Teresina/Piauí: a capital mais católica do Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Como já repetido, o Brasil está passando por uma transição religiosa, com declínio das filiações católicas e aumento das filiações evangélicas, paralelamente ao aumento do percentual de outras religiões e do percentual de pessoas que se declaram sem religião (incluindo ateus e agnósticos).
No conjunto do território nacional, os católicos eram 73,6% em 2000 e passaram para 64,6% em 2010. No mesmo período, os evangélicos passaram de 15,4% para 22,2%. As outras religiões passaram de 3,7% para 5,2% e os sem religião passaram de 7,4% para 8%. Esse fenômeno acontece em todo o território nacional, mas com ritmos diferentes nas regiões, nos estados e nos municípios.
Em artigo anterior mostrei que a capital mais adiantada na transição religiosa é Rio Branco, no Acre. Nesse município, o percentual de católicos era de 61,5% em 2000 e caiu para 39,9% em 2010, uma queda impressionante (de 21,6%) em uma década. O percentual de evangélicos passou de 23,3%, em 2000, para 39,8% em 2010, subindo 16,5% em dez anos. Outras religiões e sem religião somavam 20,3% em 2010.
No outro espectro, Teresina/Piauí é a capital mais católica do Brasil. A tabela acima mostra que, para a população total, os católicos eram 86,1% em 2000 e tiveram uma pequena queda para 78,9% em 2010. Muito acima da média brasileira. Os evangélicos eram 8,3% e passaram para 13,3%. As outras religiões eram 2,2% e passaram para 3,2%. Os sem religião eram 3,4% em 2000 e passaram para 4,5% em 2010.
Para os jovens de 0-14 anos e para as mulheres os números dos católicos são um pouco menores, mas não na mesma proporção que ocorre no Brasil e suas regiões. Ou seja, Teresina se mostra uma cidade mais resistente ao avanço da transição religiosa.
Isto mostra que há locais em que os católicos conseguem manter suas filiações em grande proporção. Resta saber se o exemplo de Teresina será expandido, ou permanecerá como uma exceção.
Reportagem de Marco Grillo, no jornal O Globo (26/03/2016), mostra que, com todas as facilidades da legislação, o ritmo de expansão das igrejas é bastante acelerado desde o último censo, pois uma nova organização religiosa surge por hora no país. De janeiro de 2010 a fevereiro de 2017, 67.951 entidades se registraram na Receita Federal sob a rubrica de “organizações religiosas ou filosóficas”, uma média de 25 por dia. Ao levar em conta apenas os grupos novos, que não são filiais daqueles já existentes, o número é de 20 por dia, conforme mostra o gráfico abaixo.
Ainda segundo a reportagem, no Rio de Janeiro, dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), mostram que há 21.333 CNPJs ativos de organizações religiosas. De janeiro de 2010 a fevereiro deste ano, houve 9.670 registros. Contudo, o estado campeão no período foi São Paulo, com 17.052 novas organizações.
Entre as denominações que surgiram no Rio, estão movimentos como a Associação Ministerial Homens Corajosos; Associação Ministério Chris Duran; Associação Missionária Boneka – Semeando; Comunidade de Aliança Maria Rosa Mística; Comunidade Evangélica Alfa e Ômega; Assembleia de Deus Derrubando Muralhas em Irajá; Igreja Evangélica Pentecostal Porta Estreita; Igreja As Portas do Inferno Não Prevalecerão; Igreja Pentecostal Geração Eleita; Igreja Protestante Escatológica, etc. Nota-se, portanto, que a maioria das novas igrejas são evangélicas.
Isto significa que a oferta de serviços religiosos protestantes (especialmente pentecostais e neopentecostais) está crescendo exponencialmente e a teoria indica que o crescimento da oferta de serviços religiosos em áreas determinadas geralmente leva ao maior público atendendo aos cultos locais.
Portanto, se a Igreja Católica quiser manter o alto número de filiados apresentado em Teresina, assim como em todo o estado do Piauí, terá que se aproximar do povo e oferecer maior número de alternativas de serviços religiosos, o que implica abertura de templos pequenos perto das comunidades; rápida formação de padres; uso de rádio, jornal, televisão, Internet, etc. A conquista de fatias do mercado da fé é cada vez mais disputada no pluralismo do mercado religioso e sobreviverá quem for mais dinâmico e eficiente no convencimento e na fidelização dos devotos.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/04/2017
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