Dificuldades da conscientização, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Para conscientizar, primeiro é necessário sensibilizar para a tomada de novos valores. Isto é de conhecimento de todo gestor, por mais primitivo que seja, sobre as dificuldades na conscientização. Analisar as apropriações da coerência sempre é muito complicado e difícil. Mas o que se deseja é demonstrar interferências ambientais de atitudes.
Ainda mais hoje em dia, quando marketing verde facilmente se transforma em “greenwashing” e boa parte dos procedimentos e atitudes sempre carregam muito simbolismo e representatividade, utilizados em formulações e polimentos de imagens institucionais.
William Gates é um ícone. Para além de gênio ou visionário. Não é intenção desta rápida dissertação, contestar qualquer fato quanto a isto. Todas as outras fundações que tem representatividade social extensiva pertencem a figuras quase mitologias. As fundações Rockfeller, Soros, Buffen e outras apresentam procedimentos análogos e similares aos da fundação Gates, então as observações são genéricas para todas as instituições.
Todas as fundações, tem retórica muito incisiva e de acordo com as visões do primeiro mundo, clamando pela realização de economia de baixo carbono. Mas parece que se materializam práticas e atitudes polêmicas. Parece mais fácil para estes agentes pensar que artifícios de geoengenharia podem, de forma isolada e fragmentada, impulsionar resoluções para a questão climática sem necessitar resolver as graves questões de equidade entre as nações.
Todas estas grandes fundações parecem estar envolvidas em cenários relativamente confusos, para não classificar como promíscuos. Interesses políticos se mesclam com interesses financeiros e imposições de imagens. Discernimentos ambientais prevalecem em determinados momentos, e conjunturas negociais parecem se impor em outras oportunidades.
Se é difícil para personagens do maior relevo intelectual praticarem atitudes que se possa atribuir a mais pura conscientização, imagine para as populações mais comuns. Por isto se fala nas dificuldades apresentadas pela conscientização.
Por isso, se compreende bem as contradições das práticas cotidianas. Mesmo com o posicionamento da Fundação de Bill e Melinda Gates de que o aquecimento global representa uma ameaça imediata séria e relevante, a instituição de caridade detém ao menos U$1.4 bilhão de investimentos nas companhias de combustível fóssil ou de hidrocarbonetos, que encabeçam a crise climática, estimulando acusações de caracterizar comportamentos hipócritas.
Não se acredita que sejam caracterizações de hipocrisias e sim emaranhados de redes e intrincadas relações como já comentado, e em molduras onde certamente faltam transparência e translucidez. Em tradução de Isabela Palhares, matérias jornalísticas registram grandes contradições entre os discursos e as práticas cotidianas. Isto ocorre em todas as instituições, e notadamente na fundação Gates, que atrai a atenção por ser a maior fundação de caridade e responsabilidade social do planeta.
O jornal Guardian, assim como o Welcome Trust, lançou uma campanha chamando a Fundação Bill e Melinda Gates, para “remover seus investimentos das 200 maiores companhias de combustível fóssil, e de quaisquer fundos agregados que incluam títulos públicos de combustível fóssil e também laços corporativos, no intervalo de cinco anos.”
A campanha é parte de uma iniciativa global pelo desinvestimento em combustível fóssil, estratégia para deslegitimar o financiamento das indústrias, que se acredita que encabeçam o aquecimento global. Em resposta a tais esforços, mais de 200 instituições já se comprometeram com o desinvestimento, desde faculdades e universidades até o Conselho Mundial de Igrejas e a Associação Médica Britânica. Universidades da África do Sul à Nova Zelândia também já aderiram à campanha.
“Esse desinvestimento significa alinhar nossas finanças com nossos valores e desafiar o poder político de uma indústria que ameaça indígenas, poluem nossa política e nos direcionam a uma catástrofe climática,” disse Adam Zuckerman, ativista ambiental e de direitos humanos do Amazon Watch.
Um estudo publicado ainda esse ano no jornal “Nature’, descobriu que, para combater o desastre climático, a maioria dos depósitos de combustíveis fóssil no planeta incluindo 92% do carvão dos EUA, todo gás e petróleo do Ártico, e a maioria das areias asfálticas do Canadá, devem continuar enterrados nas profundezas dos terrenos.
Mas o que seria principal e mais relevante é que as fundações já citadas pudessem buscar redefinições funcionais e se posicionarem em cenários mais transparentes e bem definidos.
Conciliando discursos com práticas e deixando de terem a pretensão de solucionar os desafios por conta própria, usando artifícios fragmentados para interferir em questões de profunda veiculação ecossistêmica.
E parando de conceber que sua bem sustentada operação financeira possa substituir as necessárias inter-relações políticas e possibilitar suplantar a cada vez mais evidente necessidade de equidade entre os povos e as nações, na busca permanente de equilíbrio ecossistêmico e homeostase planetária.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/05/2017
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