Cachoeirão da Chapada Diamantina, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] O parque nacional da Chapada Diamantina é uma unidade de conservação localizada a oeste do estado da Bahia. Está situada entre os municípios de Lençóis e Palmeiras no estado bahiano. A cachoeira da Fumaça, ou o conjunto de quedas de água numa parede de rochas sedimentares, também é conhecida por “Cachoeirão”. A denominação “Cachoeira da Fumaça” recebe este nome, porque devido a altura de aproximadamente 350 metros das quedas de água, em paredões com mais de 400 metros de altura, ocorre uma evaporação, que parece um esfumaçamento da paisagem, com a água sendo dispersada contra os paredões, pela ação dos ventos.
Os nativos não denominaram o sítio de “cachoeirão” por acaso. O total de quedas de água é de oito cachoeiras nos paredões, sendo duas as mais volumosas em termos de volumes de água. Mas todas contribuem para um cenário, onde durante as quedas de água, ocorre uma dispersão da água por ação dos ventos contra os paredões de rocha. É uma moldura que fica gravada e registrada na memória. Até a coloração da água ganha um novo matiz, favorecida pela transparência e pela translucidez, o líquido azulado ganha contornos de coloração avermelhada esmaecida, favorecido pela coloração das rochas sedimentares.
As molduras das paisagens naturais são adornadas por excêntricas e notáveis flores, típicas dos cerrados, com cores sempre brilhantes e quentes. A água de todas as cachoeiras, provêm de nascentes que brotam em veredas na parte superior dos penhascos. Estas são ainda consideradas as maiores quedas de água registradas no país. É notória a ação dos ventos em toda superfície descoberta dos paredões esculpidos no local, que tem características geográficas muito similares aos “canyons” ou gargantas que se materializam em paisagens.
Este é um dos recantos mais espetaculares da Chapada Diamantina, e seu acesso somente ocorre por trilhas e “picadas” através de matas e áreas totalmente nativas da região. É um momento grandioso de manifestação da natureza, que exibe toda sua exuberância e magnificência. A ação dos ventos favorece a dispersão de água para todas as direções dos paredões de rocha. O espetáculo é tão singular quanto as chuvas, que são raridades na região e se confundem com as colunas hidráulicas lançadas nos paredões de rocha.
Diante dos paredões, ocorre aquela sensação indescritível que se abate sobre as pessoas quando se sentem insignificantes diante da magnitude da natureza. Mas se sentir integrante do grandioso cenário emoldurado é gratificante e constitui experiência única. Na parte inferior, quedas de água sempre viram duchas e dá para arriscar um banho, que mesmo gelado é irresistível e até constitui experiência singular e bastante irresistível.
A Chapada Diamantina é mais conhecida pelas ocorrências de rochas calcáreas e cavernas com estalactites e estalagmites, além de intenso relevo kárstico com a presença de grutas, dolinas e outras ocorrências. A Chapada Diamantina se constitui na expressão de uma bacia orogênica que propicia acumulações de rochas sedimentares, além de químicas, clásticas de natureza pelítica e psamítica, com idades muito antigas, dos tempos pré-cambrianos, ainda próximos aos períodos arqueanos.
Além das precipitações químicas que ocorrem em algumas épocas e ambientes propícios, predominam na Chapada dos Guimarães, rochas argilíticas, folhelhos e siltitos junto a arenitos e conglomerados. Predominam características de ambientes estuarinos, depositados em regiões que rios deságuam em mares, e ocorrem ainda ambientes fluviais, onde os sedimentos mostram estruturas típicas de córregos e pequenos rios e ambientes vinculados a épocas de grandes glaciações, conexas a períodos de congelamento planetário. Existem ainda, ambientes aluviais muito antigos, representados por sedimentos já diagenizados, que simulam ambientes com enxurradas e rios antigos que produziam extensas bacias de inundações, onde havia intensa precipitação de sedimentos clásticos de granulometria fina.
Nas zonas de falhamento, ocorrem reativações tectônicas, caracterizadas pela presença de milonitos e blastomilonitos, que patrocinam também grandes preenchimentos de zonas de falha com quartzo leitoso e outros materiais. Os fenômenos tectônicos antigos registram ocorrência de zonas de subducção tectônica, cavalgamentos e sedimentações em “rifts valleys”, que são zonas distensivas associadas a efemérides de aberturas de oceanos antigos. Na Chapada dos Guimarães existem rochas com registro de idades superiores a 3 bilhões de anos.
A última efeméride geológica que atribuiu o atual formato apresentado pela Chapada Diamantina parece ser originada conectada com evento de distensão tectônica associada com a criação de um “rift valley”, vinculado à separação e dissociação do continente de Gondwana, ou seja da parte sul da Pangea, que foi uma grande massa continental existente no planeta.
Os fenômenos de metamorfismo as vezes encontrados na Chapada Diamantina sobre rochas sedimentares e ígneas vulcânicas, parecem terem sido patrocinados pelas alterações causadas pela geodinâmica ou tectônica de placas, gerados pela separação continental, ou também chamada de deriva continental ou “continental drifting” em inglês.
Mas não importa a derivação para preciosismos ou detalhes cientificistas, que são de domínio restrito e de difícil compreensão para leigos e a população em geral. Nada substitui a fantástica grandiosidade encontrada em várias partes da Chapada Diamantina, em especial a notável impressão gerada pelas vivências do monumental “cachoeirão” e sua indescritível exuberância.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/05/2017
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Bom dia! Caros confrades, o Cachoeirão está localizado no centro do Parque Nacional da Chapada Diamantina e está no município de Mucugê. A Cachoeira da Fumaça está ao norte do Parque Nacional da Chapada Diamantina e no município de Palmeiras. Só uma breve correção! Sou fã do ecodebate!
Caro Antônio Roque,
Agradecemos pelo apoio e pela correção, que torna mais precisa a informação.
Um abraço, da redação do EcoDebate