Automutilação, suicídio e bullying: o que podemos aprender a Baleia Azul e 13 Reasons Why
Automutilação, suicídio e bullying: o que podemos aprender a Baleia Azul e 13 Reasons Why
Nas últimas semanas não se fala em outro assunto: o jogo da Baleia Azul e a série 13 Reasons Why. Em ambos uma coisa em comum: o suicídio de adolescentes. A BBC Brasil divulgou na semana passada dados que comprovam que o suicídio entre os jovens cresceu 27,2% entre 1980 e 2014. Portanto, a Baleia Azul e série da Netflix não podem ser julgados isoladamente pelas mortes dos jovens brasileiros. A problemática do suicídio é bem mais complexa.
Por mais revoltante que possa ser pensar que jovens perderam suas vidas “inspirados” ou “manipulados” por um jogo ou por uma série, podemos afirmar que a Baleia Azul e a 13 Reasons Why serviram para um despertar coletivo da sociedade sobre a necessidade de prestar mais atenção nos adolescentes, de ouvi-los verdadeiramente, de entender seus conflitos com um olhar mais atencioso e amoroso.
Para Thais Quaranta, psicóloga e neuropsicóloga, confundadora da NeuroKinder, virão outros jogos, outros filmes, outras séries. O que realmente precisa mudar é o comportamento em relação às crianças e aos adolescentes. “Todo ser humano tem necessidade de reconhecimento, de afeto e de atenção, incluindo os jovens. Enquanto os pais estiverem ocupados demais e não puderem entender a importância da presença na vida dos filhos, continuaremos a lidar com essas situações no cotidiano”, diz Thais.
“Muitos pais acreditam que a infância é a fase mais crítica e que quando os filhos crescem a atenção não é tão necessária. Isso é um equívoco. A adolescência é uma fase repleta de conflitos emocionais. Além disso, há mudanças fisiológicas importantes, como a perda de 30% dos receptores da dopamina, um neurotransmissor ligado à sensação de prazer e felicidade. Com isso, o adolescente pode ficar mais depressivo ou mal humorado. Sem contar que nessa fase a área do cérebro que controla os impulsos, planejamento de consequências e o pensamento de causa e efeito é pouco desenvolvida, levando o jovem a não prever os riscos envolvidos em certas situações”, explica Thais.
Os pais precisam ter em mente que são insubstituíveis na vida dos filhos. Isso é especialmente importante para casais que se separam. Não existe divórcio dos filhos. Outro ponto é que a internet tem “substituído” a presença dos pais e isso é muito prejudicial, principalmente porque não há controle sobre o conteúdo acessado.
Segundo Thais, há várias ameaças online, a Baleia Azul é apenas uma delas. “Quantos casos conhecemos de pedofilia online, por exemplo? Sem contar que para entrar em algumas redes sociais é preciso ter mais de 18 anos, portanto o que adolescentes estão fazendo no Facebook? Com quem eles falam? O que eles falam? Que tipo de site eles acessam? Quantas horas por dia eles ficam online?”.
“Hoje há um excesso de conectividade que pode, inclusive, levar o jovem à dependência da tecnologia. Esse abuso pode gerar isolamento social, que por sua vez pode levar à depressão. Portanto, como vemos, há urgência em rever o tipo de relacionamento dos pais com os filhos. É preciso sim exercer a autoridade para dar limites, para impor a disciplina. Isso é especialmente importante, por exemplo, para estabelecer regras de uso da internet, do celular”, diz Thais.
“Tudo é uma questão de bom senso. Na adolescência há um afastamento natural dos pais. Os pais precisam saber lidar com isso de forma respeitosa. Os limites devem ser colocados de forma afetuosa, não rígida demais. Os pais precisam também prestar atenção em mudanças de comportamento, como passar horas trancado no quarto, excesso ou falta de sono, excesso ou falta de apetite, mudança drástica na forma de se vestir, surgimento de amizades com pessoas mais velhas ou que tenham problemas com drogas ou álcool. Só é possível notar essas mudanças se os pais se dedicarem aos filhos com sua presença, afeto e atenção”, conclui Thais.
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Colaboração de Leda Sangiorgio e Danielle Menezes, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/04/2017
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