Projeto Ecossistemas Costeiros, do Instituto de Biociências (IB) da USP, leva jovens para interagir e preservar reservas ambientais
Ecossistemas Costeiros completa 20 anos de educação ambiental para alunos da rede pública e formação de monitores
Por Larissa Lopes, do Jornal da USP
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O brilho nos olhos das crianças é o que mais cativa Camila Lopes Lira, aluna do 4º ano de Biologia do Instituto de Biociências (IB) da USP e coordenadora de atividades do Projeto Ecossistemas Costeiros. “O contato com os alunos é incrível. Eles fazem perguntas, questionam, participam das atividades e demonstram entusiasmo. Você consegue observar o quanto eles aprendem, e não é só pelo conteúdo em si, mas pela oportunidade de estar em contato com a natureza, interagindo com o grupo da trilha, ouvindo diferentes pontos de vista.”
Camila participa do projeto de pesquisa e extensão desde 2014, um ano de transição na história do programa, que foi criado em 1997 pelo professor Flávio Augusto de Souza Berchez, do IB, em parceria com o Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec) da USP.
A partir de 2015, o projeto deixou de dividir suas atividades entre escolas e turistas e passou a se dedicar inteiramente à educação ambiental voltada para o ensino fundamental e médio da rede pública. “Temos que enfatizar, especialmente aqui dentro da USP, a importância de ajudar o ensino público, que é muito deficitário no Brasil”, pontua Berchez.
Plantando novas ideias
Hoje, o Projeto Ecossistemas Costeiros desenvolve atividades em unidades de conservação da Mata Atlântica, principalmente na região de litoral do Estado de São Paulo. A ideia é preservar os ambientes costeiros a partir da integração com a população que ali vive. Por meio da educação ambiental, os monitores trabalham com professores e alunos da rede básica de ensino, apresentando informações teóricas e organizando trilhas terrestres.
Todo o trabalho de orientação é feito por universitários da USP e da Fundação Florestal do Estado. Eles passam por formação para serem monitores ambientais com foco para biologia, química, ciências e integração entre ser humano e natureza, dentro de um enfoque ecológico, histórico-social e médico.
Além de ser um projeto de extensão, o Ecossistemas Costeiros já produziu mais de 40 pesquisas sobre educação ambiental. Estudos realizados por cientistas da USP também são usados como conteúdo durante o treinamento.
No início de cada ano, a equipe do Ecossistemas Costeiros entra em contato com escolas de São Paulo, Ubatuba e Peruíbe para agendar treinamentos sobre educação ambiental com professores de todas as áreas.
“Quando pensamos em educação ambiental, lembramos primeiro do professor de biologia, mas o professor de filosofia também tem muito a acrescentar sobre o assunto. Ele pode trabalhar as bases filosóficas e éticas do por que preservar, por exemplo, e como a educação ambiental é transversal, transdisciplinar. Está tudo integrado”, explica Berchez.
Após a capacitação, os professores repassam o conteúdo aos alunos durante as aulas e, juntos, participam de trilhas monitoradas pelos membros do projeto nas unidades de conservação de suas cidades.
Um conceito fundamental para o Ecossistemas Costeiros é a educação outdoor, na qual o aluno sai da sala de aula e aprende experimentando, em contato com o objeto de estudo. Além disso, o aprendizado deve ser contextualizado, então, ao percorrer as trilhas da Mata Atlântica, os monitores ensinam assuntos de acordo com o currículo de cada turma, abordando temas como o ciclo do carbono e a fotossíntese.
Colhendo frutos
No final desse processo, os alunos produzem vídeos sobre temas como mudanças climáticas, Mata Atlântica e cidades globais. Os melhores trabalhos são premiados em uma cerimônia anual no Parque Cientec, com a presença de todos os membros do projeto e escolas participantes.
Em 2016, nove escolas participaram do programa, beneficiando mais de 2.300 alunos e professores.
No ano passado, Camila recebeu menção honrosa como coordenadora regional de trilhas sobre mudanças climáticas. A coordenação é o nível intermediário do projeto, no qual a pessoa já passou pela monitoria e está se preparando para se tornar instrutora.
Ao ser perguntada sobre como o projeto influencia a sua formação como bióloga, Camila corrige: como ser humano. “Tendo contato com a diversidade, as dificuldades e as diferentes realidades das pessoas, amadurecemos bastante. Eu sempre falo para os monitores que toda atividade é uma troca. Os alunos aprendem conosco e nós aprendemos muito com eles.”
Durante as atividades com os alunos, os monitores percebem que a extensão universitária é um importante instrumento para inspirar os jovens a seguirem com os estudos, mesmo com as carências de perspectiva do ensino público.
“As escolas possuem dificuldades básicas. Muitas vezes, elas não conseguem custear o transporte até as unidades de conservação onde são feitas as trilhas e os professores não têm tempo para fazer o treinamento”, diz Berchez. Por outro lado, o contato com escolas que participam há mais tempo do projeto é mais estável, e o programa chegou até a conseguir formar alguns “monitores mirins”.
Para agendar atividades com o Projeto Ecossistemas Costeiros, mande e-mail para fberchez@ib.usp.br. Mais informações: site http://www.ib.usp.br/ecosteiros2/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/06/2017
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