A nova ordem mundial: o G7 é minoria no G20, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A cúpula do G20 que se reúne em Hamburgo, na Alemanha, nesse início de julho de 2017, trará não somente um confronto entre a anfitriã Angela Merkel e Donald Trump, mas também a presença de Xi Jinping e seu projeto “Um cinturão, uma rota”, o encontro Trump-Putin, além de uma agenda difícil e cheia de confrontos nas visões sobre a economia, os direitos humanos e as questões ambientais, como o Acordo de Paris, etc.
O grupo das vinte maiores economias do mundo, o G20, é formado por 19 países mais a União Europeia. O grupo surgiu por ocasião da última grande crise econômica financeira de 2008, quando os países ricos foram os vilões da recessão e já não davam conta de direcionar a governança global e dar um rumo para o desenvolvimento global. O G20 inclui o G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) e mais 12 países: China, Índia, Rússia, Indonésia, Brasil, México, Turquia, Coreia do Sul, Arábia Saudita, Austrália, Argentina e África do Sul.
O gráfico acima, com dados do FMI, medido em paridade de poder de compra (ppp), mostra que a soma do PIB dos países do G7 representava mais de 50% do PIB mundial na década de 1980 e caiu para 30,6% em 2017, enquanto a soma do PIB dos outros 12 países do G20 representava cerca de um quarto (25%) do PIB mundial na década de 1980 e subiu para 42,9% em 2017 (os dados da Rússia são a partir de 1992).
O PIB do G7 foi ultrapassado pelo PIB do G12 em 2009 e o FMI projeta que em 2022, que a soma dos países que compõem o G7 será de 28% da economia internacional, contra 46% dos outros 12 países (chamados de emergentes). Os grandes destaques do G20 são China e Índia que juntas (Chíndia) já representam 25% do PIB mundial e terão uma economia maior do que a economia do G7 em 2022 (em ppp).
A tabela abaixo mostra, para o ano de 2017, a população, o PIB e o PIB per capita dos 19 países do G20 e a soma do G7 (antigos países mais ricos) e o G12 (os demais países do G20 que não fazem parte do G7, sem contar a União Europeia). Nota-se que a China, com população de 1,4 bilhão de habitantes e um PIB de US$ 23,2 trilhões (em ppp) é não só o país mais populoso, mas também a maior economia do mundo, superando os EUA que tem população de 324,5 milhões de habitantes e PIB de 19,4 trilhões (em ppp), em 2017.
A Índia é o segundo país em termos de população, com 1,34 bilhão de habitantes (e vai ultrapassar a China até 2025) e um PIB de US$ 9,5 trilhões. O Brasil é o quinto país em termos de população e o oitavo país em tamanho da economia. A África do Sul – único país africano no G20 – tem o menor PIB, de US$ 761,9 bilhões e uma população de 56,7 milhões de habitantes. Além do Brasil, os outros países latino-americanos no G20 são o México e a Argentina.
As três maiores rendas per capita, em 2017, são dos EUA (US$ 59,6 mil), Arábia Saudita (US$ 55,5 mil) e Austrália (US$ 50,8 mil). As menores são Índia (US$ 7,2 mil), Indonésia (US$ 7,2 mil), África do Sul (US$ 7,2 mil) e o Brasil (US$ 15,55 mil). Em termos de renda per capita o Brasil está entre os países mais pobres do G20.
O G7 tem uma população em conjunto de 761,2 milhões de habitantes, representando 10% da população mundial, um PIB de US$ 38,8 trilhões, representando 30,6% da economia mundial e uma renda per capita de US$ 51 mil (quase 3 vezes a renda média mundial).
O G12 tem uma população em conjunto de 3,8 bilhões de habitantes, representando metade da população mundial, um PIB de US$ 54,3 trilhões, representando 42,9% da economia mundial e uma renda per capita de US$ 14,4 mil (abaixo da renda média mundial, devido, especialmente, ao peso da Índia).
O G19 (G20 menos a União Europeia) tem uma população em conjunto de 4,5 bilhões de habitantes, representando 60% da população mundial, um PIB de US$ 93,1 trilhões, representando 73,5% da economia mundial e uma renda per capita de US$ 20,5 mil (maior do que a renda média mundial).
Embora o G20 (com seus 19 países) seja bastante representativo da população e da economia mundial, alguns países bastante populosos ficaram de fora do grupo, como Paquistão (197 milhões de habitantes), Nigéria (197 milhões de habitantes), Bangladesh (165 milhões), Etiópia (105 habitantes), Filipinas (197 milhões), Egito (98 milhões), Vietnã (96 milhões), República do Congo (82 milhões) e Irã (81 milhões de habitantes). Estes 9 países possuem uma população em 2017, que somadas, dão um montante de 1,12 bilhão de habitantes. Alguns países como Irã, Nigéria e Paquistão tinham PIBs (em ppp) maiores que os da Argentina e África do Sul e, teoricamente, deveriam participar de um G20 ampliado. Mas há restrições políticas, especialmente no caso do Irã.
O G20 é um grupo muito poderoso da economia internacional, mas a cúpula de julho de 2017 deve ser marcada pelo confronto gerado pelo isolacionismo de Donald Trump e suas posições contra a migração, as políticas humanitárias e contra o meio ambiente. Na reunião do G7, em maio, na Itália, já houve um choque entre o Presidente norte-americano e os seus parceiros ocidentais. Isto pode se repetir em Hamburgo, agravado pelas críticas da Índia e da China.
O PIB dos EUA representava 30% do PIB do G19 em 1980 e caiu para 20% em 2017. Ou seja, os EUA estão em declínio e o presidente Trump está acelerando o processo de desimportância e apequenamento do país no cenário internacional. O Oriente e o “Sul global” estão tendo cada vez mais peso no cenário internacional, fato que vai contribuir para o enfraquecimento das políticas propostas pelos EUA. Existe um grande endividamento na economia internacional e uma nova crise de grandes proporções não está descartada. Tudo isso se agrava no momento em que o presidente do partido republicano dos EUA está desorganizando a governança internacional construída desde o fim da Segunda Guerra e não tem claro o que colocar no lugar.
Embora o Brasil não seja uma nação que dá o tom do G20, a ausência do presidente Michel Temer da reunião de 6 e 7 de julho é um triste sinal da situação do país e reflete o grau de aprofundamento da crise econômica e política do maior país da América Latina. O presidente brasileiro abdica de representar o país no principal fórum internacional criado para substituir o G7 na liderança global. A cadeira vazia é um símbolo do esvaziamento da importância brasileira no cenário internacional, pois o Brasil virou um país submergente.
Mas o assunto que vai polarizar o encontro são as mudanças climáticas, evento que pode desencadear o maior retrocesso no processo civilizatório. Um grupo de especialistas e cientistas que estudam o aquecimento global, publicaram na revista científica Nature, um plano para manter as emissões de gases de efeito estufa sob controle nos próximos três anos. Batizado de “Missão 2020”, o documento traça metas de emissão de gases para seis setores da economia: energia, infraestrutura, transporte, uso da terra, indústria e finanças. Caso as emissões continuem a subir além dessa data, os objetivos do Acordo de Paris tornam-se praticamente inalcançáveis (OC, 28/06/2017).
Administrar o chamado “Orçamento Carbono” é a principal missão do encontro do G20, a primeira reunião dos líderes das principais economias do mundo depois que Donald Trump fez o anúncio da retirada dos EUA do Acordo de Paris. Se as maiores economias do mundo não conseguirem dar um bom rumo para a governança global, vai crescer a sensação de desgoverno, retrocesso e colapso. Pensando nessa possibilidade, há protestos agendados para os dias 7 e 8 de julho e dezenas de milhares de pessoas foram para as ruas de Hamburgo, no dia 02 de julho, protestando contra a Cúpula do G20 e os rumos da economia internacional.
Referência:
ALVES, JED. RIC (Rússia, Índia e China): o triângulo estratégico que pode mudar a governança mundial, Ecodebate, RJ, 26/04/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/04/26/ric-russia-india-e-china-o-triangulo-estrategico-que-pode-mudar-governanca-mundial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
VICÁRIA, Luciana. Humanidade tem só mais três anos para salvar o planeta, diz grupo, OC, 28/06/2017
http://www.observatoriodoclima.eco.br/humanidade-tem-mais-tres-anos-para-salvar-o-planeta-diz-grupo/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/07/2017
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