Aonde vamos? artigo de Amadeu Roberto Garrido de Paula
[EcoDebate] Daria meu reino (se o tivesse) para não escrever estas linhas.
O crime organizado, segundo a ONU, fatura entre 3 e 4 trilhões, dos quais o narcotráfico 1 trilhão. Impossível, sem conexão com o sistema bancário.
As repugnantes condições carcerárias do Brasil fomentam a formação de organizações dentro dos próprios presídios. O preso se organiza para sobreviver. O governador Geraldo Alckmin diz que o PCC não existe. “Há coisas que se dizem, outras que não”, dizem governantes, mas negar o óbvio é intolerável.
Crime introduzido nas instituições públicas, na democracia, na economia formal. Criminosos podem ser organizar politicamente. “O crime organizado começa nas favelas e termina em Wall Street”, diz o jornalista e escritor Carlos Amorim.
O Presidente do Panamá, Manuel Oriega, sócio de Pablo Escobar, só foi retirado à força pelos Estados Unidos. A máfia nigeriana, conexão entre as Américas, a Europa e o Oriente, é o grupo que mais cresce no mundo. Vai maconha, cocaína e crack; vem heroína, ópio e morfina. A Nigéria tinha um setor do aeroporto exclusivo para esse “comércio”, protegido por forças militares.
A face oculta do crime organizado é de cidadãos que vivem no campo da legalidade. O MPF acusa advogados e desembargadores de Boa Vista, onde acabam de se acrescentar ignomínias como as de Manaus, de conceder prisões domiciliares e libertar presos pelo preço médio de R$ 200.000,00. Recentemente o Gaeco, em São Paulo, prendeu 32 advogados, um deles o Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Secretaria da Justiça. Não seria eu a negar o princípio da presunção de inocência e o do devido processo legal processual, ampla e prévia defesa. Nem lhes serão subtraídos pela Justiça Paulista, mas o fenômeno deve ser observado.
Depois dos mexicanos, os brasileiros são os maiores consumidores de cocaína do mundo. E o primeiro do abominável crack, de consequências devastadoras e irreversíveis.
O crime organizado tem leis próprias e implacáveis, dentro e fora dos presídios. São estados de delinquentes a desafiar o Estado Político e nele infiltrado.
Um traficantezinho de bairro, diz o citado jornalista, movimenta 1 milhão por semana. Multiplicam-se e conectam-se pelo mundo.
PCC e CV* se uniram, executaram Jorge Rafat Toumani, chefão paraguaio na fronteira Ponta Porã- Pedro João Caballero, nomearam outro, desentenderam-se e se iniciaram os conflitos nos presídios do Norte e do Centro-Oeste. Para entender um pouco de Manaus e Boa Vista. Por ora…
Em suma, humanizar presídios é fácil, ante o combate, que parece missão impossível, ao crime organizado.
Na outra banda deste mundo cinzento, a política. Nada absorveram os povos das lições das duas grandes guerras mundiais. O mundo descamba, com um presidente americano que repudia as alianças, exorta as xenofobias, o protecionismo e admira os déspotas (Martin Wolf, “Financial Times”). Democracia “não liberal” (sic) no leste europeu, o Brexit e não improvável vitória de Marine Le Pen na França. O policial Putin e sua política expansionista e a China, que não perde oportunidades, elegendo Xi Jing Ping não como “primus inter pares”, mas como o “grande comandante” do mundo…
A imigração forçada de orientais à Europa e tida como concorrência desleal aos nacionais, principalmente em relação à mão-de-obra não qualificada; se todas as guerras foram determinadas por propósitos de conquistas de mercados, a próxima será por mercados de trabalho. Só permanecerão incólumes – e crescerão – os antes inimagináveis mercados do crime.
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.
* Digitação corrigida, conforme apontado pela leitora Mariana
in EcoDebate, 13/01/2017
[cite]
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Pequeno erro de digitação, onde se lê PV (Partido Verde) deveria-se ler CV (Comando Vermelho). Espero, pois senão, fico mais assustada ainda com a situação do que já estava.
Mariana,
Gratos pelo alerta. O texto foi devidamente corrigido.
O ápice do regime capitalista está no passado. Vivemos, agora, o seu declínio, o qual será fatal para a grande maioria das espécies.