Processos de produção de alimentos e produtos podem reduzir reservas de água, alerta Instituto Akatu
ABr
As ações cotidianas para economizar água envolvem, geralmente, hábitos como diminuir o tempo no banho, fechar a torneira na hora de escovar os dentes ou usar um balde em vez da mangueira para lavar o carro ou a calçada. No entanto, grande parte da população desconhece a chamada água invisível, usada em processos como a produção de alimentos e até de celulares, e que pode reduzir ainda mais as reservas hídricas em tempos de crise de abastecimento.
Cada pessoa consome diariamente de 2 mil a 5 mil litros de água invisível contida nos alimentos, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgados esta semana pelo Instituto Akatu, para marcar o Dia Mundial da Água (22). Para chegar a esse volume, os pesquisadores analisaram toda a cadeia de produção de bens de consumo.
Uma única maçã, por exemplo, consome 125 litros de água para ser produzida, segundo a Waterfootprint, rede multidisciplinar de pesquisadores e empresas que estudam o consumo de água nos processos produtivos.
A pecuária também é responsável por um alto consumo de água. “Para cada quilo de carne bovina, são gastos mais de 15 mil litros de água. Essa quantidade se refere à água e alimentação utilizadas para o gado até que ele atinja a maturidade e também a tudo que é gasto no processo do frigorífico, como limpeza e resfriamento do ambiente”, informa o Instituto Akatu, organização não governamental que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente.
Essa água invisível não está somente na produção de alimentos. De acordo com pesquisa da Mind your Step, feita a pedido da Friends of the Earth, entidade de proteção do meio ambiente, a produção de um smartphone consome em torno de 12.760 litros de água – o equivalente ao volume transportado por um caminhão-pipa médio.
Para fazer uma calça jeans, são consumidos 10.850 litros de água durante toda a cadeia produtiva. O volume é suficiente para suprir o consumo de uma residência média no Brasil por mais de três meses, segundo a instituto. “Essa quantidade contabiliza desde a água gasta na irrigação do algodoeiro, material usado para fabricar o tecido, até a água da confecção da peça.”
Segundo a ONG, as empresas precisam melhorar os processos de produção para conseguir usar a água de forma mais eficiente. “Do ponto de vista empresarial, é preocupante ser dependente desse recurso que é cada dia mais escasso. E essa preocupação não deve ser só das empresas. As políticas públicas devem contribuir para evitar desperdício hídrico e garantir a preservação dos mananciais. E, além disso, cada pessoa e cada família pode fazer a sua parte buscando consumir apenas o necessário, evitando o desperdício desse recurso tão essencial”, destaca o presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar.
Dicas de economia
O Instituto Akatu elaborou algumas dicas que podem evitar o gasto excessivo da água invisível:
– Dê preferência aos itens duráveis em vez dos descartáveis;
– Faça o uso compartilhado de bens e serviços. Se possível, alugue-os temporariamente ou combine o uso comunitário, entre várias pessoas;
– Produtos concentrados, como de higiene ou limpeza, utilizam menos água em sua produção e transporte; por isso, devem ter preferência em relação aos produtos diluídos;
– Dê preferência aos alimentos produzidos próximos ao local onde você mora e compre aqueles que são da estação, pois isso fará com que durem mais e não haja desperdício;
– Aproveite cascas, sementes, talos e folhas de legumes, verduras e frutas. Essas partes, que muitas vezes são jogadas fora, têm nutrientes e podem ser aproveitadas em muitas receitas;
– Diminua o consumo de carne bovina, que exige muita água em sua produção. Você não precisa eliminá-la de sua dieta, mas pode consumi-la com menos frequência, substituindo-a por outras fontes de proteína – e assim diminuir o impacto negativo de sua produção no meio ambiente e, consequentemente, na vida das pessoas;
– Antes de fazer qualquer compra, reflita sobre a necessidade de adquirir um novo item. Pense se você não pode pegar o item emprestado, comprar o produto usado, ou fazer uma troca com outra pessoa;
– Promova uma feira de trocas com os amigos e parentes. Artigos como roupas, acessórios, bijuterias, livros, entre outros, podem ser reaproveitados e ganhar uma nova vida nas mãos de outra pessoa.
Por Camila Boehm, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/03/2017
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