilidade dos acessos.
As condições ideais para a conservação a longo prazo de germoplasma do tipo em semente são igualmente ideais para a conservação de patógenos que possam estar associados. Um dos grandes problemas em culturas em todo o mundo tem sido causado por doenças de plantas. Nos países desenvolvidos, se realiza estimativa, que para algumas culturas, existe um prejuízo relevante do potencial da produção agrícola, devido às moléstias que atacam as plantas.
Ocorre o registro de inúmeros danos que podem ser provocados em plantas, pela presença de fungos em condições consideradas patogênicas. Isto ocorre com fungos já associados às sementes, que geram redução da produção, má qualidade de sementes e grãos, perdas de poder germinativo e de vigor, ocorrência ou presença de plântulas anormais, podridão de raízes, deterioração de sementes, morte de pré e pós-emergência das plântulas consideradas.
A conservação de germoplasma do tipo semente, de espécies autóctones, está condicionada ao conhecimento de suas características morfológicas e fisiológicas. Também seu comportamento germinativo e sua tolerância ao dessecamento e sensibilidade ao congelamento sã relevantes.
Há mais de uma década, pesquisadoras da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia vêm se dedicando ao estudo de sementes de espécies autóctones tanto de espécimes madeireiras, como de tipos frutíferos, ornamentais e medicinais. Tanto para reprodução imediata como para fins de conservação a longo prazo. Estas investigações visam determinar os padrões para testes de germinação e de conteúdo de umidade e caracterizar o tipo de dormência das sementes e avaliar sua tolerância ao dessecamento e sensibilidade ao congelamento.
Tais parâmetros são utilizados para classificar as sementes quanto ao seu comportamento para fins de conservação nos tipos chamados de ortodoxas, intermediárias ou recalcitrantes e avaliar sua qualidade fisiológica antes e durante seu armazenamento.
Não existe um método disponível, na atualidade, para a conservação a longo prazo de sementes consideradas como recalcitrantes, que apresentam dificuldades ao congelamento. Portanto técnicas de conservação alternativas ainda precisam ser definidas. A conservação “in vitro”, seja em condições de crescimento lento ou de criopreservação de eixos embrionários isolados são os métodos mais promissores para a conservação alternativa.
A importância de manutenção de todas formas de vida e das genéticas já desenvolvidas é de importância intangível para a civilização humana e para o próprio meio natural. Funcionalidades desenvolvidas e seleções de espécies já realizadas tem posicionamento hierárquico, inalienável dentro das redes e teias de relações realizadas nas condições naturais.
Ainda mais agora, se os estágios evolutivos da engenharia genética se consolidarem com o desenvolvimento de técnicas ainda inéditas. Isto deve respeitar um contexto, onde não se apregoe qualquer restrição às evoluções científicas, mas não custa nada admoestar a todas as partes interessadas que é preciso ter um pouco de humildade.
A interferência na seleção natural, sem compreender todas as relações implícitas ou explícitas, e não lineares ou cartesianas da homeostase dos ecossistemas, seja este ecossistema englobando toda a terra ou não, parece um pouco pretensioso na atual fase de conhecimentos da civilização humana.
Referências:
FAIAD, M.G.R.; SALOMÃO, A.N.; FERREIRA, F.R.P.; GONDIM, M.T.P; WETZEL, M.M.V.S.; MENDES, R.A .; GOES, M. de. Manual de procedimentos para conservação de germoplasma semente a longo prazo na Embrapa, Brasília: Embrapa, 1998. 21 p. (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Documento, 30).
SALOMÃO, A. N.; EIRA, M.T.S.; CUNHA, R. da; SANTOS, I.R.I.; MUNDIM, R.C.; REIS, R.B. dos.; 1997. Padrões de germinação e comportamento para fins de conservação de sementes de espécies autóctones: madeireiras, alimentícias, medicinais e ornamentais. (Embrapa Cenargen. Comunicado técnico, 23) 12 p.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/01/2018
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