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Sabe o que pode te ajudar a dormir melhor? artigo de Antonio Carlos de Souza

 

Sono. Foto: Gabriel Renault / Flickr / CC
Sono. Foto: Gabriel Renault / Flickr / CC

 

[EcoDebate] É hora de dormir, mas quem disse que o sono chega? Você vira para um lado e para o outro, ajeita o travesseiro, vai até a janela tomar um vento, volta para a cama e nada de adormecer. A agonia é tanta que recorre ao velho conselho de contar carneirinhos, mas tudo sem sucesso! Estudos recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que essa dificuldade faz parte da realidade de 40% das pessoas, no mundo, que relatam não dormir como realmente gostariam.

O fundamental é descobrir a causa. Já pensou que pode ser o tipo do colchão, o estresse do dia a dia, os problemas emocionais ou patologias de natureza respiratória? Uma dessas possibilidades – ou todas elas – pode ser a origem, com certeza. Mas há ainda fatores um tanto curiosos. Por exemplo, e se alguém disser que o grande vilão pode ser o tipo da luz do ambiente? Seria essa uma explicação coerente para um problema de uma população que, cada vez mais, dorme menos?

Não é de hoje que estudiosos alertam para a interferência da luz artificial nas funções biológicas do ser humano. Em 2012, a European Commission divulgou um relatório no qual concluiu que a exposição a essa luz pode estar associada ao maior risco de doenças gastrointestinais, cardiovasculares e do sono. Isso por conta de uma alteração que ela provoca no relógio biológico (responsável por orientar o corpo sobre necessidades como repousar, acordar e comer) e no ritmo circadiano (do sono).

O centro da discussão é a melatonina, produzida pela glândula pineal, localizada no cérebro, reguladora do relógio biológico. Na prática, ela (substância) “diz” que está na hora de dormir ou na hora de acordar. Por isso, é chamada de hormônio do sono. E qual seria a ligação entre a melatonina e a luz? Você vai entender agora.

Este hormônio, como outros, é regulado pela exposição à luz natural. Isso explica porque, durante o dia, em situações normais, a pessoa fica alerta e com disposição para cumprir a rotina. Ao escurecer, a tendência é desacelerar. Mas será que o organismo seria capaz de diferenciar o natural do artificial? De forma alguma. A prova disso é que as lâmpadas, quando acesas, enganam o corpo, que passa a produzir menos melatonina e entende ainda não ser a hora de repousar.

Um cenário que preocupa pesquisadores, estudiosos e, como efeito cascata, tem levado a indústria a repensar os produtos disponibilizados no mercado. Nos Estados Unidos, fabricantes de lâmpadas, baseados em estudos que comprovam as alterações no organismo, têm desenvolvido lâmpadas que promovem a chamada iluminação inteligente, que busca acompanhar a rotina de cada um e não mexer na “engrenagem” humana.

Na prática, trata-se de uma linha que ilumina o ambiente, mas não inibe a produção de melatonina. O segredo, digamos assim, está no comprimento de onda de luz com tons menos azulados, o que promove o relaxamento e não altera o ritmo circadiano. O contrário também é feito, no intuito de ajudar aqueles que ainda precisam estar motivados a executar alguma tarefa antes de dormir.

Essa tendência vem acompanhada da facilidade de poder alterar as variações de temperatura por meio de smartphones. Isso porque as lâmpadas são ligadas a aplicativos que possibilitam a pessoa escolher se quer ficar “ligada” ou se prefere descansar e renovar as energias para o dia seguinte.

Não seria exagero algum dizer que essa mudança de comportamento significa uma revolução tecnológica não focada apenas em ofertar opções, mas sim corrigir o mecanismo que tem alterado o processo natural do corpo e comprometido a saúde das pessoas. Alterar o relógio biológico é um perigo. Muita gente pensa que dormir pode ser uma perda de tempo, em virtude do excesso de tarefas e compromissos a serem cumpridos. Não permitir que o corpo descanse e se recarregue pode parecer uma atitude inofensiva, mas, se repetida com frequência, pode resultar em doenças, inclusive as chamadas cardiovasculares.

Dr. Antonio Carlos de Souza é diretor técnico da Clínica Angiomedi, em Brasília. Atualmente, é membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, e atual vice-diretor de Defesa Profissional. É também membro da IVS (Independent Vascular Services) e professor do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília e coordenador do curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde, onde também foi docente.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 02/05/2017

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