Papel da organização social e ambiental nos assentamentos rurais, Parte 2/3, artigo de Roberto Naime
Papel da organização social e ambiental nos assentamentos rurais, Parte 2/3, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Álvaro Antônio Xavier de Andrade, Diego Camelo Moreira e Roseni Aparecida de Moura prosseguem sua reflexão sobre formas de organização social e ambiental em assentamentos.
A criação de uma organização começa da iniciativa de um grupo de pessoas que resolve associar-se para determinado propósito. No caso dos assentamentos, a constituição da associação faz-se necessária até mesmo para facilitar o processo de negociação com os públicos, tendo em vista toda a infraestrutura que deverá ser implantada na área.
A importância de se criar as associações e as cooperativas de forma que envolva todos os assentados é que as famílias podem participar de forma mais consciente nas decisões que envolvam o projeto de assentamento.
Além disso, essas organizações são de grande importância na comercialização da produção das famílias, que, conjuntamente, podem conseguir um retorno maior da venda de seus produtos.
Para aumentar a produtividade, os recursos naturais, ao longo dos anos, vêm sendo cada vez mais explorados sem a devida precaução, gerando graves impactos ambientais, tais como: desmatamentos, degradação dos solos; assoreamento de rios, riachos e lagoas; diminuição e poluição dos recursos hídricos, entre outros. tudo gerado pelo manejo inadequado utilizado por alguns produtores.
O desenvolvimento sustentável da agropecuária, é aquele que garante a manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade, mínimo de impacto adverso aos produtores, retorno adequado aos investimentos otimização da produção com mínimo de insumos externos, satisfação das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais e satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda.
Nem sempre é este cenário que se observa nos assentamentos. E tudo vai depender da organização social e ambiental prévia que define o funcionamento operacional.
Os desmatamentos para implantação das atividades agropastoris causam a destruição dos ecossistemas naturais. São comuns os desmatamentos em áreas proibidas, sejam áreas de nascentes, de encostas, mata ciliar, topos de morro, etc. Vários são os casos de nascentes que secam, de rios que deixam de correr ou têm sua vazão diminuída devido aos desmatamentos irregulares.
O uso intensivo das queimadas para implantação das roças provoca enfraquecimento dos solos e contribui para a emissão de gases do efeito estufa, além de algumas vezes infringir a legislação ambiental vigente no país. As baixas produtividades incentivam os produtores ao aumento da área utilizada, gerando novos desmatamentos sobre a vegetação nativa, assim, destroem ou reduzem o número de várias espécies da fauna e da flora.
O processo erosivo provoca a degradação dos solos, principalmente da sua camada superficial, que é mais fértil, aumentando, assim, a necessidade da utilização de adubos químicos, que pode vir a poluir os lençóis freáticos. A contaminação por agroquímicos é uma constante nas propriedades agrícolas e produzem impactos sobre a saúde humana, poluindo as águas, o solo e o ar, prejudicando a flora e fauna.
Existe a intensificação do uso de agroquímicos, fertilizantes e água, sem os devidos cuidados com rochas, solos, águas superficiais ou subterrâneas. Os agroquímicos contaminando as águas superficiais e subterrâneas e podem prejudicar a fauna silvestre, a flora nativa e ameaça a sua qualidade para o consumo humano.
O uso descontrolado de nitratos e fosfatos como fertilizantes produz muita solubilização destes nutrientes na água. Resíduos orgânicos de estercos animais e efluentes de silagem, somado aos fertilizantes contribuem para o crescimento de algas nas superfícies das águas num fenômeno conhecido por eutrofização, provocando a diminuição da oxigenação das águas e a morte de peixes.
Também o controle da erosão do solo deve ser feito visando à conservação ambiental e o aumento da produtividade das pastagens e culturas. Segundo PANACHUKI et al. (2003), o sucesso de uma exploração agropecuária equilibrada depende, em grande parte, da investigação e controle dos aspectos referentes aos agentes causadores da erosão, como as chuvas e certos atributos do solo que, pela ação antrópica, podem favorecer ou dificultar o processo erosivo.
As queimadas fazem parte do processo rudimentar para a formação de novas áreas a serem cultivadas. O fogo é utilizado para limpeza e preparo do terreno e para controlar o desenvolvimento de plantas invasoras, no caso de pastagens.
Geralmente, as queimadas são realizadas no final da estação seca, exatamente quando a vegetação está mais vulnerável ao fogo. Com isso, as cinzas produzidas podem funcionar como fertilizantes, mas na realidade produzem grande impacto, pois os micro-organismos existentes no solo podem não suportar o aumento da temperatura. A sua morte pode empobrecer o solo, que fica improdutivo.
Esse procedimento traz ainda consequências no clima e no ciclo das águas. Os pastos e as lavouras absorvem menos energia solar do que a vegetação original e podem contribuir para uma redução de chuvas e aumento de temperatura da região.
A cada diz que passa, os produtores estão mais conscientes das barreiras ambientais de responsabilidade social que vão ter que enfrentar cada vez mais intensamente para colocação de seus produtos no mercado. Isto vale também e intensamente para a agricultura familiar e os assentamentos.
Referências:
Formas de garantir água nas secas/ Embrapa Semi-Árido. – Brasilia, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. 49p.: Il. – (ABC da Agricultura Familiar, 13).
GONÇALVES, Carlos Walter. Os (des)caminhos do meio ambiente/ Carlos Walter Porto Gonçalves, 2ª Ed., São Paulo: Contexto, 1990.
PANACHUKI, Elói. Infiltração de água no solo e erosão hídrica, sob chuva simulada, em sistema de integração agricultura-pecuária. (dissertação) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Campus de Dourados Programa de Pós-graduação em Agronomia, 2003.
RIBEIRO, Manoel Bomfim. A Potencialidade do Semiárido Brasileiro. Fubrás 2007.
VICENZI, Edna Hoppe – Proposta de manejo sustentável na bovinocultura: “O caso da Fazenda Confidência”, Cotejipe/BA/ Edna Hoppe Vicenzi – Barreiras: UNYAHNA, 2004. Monografia (Pós-Graduação em Gestão Ambiental)
https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/scripts/verArtigo.php?codigo=31&acao=exibir
Nota da Redação: Sugerimos que leiam, também, a parte anterior deste artigo, clicando no link abaixo
Papel da organização social e ambiental nos assentamentos rurais, Parte 1/3
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/07/2017
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