Enriquecer antes de envelhecer, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O envelhecimento populacional é, ao mesmo tempo, uma conquista e um desafio. Conquista, pois a transição demográfica e o aumento da esperança de vida ao nascer possibilitam maior tempo de vida para as pessoas. Desafio, porque a alta proporção de idosos na população diminui a proporção da força de trabalho no conjunto da população e aumenta a carga da dependência demográfica.
Um país é considerado envelhecido quando o Índice de Envelhecimento (IE) ultrapassa a barreira simbólica de 100, isto é, quando o número de idosos (65 anos e mais) é maior do que o número de crianças e adolescentes (0-14 anos). As economias avançadas (ou países atualmente ricos) já podem ser considerados envelhecidos, conforme mostra o gráfico abaixo. As economias de renda média devem envelhecer depois de 2080 e os países mais pobres do mundo (como é o caso dos países da África Subsaariana), ainda com estrutura etária muito jovem, só vão chegar no envelhecimento (IE > 100) no século XXII.
É possível um país enriquecer depois de envelhecer? A resposta é não! Pelo menos não existe exemplo concreto de país que enriqueceu depois de envelhecer. Em todos os exemplos conhecidos o enriquecimento ocorreu antes do envelhecimento. Os dados empíricos reforçam essa relação. Todos os países ricos da atualidade – aqueles que tem elevado bem-estar da população e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) acima de 0,850 – conseguiram dar um salto expressivo na qualidade de vida de suas populações no decorrer da transição demográfica e após o aproveitamento da janela de oportunidade aberta pelo período em que a estrutura etária favorece a redução da razão de dependência (quando a percentagem de pessoas em idade ativa é maior do que a percentagem de pessoas em idade dependente).
A transição demográfica (passagem de altas para baixas taxas de mortalidade e natalidade) só acontece uma vez na história. Consequentemente, a mudança na estrutura etária também só acontece uma vez. A redução da razão de dependência demográfica acontece em apenas uma ocasião (somente uma) no desenvolvimento sociodemográfico de cada nação. Portanto, o bônus demográfico é um fenômeno ímpar e determinado no tempo. É o período em que a maior proporção de pessoas em idade ativa favorece o aumento das taxas de poupança e investimento, viabilizando a decolagem (“take off”) do desenvolvimento socioeconômico e do IDH.
O gráfico abaixo mostra que a Razão de Dependência dos países ricos estava em níveis baixos entre 1950 e 2010, período em que estes países deram um salto no desenvolvimento, possibilitando uma grande melhora no padrão de vida de suas populações. Os países de renda média vão ter a Razão de Dependência relativamente baixa até 2050 e os países mais pobres vão ter as menores Razões de Dependência na segunda metade do século XXI. Isto quer dizer que os países de renda média e renda baixa ainda podem colher os frutos oferecidos pelas condições demográficas favoráveis.
O gráfico abaixo mostra a renda per capita, em poder de paridade de compra (ppp), para regiões selecionadas, segundo dados do FMI. Nota-se que os países ricos já possuem uma renda per capita acima de US$ 40 mil desde 2010 e possuem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em torno de 0,900 (o máximo é 1). A América Latina e Caribe (ALC) tem renda em torno de US$ 15 mil e pode chegar a algo perto de US$ 20 mil na primeira metade da próxima década. Os países da Ásia emergente estão pouco atrás da ALC, mas apresentam uma curva de crescimento mais acentuada. Já os países da África Subsaariana apresentam renda per capita abaixo de US$ 5 mil (menos de 10% daquela dos países ricos).
Olhando as tendências de longo prazo, parece que a única região que está na direção do enriquecimento antes do envelhecimento é a Ásia emergente (particularmente a China e os novos “Tigres Asiáticos” – Malásia, Tailândia, etc.). A ALC e a África Subsaariana não estão no caminho da convergência e podem ficar presos, respectivamente, na armadilha da renda média e na armadilha da pobreza.
O Brasil corre um sério risco de envelhecer antes de enriquecer. A Razão de Dependência encontra-se em seu nível mais baixo neste quinquênio 2015-2020. Porém, a crise econômica está provocando o desperdício do bônus demográfico. A partir de 2020 a Razão de Dependência brasileira começa a subir e o país entrará para o clube dos países envelhecidos (IE > 100) em 2040.
Portanto, faltam poucos anos para o Brasil aproveitar as condições demográficas favoráveis e dar um salto no padrão de vida da sua população. O problema é que o tempo para mudança é curto e a nossa crise econômica e política é longa e profunda. Se nada for feito para alterar o cenário político e econômico, o país do futuro poderá ficar preso eternamente às condições do passado e a um padrão de vida muito aquém dos países considerados ricos.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/10/2017
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Prezados
Perfeita as considerações do articulista, mas incompleta, pois ele deveria mostrar qual é o caminho a ser seguido para enriquecer antes de envelhecer. Se quiserem saber qual é o caminho, basta me perguntar.
Como é possível que um País tão rico como o Brasil, não consiga dar a volta, ou será que o Brasil vive seis meses preparando o Carnaval e seis meses vivendo o Carnaval?! Com tamanha riqueza afinal não foi Portugal o causador de um não desenvolvimento sustentado do Brasil! O Brasil é dos paises mais ricos do Mundo. Para onde vai a riqueza?
´Como falar de enriquecimento, prezado JEDA, no século vindouro, se, desde a idade da pedra, a atividade humana tem sido – e continuará sendo – cada vez mais devastadora?
Até o final do presente século, prezado JEDA, como você sabe muito melhor do que eu, o grau de destruição do planeta Terra – incluindo todos os seus habitantes – será tão grande que se torna impossível, no presente momento, fazer qualquer previsão fundamentada do que restará.
Diante da realidade histórica exposta nos dois comentários que apresentei acima, outra coisa não pode ser senão um infinito delírio, não é prezado JADE?
Se 99,9% dos seus artigos têm valor imensurável, por serem extraídos da realidade, o cuidado para evitar produção trazida do mundo dos desejos deve ser maior ainda.
Desculpe-me Doutor JEDA se esses meus comentários lhe causaram algum desconforto. Não tenho essa pretensão. Abraços.