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Elis, o filme, artigo de Montserrat Martins

 

Elis, o filme
Foto: Youtube

 

[EcoDebate] Assistir “Elis” no cinema é como assistir a um show dela ao vivo: Elis Regina “baixou” na atriz que fez seu papel, vemos a cantora viva à nossa frente em todos os seus trejeitos, gargalhadas, expressões, dramas. O Oscar para Andréia Horta seria pouco, seria um caso para investigação espírita, nunca vi um ator fazer “reviver” um personagem com tamanha veracidade, nem nos melhores filmes de Hollywood.

“Elis” é um filme imperdível para dois tipos de pessoas: as que viveram a época dela e as mais jovens, que não a conheceram. Para mim, que assisti o show Falso Brilhante no teatro com Elis Regina, ver essa cena no filme foi como voltar a ver “ao vivo” a maior cantora brasileira de todos os tempos. Os mais jovens verão como nasceu a MPB (Música Popular Brasileira) entre a Bossa Nova, a Jovem Guarda e os Beatles, verão quem foram Jair Rodrigues, Nelson Motta, Mièle, Boscoli e César Camargo Mariano, estes dois últimos os pais dos filhos de Elis.

Mais além de nossa estrela maior, o filme é a própria História do Brasil no auge da ditadura, nos anos 70, mostrando o papel de Henfil e do jornal O Pasquim na vida do país. “Todo mundo lê O Pasquim”, diz Elis inconformada com a charge de Henfil contra ela, quando ela fora constrangida a cantar num evento militar. Nunca houve um jornal de humor e sátira política tão consagrado como o Pasquim que, curiosamente, não sobreviveu à democracia.

Elis é a intensidade em pessoa, em sua família (conflitos implícitos, pois o foco do filme está no Rio), em sua luta por um lugar ao sol, em suas paixões, com os filhos, com o público. Um capítulo especial de seu lado afetivo aparece na sua amizade com o dançarino Lennie Dale, que a ensinou a se “soltar” no palco, a quem ela visitava quando esteve preso. O ator gaúcho Júlio Andrade, aliás, também merecia um Oscar por encarnar Lennie Dale de forma tão viva.

Os diálogos são fantásticos, principalmente porque autênticos, fiéis à sua vida. Há trechos deliciosos, como a resposta “eu sou artista, artista muda de ideia”. Ela nasceu gaúcha mas o bairrismo não cabia nela, era carioca, era paulista, era brasileira, era uma voz do mundo inteiro; consagrada na Europa, cantou nos palcos dos maiores cantores do mundo.

O cinema brasileiro já fez belas biografias de artistas como “Gonzaga de pai para filho”, outro filme imperdível, sobre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, ou mesmo em “2 filhos de Francisco”, recordista de público. São filmes maravilhosos que colocam nosso cinema em alto patamar de qualidade, mas Elis o eleva ao insuperável.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade

 

in EcoDebate, 19/12/2016

[cite]

 

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