A Singularidade Solar, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A Singularidade Solar, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O mundo está passando por uma grande revolução da sua matriz energética, passando da era dos poluidores combustíveis fósseis para a era das energias renováveis. O Sol irradia durante 365 dias o equivalente a 10 mil vezes a energia consumida anualmente pela população mundial. Assim, o nosso astro maior pode ser a grande fonte de energia renovável do planeta, tornando-se uma fonte energética que seja abundante e, relativamente, limpa e ecológica.
Segundo Tam Hunt, a “singularidade solar” é o ponto em que a energia solar se torna tão barata na maioria dos países ao redor do mundo que é estabelecida como a nova fonte de energia padrão.
O crescimento da energia fotovoltaica acompanhado do armazenamento de baterias e os veículos elétricos formam revoluções paralelas e entrelaçadas que devem transformar o sistema energético em todo o mundo. Existe a possibilidade de se atingir 100% de energia renovável até 2050.
O gráfico acima mostra que os acréscimos anuais na produção de energia solar passou de 1 GW em 2005 para 74 GW em 2016 e deve alcançar mais de 100 GW em 2021. Portanto, um aumento de 100 vezes em 15 anos. A capacidade instalada pode ultrapassar mil GW no início da próxima década.
O custo da energia é fundamental para o seu futuro desenvolvimento. O preço de um painel solar em 2016 era 30% menor do que era em 2010 – caindo de US$ 1,50 por watt para US$ 0,447 por watt. Isso significou uma redução de 70% em seis anos.
O gráfico abaixo mostra que a queda do preço da produção da energia solar tem caído de forma consistente e já se torna competitiva com as demais fontes energéticas. A singularidade solar cria uma nova situação, pois a energia solar tenderá a crescer exponencialmente quando atingir o nível bem abaixo da paridade dos custos com novas usinas de gás natural, plantas de carvão ou usinas nucleares.
A energia solar foi a fonte de mais rápido crescimento em todo o mundo em 2016, superando o crescimento em todas as outras formas de geração de energia pela primeira vez, segundo a Agência Internacional de Energia. A energia renovável representou dois terços do novo poder adicionado às redes mundiais no ano passado. A nova capacidade solar já ultrapassou o crescimento líquido do carvão, anteriormente a maior fonte nova de geração de energia. A mudança foi impulsionada pela queda dos preços e pelas políticas governamentais, particularmente na China, que representavam quase metade dos painéis solares instalados. O Dr. Fatih Birol, diretor executivo da AIE, disse: “O que estamos testemunhando é o nascimento de uma nova era na energia solar fotovoltaica [PV]. Esperamos que o crescimento da capacidade de energia solar fotovoltaica seja maior do que qualquer outra tecnologia renovável até 2022”.
O gráfico abaixo ilustra a desconexão entre as projeções históricas sobre as instalações dos painéis solares e os desenvolvimentos reais, segundo Hoekstra (12/06/2017). As 12 projeções dos relatórios do World Energy Outlook (WEO) da Agência Internacional de Energia (IEA) ficaram sempre abaixo do crescimento real da energia solar.
Sem dúvida o avanço da energia solar (juntamente com a energia eólica) substituindo os combustíveis fósseis é uma necessidade urgente para a estabilização da economia e do clima.
Contudo, a trajetória de mudança não será simples. Kurt Cobb considera que a revolução energética, se acontecer na escala necessária, não deve ocorrer de maneira tão rápida e nem com tantos resultados positivos sobre o clima. Gail Tverberg (2014), no artigo: “Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and Solar PV) are a Problem”, relaciona dez problemas que dificultam a superação dos combustíveis fósseis e a mudança da matriz energética mundial para fontes renováveis. Artigo de Kris De Decker (14/09/2017) mostra as dificuldades para manter a economia mundial funcionando apenas com base na energia renovável.
Não resta dúvidas de que a economia internacional precisa reduzir significativamente os subsídios e a dependência dos combustíveis fósseis e aumentar o peso das energias renováveis no conjunto da produção energética, a despeito das dificuldades que precisam ser superadas. A transição energética não pode ser pequena e tardia.
Paralelamente, o mundo também precisa caminhar rumo ao decrescimento das atividades antrópicas, renovando o estilo de desenvolvimento consumista que tem colocado tantas pressões sobre o meio ambiente e a biodiversidade. A transição energética é um primeiro passo. Mas a construção de uma civilização ecológica é a única alternativa para evitar um colapso ambiental.
Referências:
ALVES, JED. Energia renovável: um salto na evolução? Ecodebate, 29/01/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/01/29/energia-renovavel-um-salto-na-evolucao-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. A transição energética: da energia fóssil às renováveis, Ecodebate, 28/07/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/07/28/transicao-energetica-da-energia-fossil-as-renovaveis-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Tam Hunt. The Solar Singularity: 2017 Update, Green Tech media, March 24, 2017
https://www.greentechmedia.com/articles/read/the-solar-singularity-2017-update-ev-autonomous-energy-storage
Kris De Decker. How (Not) to Run a Modern Society on Solar and Wind Power Alone, Resilience, 14/09/2017 http://www.resilience.org/stories/2017-09-14/how-not-to-run-a-modern-society-on-solar-and-wind-power-alone/
Auke Hoekstra. Photovoltaic growth: reality versus projections of the International Energy Agency, 12/06/2017
https://steinbuch.wordpress.com/2017/06/12/photovoltaic-growth-reality-versus-projections-of-the-international-energy-agency/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/12/2017
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