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Artigo

Brasil só não está pior do que a Venezuela, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

renda per capita do Brasil, Costa Rica, Venezuela e do mundo: 1980-2020

 

[EcoDebate] O Brasil é o maior país em extensão e em população da América Latina e Caribe (ALC). É também a maior economia da região. O que acontece no país acaba influenciando a média do continente.

Entre 1980 e 2014 o Brasil tinha uma renda per capita superior à da ALC e superior à da média mundial, mas inferior à da Venezuela (país riquíssimo em reservas de petróleo). Em 1980, a renda per capita da Venezuela era de US$ 7,8 mil, do Brasil US$ 4,8 mil, da Costa Rica de US$ 3,4 mil, da ALC de US$ 4,6 mil e do mundo de US$ 2,9 mil, segundo dados em poder de paridade de compra (ppp), do FMI.

Em 2014, a renda per capita era de US$ 17,8 mil na Venezuela, de US$ 16,2 mil no Brasil, de US$ 15 mil na Costa Rica, de US$ 15 mil no mundo e de US$ 15,4 mil na ALC. Mas com a crise econômica que atingiu o Brasil e a Venezuela, estes dois países ficaram para trás. Em 2017, a renda per capita caiu para US$ 14,5 mil na Venezuela e para US$ 15 mil no Brasil. Enquanto isto, a renda per capita subiu para US$ 16,7 mil na Costa Rica, para US$ 16,5 mil no mundo e para US$ 15,5 mil na ALC. Portanto, o Brasil e a Venezuela viraram ancoras e agora estão abaixo da média da ALC e do mundo. As projeções do FMI para 2020 mostram que o declínio vai continuar e o Brasil só não está pior do que a Venezuela.

Enquanto isto, a Costa Rica, que é um país democrático e nunca passou pelos governos de orientação populista e neoextrativista, tem mantido um ritmo de crescimento constante da renda per capita, permanecendo no mesmo nível da renda per capita mundial. O interessante é que a Costa Rica não tem petróleo e resolveu eliminar o exército e é um dos países que mais investem no meio ambiente. A Costa Rica tem melhores indicadores sociais e um IDH maior do que o Brasil e a Venezuela.

Um outro indicador dos problemas brasileiros é oferecido pelo IMD (International Institute for Management Development) em parceria com a Fundação Dom Cabral, que mostra que, pelo sétimo ano seguido, o Brasil perdeu posições no ranking mundial de competitividade e, agora, só está à frente de Mongólia e Venezuela na lista de 63 países analisados, conforme mostra o gráfico abaixo.

 

ranking competitividade - evolução do Brasil

 

A queda ocorreu devido a piora no desempenho de indicadores econômicos, de infraestrutura e eficiência do governo, mas também na perda de confiança do pais. O fato é que a gestão Dilma-Temer gerou o pior octênio da história do crescimento econômico do Brasil, transformando o país em uma potência submergente, com graves retrocessos sociais e ambientais. Só ganham do desastre que tem sido a gestão de Nicolás Maduro na Venezuela.

Por ironia, o Brasil se tornou o maior produtor de petróleo da América Latina, segundo artigo de Marsílea Gombata (Valor, 21/06/17), pois o país superou a produção de petróleo na Venezuela e no México, em 2016, devendo se repetir em 2017.

 

produção de patróleo - México, Brasil e Venezuela

 

Mas nem isto tem ajudado muito ao Brasil, pois como o preço do petróleo caiu muito no mercado internacional, de cerca de US$ 100 o barril em 2014, para menos de US$ 50 entre 2015 e 2017, e como o custo da exploração das jazidas do pré-sal é muito elevado, a dependência dos combustíveis fósseis tem sido mais um fardo do que um benefício. Haja visto a situação falimentar do Estado do Rio de Janeiro, que jogou todas as suas fichas na produção do “ouro negro” e agora vive o pesadelo da crise fiscal, do caos social e do aumento da violência.

Embora Michel Temer tenha dito na reunião do G20 em Hamburgo que “não há crise econômica no Brasil”, na verdade, o país se tornou uma nação submergente e tende a ficar presa na “armadilha da renda média”. O povo brasileiro vive a mais longa e profunda recessão da história republicana. Já são 4 anos seguidos (de 2014 a 2017) de queda da renda per-capita. Fato inédito.

Matéria de Flávia Lima na Folha de São Paulo (02/07/2017) mostra que a taxa de poupança, que sempre foi baixa no Brasil, caiu de 18,6% em 2011 para 13,9% em 2016. E o baixo desempenho é agravado pela despoupança do governo (crise fiscal).

 

taxa de poupança da economia (em % do PIB)

 

Altos níveis de poupança são fundamentais para elevar as taxas de investimento, que são o motor da transformação da economia. Por exemplo, para fazer a transição na matriz energética – de combustíveis fósseis para energia renovável – é preciso altas taxas de investimento. Também para se alcançar o pleno emprego e o trabalho decente é preciso aumentar a taxa de inversão. A taxa de investimento na Nova República (desde 1985) tem sido baixa. Mas, miseravelmente, caiu de 21,8% do PIB em 2011 para 15,4% em 2016. A queda do investimento público é assustadora. Neste patamar não haverá recuperação econômica e o Brasil vai continuar com seus milhões de cidadãos e cidadãs sem emprego adequado e sem as condições de cidadania para transformar o país em uma nação com bem-estar social e com respeito ao meio ambiente.

 

investimento do setor privado

 

O tempo para o Brasil aproveitar os últimos anos do bônus demográfico está se esgotando. O país pode perde uma chance histórica, ficando sem qualquer chance de se tornar uma nação próspera. É preciso virar a página ou ficar atolado para sempre na mediocridade.

Brasil e Venezuela estão em crise econômica e política. Os governos Nicolás Maduro e Michel Temer não possuem apoio popular e nem possuem capacidade de retirar os seus países da bagunça em que estão mergulhados. Maduro está podre e Temer está caindo de maduro. Quanto mais tempo esses governantes ilegítimos se mantiverem no poder, pior será para as respectivas nações.

Talvez, o Brasil esteja em situação melhor, pois, enquanto, Nicolás Maduro tenta perpetuar seu autoritário e ineficiente regime, com certeza, Michel Temer pode cair nos próximos dias ou no máximo em alguns meses.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/07/2017

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