Aquífero da Gurguéia, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] A região sul do estado do Piauí abriga uma das maiores reservas subterrâneas de água do planeta. Hospedado numa rocha descrita como um arenito conglomerático, situa-se o aquífero da Gurguéia, que tanta potencialidade tem para modificar os parâmetros civilizatórios da região, que insuflam até um movimento separatista existente no meio sul do estado do Piauí.
O aquífero da Gurguéia se encontra em boa porção confinado, gerando condição de artesianismo, ou seja, a água sob pressão jorra naturalmente poço tubular, sem necessitar extração ou elevação por atividade de bombeamento. No entanto, a situação atual ainda depreende um subaproveitamento das reservas de água potável e um desperdício na utilização dos poços, muito abundantes.
Todo sul do estado do Piauí, tem uma nova e grande perspectiva, após a identificação da existência de um aquífero, que transforma o estado nordestino quanto às possibilidades de contar com este valioso recurso da água, que pode promover desenvolvimento e justiça social, de uma forma ainda inimaginada na região. Mas para o planejamento das ações, são necessários estudos e caracterizações que possibilitem a realização desta perspectiva.
Atualmente, o desperdício de recursos hídricos no sul do Piauí, que manifesta a ausência do poder público, particularmente estadual, na questão do aproveitamento e utilização racional, sem desperdício, dos recursos hídricos. Um dos grandes exemplos, sempre utilizados, é o chamado poço Violeto, localizado no município de Alvorada do Gurguéia. O poço é um dos maiores do mundo e que é evidenciado pelos desperdícios, numa região rica em nascentes de água.
A carência de estudos e as dificuldades de obtenção de dados fidedignos, no vale do Rio Gurguéia, comprometem ações sistêmicas que poderiam beneficiar o sul do Piauí, uma região de elevado potencial de desenvolvimento. Em caráter mínimo, é preciso saber onde se dispõe de recursos hídricos, de quanto se dispõe e qual é a qualidade da água ofertada. Para que se possa disponibilizar usos da forma mais adequada e com o menor impacto ambiental possível aos ecossistemas locais.
O substrato geológico da bacia hidrográfica do rio Gurguéia, é formado por uma bacia constituída por rochas sedimentares, assentadas sobre embasamento cristalino pré-cambriano, possivelmente de idade paleozóica ou mesozóica.
As rochas que constituem os estratos caracterizados como aquíferos, são sedimentares clásticas, do tipo psamíticas, com grande capacidade de armazenamento e circulação de fluidos. São denominadas de Serra Grande, Cabeças e Poti-Piauí. As unidades litoestratigráficas das Formações Pimenteiras e Longa, que são compostas por sedimentos clásticos mais finos, e até mesmo argilosos, que exercem função de confinamento, estando sobrepostas às camadas de rochas sedimentares, que constituem os aquíferos. Esta situação, em adequadas situações geomorfológicas, confere artesianismo ao aquífero, permitindo saída de água por pressão gravitacional natural.
As características já descritas e observadas na região, de natureza geológica, conferem ao conjunto, atributos de elevado potencial hidrogeológico, particularmente para atividades de irrigação, que multiplicam o potencial agrícola e até pecuário. Existem centenas de poços tubulares jorrantes ou com artesianismo, que explotam águas provenientes do aquífero Serra Grande e também do aquífero Cabeças, com grandes vazões nominais.
A rede hidrológica de superfície da bacia hidrográfica do rio Gurguéia também apresenta boa disponibilidade hídrica, sendo constituída por cursos de água perenizados. Os rios denominados Correntes, Paraim, Curimatá e Contrato, são permanentes, exceto em períodos de grande estiagem.
Os aquíferos subterrâneos inspiram grande e complexo paradoxo, gerado por contradições estabelecidas no manejo e operação, mal fiscalizados e acompanhados em todos os aquíferos de todo o país. Ao mesmo tempo que, aquíferos subterrâneos são muito mais protegidos e dificultam contaminações diretas, o mau acabamento dos poços, sua ausência de vedação sanitária e outras causas, geram frequentes contaminações sanitárias ou por outras substâncias ainda mais graves, como defensivos agrícolas (herbicidas, pesticidas e fungicidas) variados, que utilizam a abertura do poço para atingir e contaminar localmente o aquífero em profundidade, com dinâmica de poluição ou de transmissão de elementos nocivos ou tóxicos que caracteriza, no mínimo situações locais.
Enquanto não existirem estruturas públicas devidamente equipadas para exercerem suas funções em nível de país, onde as variações são pequenas e absolutamente insignificantes, as águas subterrâneas de elevado potencial, nunca podem ser eleitas como matrizes de solução dos problemas de disponibilização de recursos hídricos, seja para abastecimento público ou para o atendimento de estratégias privadas.
Não é apenas no aquífero da Gurguéia que podem ocorrer desperdícios ou contaminações por ausência de estruturas públicas que possam normatizar e fiscalizar o uso adequado. Esta é uma realidade que atinge todos os aquíferos do país.
O desperdício de água subterrânea no vale do Gurguéia é fato divulgado e estrepitoso, de pleno domínio público. Mas infelizmente pode se afirmar com certeza, de que a criação de um novo estado no sul do Piauí, não resolverá problema algum e será nova e frustrante ilusão. São noticiados que desperdícios no uso do aquífero da Gurguéia tem causado rebaixamento nos níveis potenciométricos dos poços tubulares para aproveitamento de água, perfurados na região. Fatos como este são preocupantes porque denotam a esgotabilidade do uso dos recursos nestas condições, que definitivamente, não são sustentáveis.
A boa qualidade da água disponível nos aquíferos da Gurguéia, apresentada por exaustivos trabalhos que fizeram determinações físico-químicas nos recursos hídricos extraídos, não foram suficientes ainda para mobilizar as autoridades públicas para a importância da preservação do recurso natural para uso das presentes e das futuras gerações.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/03/2017
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Na foto ve-se o rio Gurgueia, para onde vai a agua saida dos pocos jorrantes.
Por ja estar captada, essa agua seria aproveitada com facilidade. Contudo, nao ha desperdicio. Ela vai para o rio Gurgueia.
Sei que é difícil Paulo Afonso…
Grande abs…
RNaime