Precisaremos de mais um planeta? artigo de Aroldo Cangussu
[EcoDebate] Voltando ao livro de Kevin Ashton, A História Secreta da Criatividade (Sextante, 2016) e a Thomas Malthus vamos refletir sobre o seguinte:
A população humana dobrou entre 1970 e 2010. Em 1970, as pessoas viviam em media até os 52 anos. Em 2010, até os 70 anos. Não somente somos o dobro de pessoas, cada qual vivendo um terço a mais: o consumo dos recursos naturais por parte de cada indivíduo está crescendo. A ingestão de alimentos era de oitocentas mil calorias por pessoa por ano em 1970 e mais de um milhão de calorias por ano em 2010. O consumo de água por pessoa por ano mais que dobrou de 1970 para 2010. Apesar do crescimento da internet e dos computadores e do declínio dos jornais e livros impressos, o uso de papel aumentou de 25 quilos por pessoa por ano em 1970 para 55 quilos em 2010.
Temos tecnologias mais eficientes energeticamente do que em 1970, mas também temos mais tecnologia, e uma parte maior do mundo tem acesso à eletricidade. Assim, enquanto usávamos 1.200 quilowatts-hora por pessoa por ano em 1970, utilizávamos 2.900 quilowatts-hora em 2010.
Essas mudanças são boas para os indivíduos nesse momento: elas indicam que um número maior de nós vive mais tempo, tem vida mais saudável com o suficiente para comer e beber e uma chance melhor de evitar ou sobreviver a doenças ou ferimentos. O mesmo provavelmente se aplica aos nossos filhos. Mas o consumo crescente significará uma crise para toda a nossa espécie num futuro próximo. O que cresce não é apenas o número de seres humanos e do consumo; a taxa de crescimento desses números também está aumentando. Estamos indo mais depressa e continuamos acelerando.
Nossos recursos naturais não podem crescer tão rápido quanto nossas necessidades. Se nada mudar, chegará o dia que nossa espécie vai pedir mais do que o planeta pode dar; a única incógnita é quando (acho que já chegamos lá!). Essas preocupações não são novas. Em 1798, um livro chamado Ensaio Sobre o Princípio da População foi publicado na Inglaterra. O autor, Thomas Malthus (escreveu sob pseudônimo), alertou sobre o possível desastre, dizendo exatamente assim:
“O poder de crescimento da população é maior que o poder da Terra de produzir meios de subsistência para o homem. A população, se não for controlada, cresce em progressão geométrica. A produção de alimentos aumenta apenas em progressão aritmética. Um pequeno conhecimento sobre números mostrará a enormidade do poder do primeiro em comparação com o segundo. De acordo com a lei da nossa natureza, que torna o alimento necessário para a vida do homem, os efeitos desses dois poderes desiguais devem ser equiparados. Isso implica uma contenção forte e constante da população diante da dificuldade de subsistência. Essa dificuldade deve ser sentida de modo severo por uma grande parcela da humanidade.”
Malthus estava certo com relação ao crescimento da população, mas estava errado com relação às consequências. Na época de Malthus – final do século dezoito – havia quase um bilhão de pessoas no mundo e a população dobrara em três séculos. Isso era alarmante para ele, mas no século vinte a população dobrou duas vezes mais, chegando a dois bilhões em 1925 e quatro bilhões em 1975. Hoje estamos chegando aos nove bilhões! Isso, segundo Malthus, deveria provocar uma enorme fome no mundo, mas na verdade a fome declinou no século XX. Excetuando a África, praticamente a fome foi erradicada no mundo, graças à tecnologia.
* Aroldo Cangussu, Colaborador do EcoDebate, é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/10/2017
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