As diferentes velocidades do envelhecimento populacional, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
As diferentes velocidades do envelhecimento populacional, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Todos os países do mundo que passaram pela transição demográfica (redução das taxas brutas de mortalidade e natalidade) estão passando pela transição da estrutura etária, que tem dois momentos fundamentais: o primeiro é a redução da base e o alargamento do meio da pirâmide (o que possibilita o surgimento do bônus demográfico) e, o segundo, é o rápido envelhecimento populacional.
Existem várias maneiras para se medir o fenômeno do envelhecimento populacional. O gráfico abaixo (Credit Suisse, 2017), mostra o tempo gasto em cada país para a população idosa (de 65 anos e mais) dobrar a sua participação proporcional de 7% para 14% na população total.
Nota-se que a base de 7% foi atingida em datas muito diferentes entre os países e a velocidade da passagem de 7% para 14% também ocorre de forma diferenciada. Em geral, quanto mais antiga é a marca de 7% mais lenta é velocidade para os idosos dobrarem sua participação proporcional no conjunto da população nacional.
Por exemplo, a França foi o primeiro país onde os idosos atingiram 7% da população, o que ocorreu em 1870, mas só atingiu 14% em 1980 (gastando 110 anos para os idosos dobrarem sua participação relativa). Já a Coreia do Sul apresentou uma proporção de idosos de 7% em 1999 e de 14% em 2017. A Coreia do Sul foi o país que apresentou a maior velocidade de mudança da estrutura etária nesta primeira fase do envelhecimento (de 7% para 14%), gastando somente 18 anos para dobrar.
O Brasil também é destaque, pois atingiu 7% em 2012 e deve atingir 14% de idosos em 2031, gastando somente 19 anos para dobrar o peso relativo dos idosos na população. Tailândia e China tiveram um envelhecimento parecido com o Brasil e a Coreia do Sul. Todos estes países tinham taxas de fecundidade total (TFT) muito altas até a década de 1960 e apresentaram uma redução muito rápida do número médio de filhos por mulher a partir de 1970. Quanto mais rápido é a queda da TFT, mais rápido é o processo de envelhecimento populacional.
Os primeiros países em que os idosos atingiram 14% da população total foram Suécia (1972), Reino Unido (1975) e França (1980). Mas foi o Japão o país que atingiu de maneira mais rápida a proporção de 14% de idosos na população (7% em 1971 para 14% em 1994), pois a queda das taxas de fecundidade japonesas ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Como a TFT caiu muito abaixo do nível de reposição e o Japão é o país que possui a maior esperança de vida ao nascer, a velocidade do envelhecimento japonês é a mais rápida do mundo.
O gráfico abaixo (elaborado pelo autor com base nas projeções da Divisão de População da ONU) mostra que o Japão será o primeiro país onde os idosos terão uma proporção de 28% da população total. A terra do sol nascente atingiu 14% de idosos na população em 1994 e vai atingir 28% em 2019. Ou seja, a proporção de idosos vai dobrar de tamanho, na segunda fase do envelhecimento, em apenas 25 anos.
O segundo país onde os idosos devem alcançar 28% da população é na Coreia do Sul que tinha um envelhecimento de 14% em 1999 e deve dobrar de tamanho em 2036. O terceiro país é a Tailândia que atingiu 14% de idosos em 2002 e vai duplicar este percentual em 2046.
O Brasil também é um dos países onde a velocidade do envelhecimento populacional é destaque no cenário internacional. Os idosos brasileiros (65 anos e mais) atingiram a proporção de 7% em 2012, deve dobrar a proporção para 14% em 2031 e dobar novamente para 28% em 2062.
França, Reino Unido (UK) e Suécia que foram líderes do processo de envelhecimento na sua primeira fase (quando dobrou de 7% para 14%) só vão atingir a proporção de 28% de idosos no último quartel do século XXI. Os Estados Unidos (EUA) atingiram 7% de idosos em 1945, 14% em 2012 e só devem atingir 28% em 2100.
A tabela abaixo apresenta uma síntese de todo o processo de envelhecimento nesses países selecionados. Considerando o tempo para quadruplicar o percentual de idosos de 7% para 28%, o Japão lidera, pois vai completar este processo em somente 48 anos e deve alcançar o elevado percentual de 28%, em 2019.
O Brasil terá o segundo tempo mais rápido para quadruplicar o envelhecimento. O país tinha um pequeno percentual de idosos (3%) em 1950, representando um total de 2,6 milhões de pessoas de 65 anos e mais e deverá ter 64 milhões de idosos em 2062, quando o percentual de pessoas na terceira idade for de 28%.
A China será o terceiro país que fará a mais rápida transição da estrutura etária de 7% para 28% (gastando 52 anos). A China que tinha apenas 4,4% de idosos em 1950, representando um volume de 24,6 milhões de pessoas de 65 anos, passará para 28% em 2053, o que representará um volume de 380 milhões de pessoas com 65 anos e mais. Um aumento de mais de 15 vezes na população da terceira idade. A Coreia do Sul, virá em quarto lugar entre os países selecionados, vai quadruplicar a percentagem de idosos em 55 anos e atingir a marca de 28% em 2054.
Os Estados Unidos serão o último país (destes selecionados na tabela) a atingir o percentual de 28% de idosos na população, o que ocorrerá no ano de 2102. Isto ocorre devido ao alto percentual de imigrantes, que contribuem para atenuar o processo de envelhecimento populacional.
O país que vai gastar mais tempo para completar a transição da estrutura etária e quadruplicar o percentual de idosos será a França, que atingiu a proporção de 7% em 1870 e vai atingir 28% em 2074. Isto ocorre porque a França foi o primeiro país a experimentar a transição da fecundidade e, portanto, o primeiro a atingir o percentual de 7% de idosos. Mas a França manteve as taxas de fecundidade próximas do nível de reposição por muito tempo e, dessa forma, o envelhecimento não foi tão acelerado quanto nos países com baixíssima fecundidade.
Todos esses dados mostram que os países que iniciaram mais tarde a transição da fecundidade e apresentaram TFT muito abaixo do nível de reposição (como Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia e Brasil) vão ter um processo de envelhecimento populacional mais veloz. Terão, portanto, menos tempo para se adaptar à nova realidade demográfica. O Japão e a Coreia do Sul já conseguiram enriquecer antes de envelhecer. A China e a Tailândia já estão a caminho de uma renda per capita alta e devem entrar no clube das economias mais avançadas até 2030.
Já o Brasil, depois de quatro anos de recessão, está com a renda estagnada e a caminho de envelhecer antes de enriquecer. Ou seja, o Brasil ainda não resolveu os problemas típicos de uma sociedade jovem (como saneamento básico, educação básica, etc.) e vai ter que lidar com os problemas de uma sociedade superenvelhecida até os meados do século XXI. Para vencer tais desafios será necessária muita criatividade.
Referência:
Credit Suisse. Supertrends. 2017
https://www.credit-suisse.com/media/assets/microsite/docs/investment-outlook/booklet-supertrends-en.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/12/2017
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