O panorama das mudanças religiosas na América Latina, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O panorama das mudanças religiosas na América Latina, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Quinhentos anos depois da chegada do catolicismo, com Cristóvão Colombo, em 1492, e com Pedro Álvarez Cabral, em 1500, a América Latina passa por uma grande transformação em seu panorama religioso. David Stoll, em livro publicado em 1990, já perguntava, de maneira um tanto quanto precoce e presciente, se a América Latina estava se tornando evangélica.
De fato, os dados ainda não indicavam uma transição religiosa na década de 1980. Contudo, já havia algumas indicações de mudanças no panorama religioso que foram ficando claras nas décadas seguintes. Havia um terremoto ocorrendo na estrutura religiosa latino-americana, pois, os católicos estavam em declínio, os evangélicos e os sem religião em ascensão e outras religiões também cresciam, tornando o continente mais plural e diversificado.
Trabalho de Somma et. al. (2017), usando dados da pesquisa do Latinobarómetro, traz um mapeamento do perfil religioso das populações adultas de dezessete países latino-americanos entre 1996 e 2013. Os autores consideram que o panorama religioso atual da região é altamente dinâmico e está se tornando cada vez mais plural na maioria dos países. As mudanças não só derivam do crescimento dos evangélicos, mas também do forte aumento dos indivíduos sem religião.
O país menos católico da América Latina é o Uruguai, que também tem a maior proporção de habitantes que se declaram sem religião. A transição religiosa no Uruguai acontece entre católicos e os sem religião, mostrando um país altamente secularizado. A quantidade de filiações evangélicas é muito pequena, perdendo, inclusive para as outras religiões não cristãs.
Os países com maiores percentuais de evangélicos são Guatemala e Honduras. Em seguida, aparecem El Salvador e Nicarágua. Estes quatro países são aqueles em que a mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos está mais adiantada.
Numa etapa intermediária da transição estão Chile, Brasil e Costa Rica, sendo que a proporção de católicos no Chile é menor do que no Brasil, mas tanto o Chile como a Costa Rica possuem maior proporção de pessoas que se declaram sem religião, enquanto no Brasil os evangélicos ocupam o segundo lugar.
Panamá, Bolívia, México, Argentina, Peru, Venezuela e Colômbia são países que estão numa etapa inicial da transição religiosa, pois a presença dos católicos, embora em queda relativa, ainda se encontra na faixa de 70 a 80%. Os dois países que apresentam as menores mudanças são Equador e Paraguai, onde os católicos continuam com mais de 80% das filiações religiosas, como pode ser visto na figura abaixo.
O que se conclui é que o monopólio católico na América Latina está se diluindo, enquanto cresce, em diferentes ritmos, os evangélicos (especialmente os pentecostais) e os sem religião, mostrando a força do processo de secularização na região.
Nunca houve tanta desafeição e tantas pessoas que se declaram sem religião.
O artigo de Somma et. al. (2017) mostra que a América Latina é um dos continentes que apresenta maior dinamismo no cenário religioso e onde há muito o que se debater nos temas da secularização e da competição religiosa. O quadro nacional é bastante diverso, mas o fato incontestável é que a competição entre igrejas e a apostasia vão definir o futuro religioso da América Latina.
Referências:
ALVES, JED. Uma projeção linear da transição religiosa no Brasil: 1991-2040, Ecodebate, 11/01/2017 https://www.ecodebate.com.br/2017/01/11/uma-projecao-linear-da-transicao-religiosa-no-brasil-1991-2040-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
STOLL, David. Is Latin America turning protestant? The politics of Evangelical Growth. University of California Press, 1990
http://pt.slideshare.net/EboBlack/amrica-latina-se-vuelve-protestante-david-stoll
Nicolas M. Somma, Matíuas A. Bargsted, Eduardo Valenzuela. Mapping religious change in Latin America, Latin American Politics and Society, 2017
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/laps.12013/full
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/06/2017
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O Capitalismo se alimenta da miséria dos miseráveis, isto é, dos que vivem na miséria, e tem como mais resistente suporte as religiões, independentemente das mudanças panorâmicas que elas apresentem.