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Artigo

Educação do Campo e Sustentabilidade: Diversas Interpretações e Perspectivas, por Débora Barros Andrade e Giovanna Freire de Oliveira Lima

EDUCAÇÃO DO CAMPO E SUSTENTABILIDADE : DIVERSAS INTERPRETAÇÕES E PERSPECTIVAS

Débora Barros Andrade¹

Giovanna Freire de Oliveira Lima²

161117

[EcoDebate] Há tempos existe uma movimentação nas áreas rurais brasileira, onde os povos das comunidades lutam por uma educação de qualidade, que respeite sua terra, seu modo de viver, sua cultura e suas tradições. A luta dessa conquista ainda não alcançada de fato, se dá por conta das ações apenas copiadas da área urbana para as comunidades que possuem seu tempo e espaço próprio, específico do campo.

Esse processo negativo e histórico, o qual insiste em acompanhar quem vive no meio rural, iniciou-se nos tempos da República com o ilusório progresso de libertação a partir da escolarização, que ocorria apenas na área urbana e para as classes mais altas. No Império, a educação continuava a evoluir abrangendo agora as classes menos favorecidas que viviam nas cidades. Porém, a educação do campo continuava estagnada, sem qualidade, sem infraestrutura e sem condição nenhuma de funcionamento.

No período da revolução industrial ocorreu o aumento do êxodo rural, a população rural ganhou um olhar para que a educação fosse realizada como cópia da urbana com o intuito de fixar esse homem no campo e reduzir o inchaço nas cidades por conta da produção industrial que crescia na época. Percebe-se que a educação oferecida era apenas para que o homem permanecesse no campo. A ordem e o progresso escrito na bandeira brasileira e declamada ao vento, servia apenas para o homem privilegiado dos centros urbanos, com acesso às melhores escolas e com professores capacitados, usufruindo de material didático e de formações voltadas para o interesse industrial.

Nesse tempo, a escola tinha a função de minimizar a miséria do centro urbano, ensinando que o homem do campo poderia usufruir da escola sem ter que ir para a cidade. Por isso, não era dada um real valor, pois acreditavam que o homem do campo não tinha necessidade de ler e escrever e sua escolarização poderia ser oferecida e realizada de qualquer maneira, sem as mínimas condições, com uma desconexão da realidade vivida.

Atualmente, ainda acompanhamos essa marca viva na história dos sujeitos que permanecem e sobrevivem no campo. Uma educação descontextualizada com a realidade, com metodologias copiadas silenciosamente. Mas, qual papel o professor assume ao realizar uma cópia silenciosa do meio urbano, autor ou mero espectador? Existe uma reflexão em suas ações no chão da escola? O que tem sido feito enquanto política pública para solucionar problemas educacionais dos sujeitos do campo?

  1. ESCOLA DO CAMPO

A escola, lugar de transformação e de grande valor através da relação entre comunidade-professor-aluno, deveria ser a primeira a acompanhar essa transformação e organizar-se com um currículo que contemple a identidade do grupo inserido no processo. Porém, o que vemos é uma escola em caminhos divergentes por conta das ações de professores que ensinam da maneira como aprenderam na cidade, pois este mesmo docente não foi preparado para atuar nas escolas do campo. Não teve uma formação inicial em educação do campo e geralmente as formações continuadas oferecidas não alcançam o objetivo proposto nas políticas da educação do campo. Esse profissional deve perceber que a educação realizada nesse meio deve ser no e do campo e não para o campo.

Todavia, o professor carrega consigo a culpa de não ter sido preparado para atuar no campo, já que as metodologias e atividades foram pensadas para a estrutura e alunos das escolas da área urbana. As políticas públicas, quase nunca obedecidas ou conhecidas no dia a dia, são executadas como deveriam porque o currículo deveria ser o espelho dessas ações, mas o que continuamos a ver é o fazer realizado distorcidamente e em um futuro próximo reconhecer que as ações não devem ser isoladas, pois uma escola não existe sem o contexto.

A partir das mudanças de concepções e de atitudes, poderemos prever a possibilidade de transformação das marcas deixadas pelo passado, com perspectivas de mudança, pois apesar dessa árdua caminhada o professor possui uma postura reflexiva e busca sempre inovar através de práticas que trabalhem a interação e cooperação entre o grupo.

Atualmente, as mudanças se dão por conta dos avanços das novas tecnologias nos diversos setores, mas refletindo sobre os avanços na área de educação, sempre nos questionamos se a educação está acompanhando esses avanços. A passos lentos podemos dizer que sim, pois em se tratando de educação do campo vemos a luta das políticas públicas serem cumpridas como a insistente discussão das Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do Campo e a LDB 9394/96 em que no seu artigo 28 incisos I,II e III tratam sob conteúdos, calendários e especificidades da educação do campo.

Os avanços nas áreas rurais a passos lentos para as pessoas que permanecem no campo é retrato de luta e de resistência, pois o capitalismo com seus argumentos sempre subordinou o campo à cidade, sempre tentou mostrar que o melhor estava na área urbana e que o campo sempre seria um atraso.

Surge então, o MST lutando por direitos e deveres a serem cumpridos para os povos do campo, fortalecendo uma escola que respeite as especificidades e necessidades desses sujeitos. Sendo que três referências subsidiam esse projeto, quais sejam: a pedagogia socialista que considera o trabalho como atividade que constrói o homem, a cultura e as relações sociais de produção; a pedagogia do oprimido, como expressão da educação popular e a pedagogia do movimento. (MOURÃO e BORGES,2016, p.198).

  1. O PROFESSOR DO CAMPO: AUTOR DE VÁRIAS OBRAS

O professor que atua no campo, possui a figura de um pesquisador, pois como já citamos no texto, ele não teve uma base de estudos sobre o campo, então é levado a partir de sua experiência a buscar metodologias que se adapte ao contexto específico do campo para que haja de fato a articulação entre a teoria e a prática resultando em um trabalho positivo e diferenciado.

O professor tem que ser autor de sua prática e o currículo tem ser diferenciado para impactar na organização do trabalho pedagógico, assim como a identidade do professor do campo tem que ser valorizada para que esse reconhecimento resulte em estratégias próprias para sua escola e suas atitudes transformadoras apontando uma nova postura em suas ações. Ele deve conhecer sua realidade para trazer para o cotidiano de sua prática os saberes construídos historicamente pela comunidade na qual está inserido. (MOURÃO e BORGES, 2016,p.207)

Deve também respeitar o tempo de cada aluno, pois “inúmeras redes e escolas das cidades e dos campos têm avançado para organizar os currículos, tempos e espaços, o trabalho do mestre e educandos, respeitando os tempos humanos, mentais culturais, éticos, socializadores, indenitários, corpóreos dos educandos (ROCHA e HAGE, 2010, p.12).

  1. EDUCAÇÃO DO CAMPO E SUSTENTABILIDADE: DESAFIOS A VENCER.

Os acendimentos da batalha por uma educação do campo surgem num situação em que, dentro do modo capitalístico de produção, principalmente nos últimos 30 anos, a agricultura comercial brasileira passou por muitas transformações, nas quais o agronegócio deu um salto significativo principalmente na concentração do poder, incorporação de novas tecnologias e utilização de recursos vindos do governo.

As lutas sociais pela ampliação, acesso, permanência e direito a esses recursos, são fortalecidas quando se compreende uma educação do campo voltada para o fortalecimento de um projeto popular que valorize e transforme a agricultura familiar, integrando comunidades assentadas e pequenos agricultores, não somente no desenvolvimento econômico, mas também no social e ambiental. Esse tem sido o maior problema, trocam-se os governos e não há a concretização de um modelo de educação voltado para o campo, que, na prática, possa ser desenvolvido nas comunidades de assentados ou mesmo em localidades rurais e ribeirinhos, enfatizando ainda que este processo de educação cooperaria no fortalecimento dessas comunidades que procuram a reprodução de suas culturas tradicionais.

A Educação do Campo nasce, em seguida, das experiências camponesas de resistência em seus territórios..

Entende-se que a compreensão dos fenômenos educativos, articulada com projetos de desenvolvimento local (rural) sustentável, pode ser importante instrumento de análise das reais situações de como as comunidades do campo estão e podem desenvolver o seu trabalho e concretizar as suas ações de trabalho digno e solidário.

De tal modo, é importante ter a valorização do espaço local que apresenta projetos de articulação entre desenvolvimento sustentável e educação do campo. O resgate das experiências locais, como fator principal na condução dos processos educacionais nas escolas, deve ser destacado como ponto interessante. Cada lugar constrói possibilidades de aprendizado, espaços culturais e valores comuns.

Diante dessa contextualização da educação ambiental e da educação campo, podemos começar a refletir sobre o problema que envolve a nossa relação com a natureza ,visto que estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve nomear o seu destino, cultivando uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a diversidade da vida. Assim, a escola tem um papel importantíssimo nesse processo de sensibilização. É uma oportunidade de se criar um movimento no cotidiano de inserção crítica dos educandos/educador.

É um desafio que se coloca para, ao entender a realidade, procurarmos enfrentar os problemas transformando a realidade e a nós reciprocamente. Uma Prática participativa e problematizadora, que se estabelece no cotidiano, tem como seu ponto de partida a realidade local contextualizada numa perspectiva mais ampla.

Faz-se necessário uma prática refletida para se fazer diferente e mudar a realidade. Construção de uma nova visão de mundo / nova relação com o mundo deve ser recíproca e relacional. É mais que saber e sentir, é se transformar participando individual e coletivamente na transformação da realidade para a construção da sustentabilidade socioambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MOURÃO, Arminda Rachel Botelho; BORGES, Heloísa da Silva. Pensando a educação básica no campo amazônico. In: Políticas públicas e educação básica e desafios amazônicos/ Organização de Maria das Graças Sá Peixoto Pinheiro e Nádia Maciel Falcão.-Manaus:EDUA,2016.

ROCHA, Maria Izabel Antunes; HAGE, Salomão Mufarrej (organizadores). Escola de Direito: Reinventando a escola multisseriada. Belo Horizonte: Autêntica Editora.201o .

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¹ Doutoranda em Educação pela Unisal.

Mestre  em  Ciências da Educação pela Unisal 

Bióloga com registro na classe CRBio08ª nº 105.263/08-D

Especialista em Educação Ambiental-Uniter/Ibpex.

Especialista em Docência do Ensino Superior -Uniaméricas-Ceará.

Especialista em Gestão Escolar – Progestão-Bahia;

Técnica em Secretária Escolar / IFBA-Jacobina.

Licenciada em Biologia FTC 

Licenciando em Química -ISEED FAVED.

Professora do Ensino Fundamental II,  e Superior da  Rede Pública e Privada.

Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC

Supervisora de Estágio Supervisionado 

Palestrante.

² Formadora da educação do Campo e Indigena SEMED/AM.

Coordenadora de formação Educação do Campo e Indigena SEMED/AM.

– Mestra em Ciencias da Educação UNISAL.

– Doutoranda em Ciencias da Educação UNISAL.

 

in EcoDebate, 17/11/2016

[cite]

 

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