5 mentiras que os negacionistas contam, refutadas em ‘Negacionismo, esse Pinóquio Zombie’, por Prof. Alexandre Costa
5 mentiras que os negacionistas contam, refutadas em ‘Negacionismo, esse Pinóquio Zombie’, por Prof. Alexandre Costa
Como infelizmente temos assistido a um recrudescimento do negacionismo nas redes sociais, estamos tendo de dedicar um esforço extra para combater a patifaria desinformação disseminada, nociva em diversas dimensões:
1) deseduca, no sentido literal da palavra, pois repassa ao público leigo e especialmente à juventude em idade escolar noções falsas sobre o nosso mundo físico; 2) mina de forma totalmente irresponsável a credibilidade da ciência que, mesmo considerando seus limites e sua inserção no contexto social, econômico, etc., não pode ser negada como grande conquista humana; 3) ao negar a existência de um problema tão grave, que pode mesmo ser considerado o maior dilema civilizacional jamais posto diante da humanidade, sabota a consciência coletiva sobre a necessidade de incidir sobre ele de maneira urgente e resoluta.
Claro, mesmo sabendo da “Assimetria de Brandolini” (“a quantidade de energia necessária para refutar bobagens é uma ordem de magnitude maior do que para produzi-la”), não há saída mágica. Só informação pode dar conta de enfrentar o negacionismo, esse Pinóquio zombie que tanto mente compulsivamente como se recusa a assumir que está morto e apodrecido. Neste “post” selecionamos alguns dos mitos negacionistas que insistem em se levantar da tumba e cuja refutação apresentamos em nossa fanpage no Facebook.
Mentira Nº 01 – “O Aquecimento Global parou em 1998”
Um dos mitos incrivelmente mais persistentes do negacionismo climático é o de que “o aquecimento global parou em 1998”. Mas será que isso faz algum sentido?
Evidentemente que não, bastando olhar os dados, o que pode ser feito não apenas utilizando a base de dados da NOAA, como fizemos, mas a de qualquer outro instituto de pesquisa sério. Em primeiro lugar, 1998 é apenas o 8º ano mais quente do registro histórico e deve sair dos top ten até o final desta década. Os seguintes anos registraram temperaturas médias globais maiores que 1998: 2005, 2009, 2010, 2013 e a sequência de recordistas 2014, 2015 e 2016. Em segundo lugar, mesmo escolhendo 1998 como ponto final de um período de 19 anos (1980-1998) e como período inicial de outro (1998-2016), que seria uma situação que poderia mascarar o aquecimento global, o que os dados revelam? Uma simples regressão linear mostra que no primeiro período, terminando em 1998, a taxa de aquecimento foi de +0,15°C/década, e que no período seguinte, começando em 1998, foi de +0,17°C/década.
Importante: na verdade, em Climatologia normalmente usamos períodos de 30 anos para termos uma boa representação estatística. E quando consideramos 1957-1986 (aquecimento de +0,09°C/década) e 1987-2016 (aquecimento de +0,17°C/década), a aceleração do aquecimento global fica ainda mais nítida.
A origem do mito está no fato de que no período 1997-1998 ocorreu um grande El Niño, o maior do registro histórico, que não foi sequer superado pelo evento de 2015-2016. E é durante eventos de El Niño que o Oceano Pacífico despeja na atmosfera quantidades maiores do calor por ele acumulado (lembrando que os oceanos acumulam 93,4% do calor associado ao aquecimento global). Então por alguns anos, por conta desse “ponto fora da curva”, ficou a impressão de que o aquecimento global teria pelo menos tido uma “pausa” ou “hiato”, sendo que até alguns cientistas sérios se deixaram levar por essa ideia errada.
Importante alertar! Esse “zombie” pode voltar a qualquer momento, pois como é pouco provável que 2017 supere o recorde de temperatura do ano passado, o cadáver deve voltar rastejando dizendo “o aquecimento global parou em 2016″…
Mentira Nº 02 – “Os vulcões emitem muito mais CO₂ do que as atividades humanas”
Você já deve ter visto na internet alguém afirmando que o ser humano não poderia alterar o clima do planeta porque “os vulcões emitem muito mais CO₂”. E aí? Será que essa informação procede?
Fomos checar essa informação na literatura científica. Num artigo publicado na EOS (revista da American Geophysical Union) pelo cientista Terry Gerlach, do “Cascades Volcano Observatory”, do U.S. Geological Survey, o autor faz uma revisão das estimativas de emissões vulcânicas. Os resultados que ele encontrou são de estimativas de 0,18 a 0,44 bilhões de toneladas de CO₂/ano. Por sua vez, segundo dados do CDIAC (Carbon Dioxide Information Analysis Center) disponíveis em http://cdiac.ornl.gov/, as emissões humanas são de 9,855 bilhões de toneladas de carbono por ano, o que, fazendo o devido cálculo (multiplicando por 44 e dividindo por 12) nos dá mais de 36,1 bilhões de toneladas de CO₂/ano, somando a queima de petróleo, gás e carvão e a produção de cimento.
E isso não muda muito quando se tem uma grande erupção. O Pinatubo, segundo Gerlach et al 1996 (https://volcanoes.usgs.gov/vhp/gas.html), emitiu 42 milhões de toneladas de CO₂, o que na realidade é o que somente 8 termelétrica a carvão de potência em torno de 1000 MW emite em um ano.
Em resumo, a afirmativa é para lá de falsa! Haja nariz de Pinóquio para sustentá-lo. Não só os vulcões não emitem mais CO₂ que a humanidade como na verdade esta é que emite entre 82 e 200 vezes mais CO₂ do que todos os vulcões do planeta juntos, incluindo os submersos.
Mentira Nº 03 – “O CO₂ subiu, mas a temperatura não acompanhou”
* Análise originalmente publicada no blogue , do Prof. Alexandre Costa**
** Alexandre Araújo Costa – Sou Bacharel em Física pela Universidade Federal do Ceará (1992), Mestre em Física pela Universidade Federal do Ceará (1995), Doutor em Ciências Atmosféricas pela Colorado State University (2000), com Pós-Doutorado pela Universidade de Yale (2004-2005). Fui Gerente do Departamento de Meteorologia e Oceanografia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (2005-2008) e atualmente sou Professor Titular da Universidade Estadual do Ceará. Tenho atuado principalmente nos seguintes temas: Microfísica e Macrofísica de Nuvens, Modelagem Atmosférica, Climatologia Física, Mudanças Climáticas e Meteorologia Aplicada. Publiquei mais de 40 artigos em periódicos científicos com revisor e mais de uma centena de trabalhos completos em anais de eventos científicos. Sou Bolsista de Produtividade do CNPq, Nível 2 e integro o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/9171192196186603
Última atualização do currículo em 09/04/2016
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/08/2017
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Muitíssimo obrigada por este artigo! Vou divulgá-lo como puder.