Hermenêuticas do meio ambiente, Parte 3/3 (Final), artigo de Roberto Naime
Hermenêuticas do meio ambiente, Parte 3/3 (Final), artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Entender os problemas ambientais é compreender a história da humanidade sobre este planeta, e em como se utilizam seus recursos há milênios, para manter o desenvolvimento da sociedade. Porém, ainda não se consegue mudar a percepção consumista e devastadora sobre a Terra, para uma percepção de bem comum, de mantenedora da vida, de lar e de entidade vital (LOVELOCK, 2006; TANNER, 1978).
A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade. Aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda. O consumismo precisa ser substituído pela ideia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.
Os problemas ambientais são todos os danos que ocorrem ao meio ambiente de forma direta ou indireta, o que acarreta desequilíbrio ecológico no meio biótico e abióticos. (GRISI, 2001, p. 15 e 35).
Estes problemas tiveram início, há aproximadamente 1,7 milhões de anos, com o surgimento do “Homo erectus”, considerado por OLIVEIRA (1998), como o primeiro homem de verdade. Nesta época, havia uma vivência de igualdade de relações intrínsecas com o meio ambiente e dele era extraído apenas o essencial para a sobrevivência das comunidades.
Até o momento em que o ser humano deixa de ser coautor do meio ambiente, é que começa a haver uma exploração sem consciência. Isto ocorreu por volta de 20 mil anos atrás, onde a exploração já começava a mostrar sinais de modificações do ambiente natural.
Há cerca de 9 mil anos é que houve o início dos verdadeiros problemas ambientais, através do desenvolvimento das civilizações por todo o planeta (OLIVEIRA, 1998).
A causa disto é que o ser humano, por ser dotado de uma capacidade sem igual de evoluir social e culturalmente, influencia diretamente seu modo de vida e sua produção científica e tecnológica, já que se baseia na exploração da natureza, que ao longo dos milhares de anos, teve sua frágil estrutura abalada o que gerou uma crise ecológica sem precedentes (VERNIER, 1994).
Com o advento da modernização dos meios de produção industrial, as sociedades humanas ganharam um ritmo acelerado no seu desenvolvimento, aumentando também as necessidades pela utilização dos recursos naturais.
Imensas áreas verdes foram devastadas para darem lugar aos arranha-céus e as pavimentações de nossas vias de circulação, criando as grandes cidades (GUATTARI, 1990; DIAS, 1998).
É bem verdade que o homem soube explorar e utilizar os recursos da biosfera para viver melhor, mas desde o século XIX essa evolução tem proporcionado vantagens imediatas, sem considerar nem prever as consequências, a longo prazo, de tais atividades para o meio ambiente. A humanidade está tomando consciência da envergadura desses danos e destruições (BRASIL, 1997, p. 23).
Elas ocorrem local e esporadicamente, mas que afetam também outras regiões do planeta, já que ele é um ambiente em constante movimento e interação com todas as suas partes, como um grande organismo vivo.
A consequência deste modelo destrutivo e anti-ambiental (VERNIER, 1994) vem trazendo visíveis consequências ao planeta, sendo representados pelas modificações climáticas que se mostram a cada ano e que provocam diminuição de nossos recursos naturais como o caso evidente das fontes de água potável e dos solos férteis e aráveis (FELDMAN; MACEDO, 2001; SÃO PAULO, 1999).
Em poucos séculos, o modelo de desenvolvimento da humanidade irá destruir aquilo que se concebe como meio ambiente (DIAS, 1998; TANNER, 1978).
Das inúmeras espécies existentes na Terra, fora as que se extinguiram, e as centenas estão em vias de extinção, devido a uma taxa de desaparecimento acelerada ocasionado pelo próprio “Homo sapiens sapiens” que de sabedoria está deixando a desejar (SOUZA; GUERRA, 1999).
Esta alta taxa é devido a modificações bruscas nos ambientes do planeta, como reflexo das ações impensadas do homem, principalmente quanto aos desmatamentos e emissão de poluentes nos ambientes terrestres, aquáticos e aéreos.
O planeta Terra pulsa como um organismo, onde as diversas partes se comunicam e se mantém em íntimo contato, numa união frágil e vital. TANNER (1978) afirmava que Terra poderia ser vista como uma espaçonave, e que ela está rumando para o desconhecido e o seu destino é comandado pelo ser humano. É necessário começar a se responsabilizar pelos atos e responder pelos danos e repensar para evitar que estes e os próximos eventos possam ou não interferir no meio ambiente global (GUATTARI, 1990).
Como consequência, as peças que compõe esta frágil existência neste globo pulsante estão desde tempos sendo derrubadas, desfazendo sua estrutura numa velocidade assustadora. Há uma necessidade revitalizar a consciência humana, pois como espécie são hóspedes inóspitos, e devem ser mais sensíveis para exercer sua função dentro deste microcosmo que se chama Terra, a qual está inserida nesta imensidão chamada espaço sideral (CÓRDULA, 2010).
O meio ambiente está a algumas décadas enfrentando graves problemas causados pela ação sem consciência do ser humano. Estes problemas ambientais, vem crescendo e piorando, acarretando o chamado aquecimento global, que aumentará a temperatura da Terra, ano após ano.
Inúmeros são os problemas ambientais que afetam diretamente a vida da população mundial de seres humanos neste planeta. Toda esta problemática é causada pela ação antrópica sobre os recursos naturais, consumindo, esgotando e produzindo resíduos sólidos que desequilibram a frágil e complexa relação sistêmica que mantém a vida na Terra.
É eminente que o ser humano mude sua percepção quanto à vida, o planeta e em relação à sua função nesta realidade, para que se possa caminhar rumo a um modo de vida equilibrado e sustentável.
Caso contrário, se continua na estrada do rompimento das inter-relações existenciais e com a vida deste planeta.
Referências:
ABÍLIO, F. P.; GUERRA, R. A. T. Educação Ambiental na Escola Pública. João Pessoa: Gráfica Fox, 2006.
BRANCO, S. Educação Ambiental: metodologia e prática de ensino. Rio de Janeiro: Dunay, 2003.
BRASIL. Educação Ambiental: as grandes orientações de Tbilisi. Brasília: IBAMA/UNESCO, 1997.
CÓRDULA, E. B. de L. Educação Ambiental na Escola. Cabedelo, PB: EBLC, 2010.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998.
FELDMAN, F.; MACEDO, L. V. Mudanças climáticas: da ação local ao impacto global. In: BRASIL. Ciclo de Palestras sobre Meio Ambiente. Brasília: MEC, 2001, p. 37-40.
GRISI, B. M. Glossário de Ecologia. João Pessoa, PB: Ed. Universitária da UFPB, 2001.
GUATTARI, F. As Três Ecologias. Tradução de Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas, SP: Papirus, 1990.
GUERRA, R. A. T. O Meio (?) Ambiente. In: GUERRA, R. A. T. et al. [Orgs.]. Formação Continuada de Professores. João Pessoa, PB: Ed. Universitária da UFPB, 2007, p.59-80.
JOHNSON, A. G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Tradução Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
LIRA, L.; FERRAZ, V. Psicologia Ambiental: uma relação de equilíbrio entre o homem e a natureza. In: SEABRA, G. [Org.]. Educação Ambiental. João Pessoa, PB: Editora Universitária da UFPB, 2009, p.53-68.
LOVELOCK, J. A Vingança de Gaia. São Paulo: Intrínseca, 2006.
ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
OLIVEIRA, E. M. Educação Ambiental: uma possível abordagem. Brasília, DF: IBAMA, 1998.
SOUZA, A. K. Pereira et al. Conservar é Preciso. In: GUERRA, R. A. T. [Org.]. Educação Ambiental: textos de apoio. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 1999, p. 13-15.
SOUZA, A. K. P.; GUERRA, R. A. T. A Educação Ambiental e o Homem Civilizado. In: GUERRA, R. A. T. [Org.]. Educação Ambiental: textos de apoio. João Pessoa, PB: Editora Universitária da UFPB, 1999, p. 99-101.
SAUVÉ, L. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: uma análise complexa. Revista de Educação Pública, v. 6, n. 10, 1997, pp.72-102. Disponível em: Acesso em: 19 out. 2012.
TANNER, T. R. Educação Ambiental. Tradução George Schesinger. São Paulo: Summus, 1978.
VERNIER, J. O Meio Ambiente. 2ª ed. Tradução de Maria Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1994.
CÓRDULA, Eduardo Beltrão de Lucena e NASCIMENTO, Glória Cristina Cornélio do A HERMENÊUTICA DO MEIO AMBIENTE: CONCEPÇÕES, PERCEPÇÕES E PROBLEMAS. Educação Ambiental em ação, número 49, ano XIII
http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1848
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
* Nota da redação: sugerimos que leiam, também as partes anteriores desta série de artigos:
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/11/2017
[cite]
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.