A transição religiosa em ritmo acelerado no Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A transição religiosa em ritmo acelerado no Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O Instituto Datafolha tem feito pesquisas sobre o perfil religioso da população brasileira. O que estas pesquisas confirmam é aquilo que os censos demográficos mostram com bastante clareza: o Brasil está passando por uma transição religiosa.
Os católicos perdem espaço e encolhem ao longo do tempo. Os evangélicos, em suas diferentes denominações, são o grupo que mais cresce. Aumenta as demais denominações não cristãs e o número de pessoas que se declaram sem religião.
Isto quer dizer que o Brasil está passando por uma mudança de hegemonia entre os dois grupos cristãos (católicos e evangélicos), ao mesmo tempo em que aumenta a pluralidade religiosa, pois cresce e diversifica a proporção das filiações não cristãs.
Diferentemente do censo demográfico que faz uma representação probabilística das filiações religiosas, a pesquisa Datafolha não tem uma amostra probabilística e não representada necessariamente o conjunto da população brasileira segundo suas características religiosas. Por conta disto, não é correto comparar os dados da pesquisa Datafolha, como os dados dos censos demográficos. Porém, uma comparação entre as diversas pesquisas Datafolha é útil para avaliar as tendências internas a estes levantamentos.
O nível das taxas apresentadas no Datafolha é diferente dos censos demográficos, mas o padrão de mudança religiosa é parecido. Ou seja, em ambos os levantamentos, os católicos caem, enquanto os evangélicos, os sem religião e as outras religiões crescem. Mas o processo de mudança de hegemonia e de aumento da pluralidade é mais rápido no caso do Datafolha.
Nos 22 anos da série Datafolha, os católicos perderam 25%, os evangélicos ganharam 15%, os sem religião aumentaram 9% e as outras religiões tiveram um ligeiro aumento de 1%. A perda dos católicos tem sido de 1,14% ao ano, enquanto os evangélicos crescem 0,68% ao ano. Fazendo uma projeção linear destas tendências até 2040, percebe-se que, em 2028, os evangélicos (com 37,2%) vão ultrapassar os católicos (com 36,4%). Em 2040, os católicos cairiam para 22,7% e os evangélicos subiriam para 45,4%. Os cristãos (católicos + evangélicos) que eram 79% em 1994, caíram para 73,6% em 2016 e devem ficar em 68% em 2040, conforme mostra o gráfico abaixo.
A pesquisa Datafolha também mostra que os evangélicos frequentam mais assiduamente os cultos e contribuem mais financeiramente com a igreja. A média da contribuição dos católicos é de R$ 32,00, enquanto dos evangélicos é de R$ 86,00. Assim, com um número menor de fieis, os evangélicos arrecadam um volume maior de recursos do que os católicos. Com mais dinheiro a tendência é o fortalecimento dos evangélicos.
Em artigo anterior (Alves, 11/01/2017), apresentei uma projeção linear até 2040 com base nos dados dos censos demográficos do IBGE. Os resultados apontaram para uma mudança de hegemonia em 2036 e um aumento da pluralidade em ritmo mais lento. Pesquisa realizada pelo instituto PEW, entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014, encontrou, no Brasil, um percentual de 61% de católicos, 26% de evangélicos, 8% de sem religião e 5% de outras religiões.
Ou seja, tanto os dados do IBGE, quanto do Datafolha e do Instituto PEW (2014), apontam para uma transição religiosa no Brasil, entendida como queda dos católicos, aumento dos evangélicos e aumento da pluralidade religiosa (queda do percentual de cristãos e aumento dos não cristãos). A diferença está na velocidade dessa transição.
No caso do Datafolha, esse processo vai ocorrer de maneira mais rápida, com a inversão da hegemonia, entre os dois grandes grupos, acontecendo no ano de 2028. Segundo os dados do IBGE, o quadro religioso vai se alterar totalmente em um espaço de duas décadas, enquanto para o Datafolha a inversão vai ocorrer no curto lapso de cerca de uma década.
Referências:
ALVES, JED. Uma projeção linear da transição religiosa no Brasil: 1991-2040. Ecodebate, RJ, 11/01/2017
PEW. Religion in Latin America. Widespread Change in a Historically Catholic Region, PEW Research Center, November 13, 2014
DATAFOLHA. Perfil e opinião dos evangélicos no Brasil, São Paulo, 07 e 08/12/2016
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 18/01/2017
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Lembrei-me de um estudo de 1800 que dizia que em no ano 2000 teríamos uma camada de 80 centímetros de esterco de cavalo nas ruas de paris e que o grande problema seria onde guardar os animais necessários ao transporte público e privado… ai veio o automóvel e o problema é o aquecimento global… rsrsrs
Muito bom o texto de José Eustáquio Diniz Alves sobre de grande transição religiosa no Brasil, com o decréscimo acelerado da Igreja Católica. Posso estar enganado, mas parece-me, que a perda da hegemonia numérica de fiéis não assusta os católicos liderados pela Papa Francisco que mais vem valorizando a vivência do Evangelho, uma igreja simples e o comprometimento com os pobres. Nessa perspectiva, a sobrevivência da Igreja Católica pode estar na sua volta às origens e no aprofundamento do amor cristão como a sua maior identidade espiritual e religiosa. Num mundo cada dia mais materialista, consumista e egoísta, onde a felicidade e a salvação são determinadas pelo dinheiro, pela propaganda massiva é mais do que natural, ou compreensível que os grupos religiosos afinados com os resultados materiais, a riqueza, o sucesso e bem-estar de saúde, social e econômico tenham a preferência da população que almeja esses melhores padrões de vida. E os evangélicos propõem justamente esse milagre. Em outros termos, nessa economia globalizada, a felicidade material está acima de uma espiritualidade interior, como a budista e outras. Nesse sentido, pode ser que a Igreja católica não esteja realmente em declínio, mas em ascensão ou pelo menos mais verdadeira e mais próxima de Cristo e de seus apóstolos. Não importa o número, mas a essência da vida cristã.