EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Soltura de policiais acusados pelo massacre de trabalhadores rurais em Pau D’Arco cria clima de pavor no Pará

 

nota pública

 

“Por onde passei, tendo tudo em lei, plantei o nada.”
(D. Pedro Casaldáliga, Confissões do latifúndio)

 

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), através de sua Diretoria e Coordenação Nacional Executiva, repudia a soltura dos 13 policiais – 11 militares e dois civis – acusados pelo massacre de 10 trabalhadores rurais em Pau D’Arco, no Pará, ocorrido em 24 de maio de 2017. E manifesta preocupação com a vida das testemunhas, familiares das vítimas e advogados atuantes no caso. A continuidade das investigações passa a correr sério risco.

A prorrogação da prisão temporária foi surpreendentemente negada pelo juiz substituto Jun Kubota, enquanto o titular, que a decretou, está em férias. O crime hediondo, tal a desfaçatez de seus autores e as manifestações de apoio que recebeu de notórios ruralistas, revelou a existência de um esquema de favorecimento à grilagem de terras e cerceamento do direito dos camponeses e camponesas à terra, que não é novidade no sul do Pará. Esta decisão judicial de agora o confirma. Não foram consideradas relevantes as interferências já havidas nas investigações, como o assassinato de uma testemunha, o lavrador Rosenilton Pereira, três dias antes das prisões; as pressões sobre policiais que estavam em Pau D’Arco mas não participaram do crime; a vigília na porta da Polícia Federal em Redenção monitorando as pessoas que prestavam depoimentos. Com os policiais à solta, este tipo de interferência deve aumentar para levar o escabroso caso à impunidade. O clima na região já era de medo, agora é de pavor.

A CPT tornou público, hoje, em sua página na internet, um levantamento sobre os massacres havidos contra camponeses, desde 1985, quando iniciou o registro sistemático da violência no campo brasileiro. Nestes 32 anos, até o presente momento, foram 45 massacres, que vitimaram 214 pessoas em nove estados. Como esperado, o Pará lidera com 26 destes massacres (57%) e 125 vítimas (58%). A grande marca deles, a impunidade. Uma terrível história que, tudo indica, vai continuar. É o que, infelizmente, se presume pelas omissões e medidas tomadas pelas autoridades no âmbito dos Três Poderes, da União e de Estados. As tramas escusas, nos porões e à luz do dia, contra as maiorias empobrecidas e fragilizadas, para perpetuar o poder da minoria de sempre, nacional e internacional, que nunca se locupleta, angustiam ainda mais quem se pauta pela retidão e pela dignidade.

Ao lado destas pessoas e das entidades de Direitos Humanos, exigimos a federalização do caso de Pau D’Arco e recorremos à opinião pública internacional em apoio à exigência de Justiça e da paz no campo brasileiro. Aos camponeses, seus defensores e à CPT Pará todo o nosso apoio.

“Não perverterás o direito, não farás acepção de pessoas nem aceitarás suborno, pois a corrupção cega até os olhos dos sábios juízes, e prejudica a causa dos justos.” (Deuteronômio, capítulo 16, versículo 19).

Goiânia, 10 de agosto de 2017.

A Comissão Pastoral da Terra

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/08/2017

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.