Esporte e desenvolvimento, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] É interessante comparar as Olimpíadas com o desenvolvimento de cada país, por exemplo das 50 nações com mais medalhas a imensa maioria é da Europa, 33 países (quase 70%), contra apenas 7 das Américas, 5 da Ásia, 3 da África e 2 da Oceania. No ranking do IDH os números são muito parecidos, com o predomínio europeu (também cerca de 70% dos países mais desenvolvidos), com a diferença de que há maior destaque para países Oceania, da Ásia e do Oriente Médio entre as nações com o IDH mais alto.
O esporte é fator de desenvolvimento de um povo, ou é reflexo do grau de desenvolvimento alcançado? O predomínio absoluto da Europa sugere que o esporte acompanha a economia, mas há variações, provavelmente decorrentes do gosto que cada cultura tem pelas práticas esportivas. O Oriente Médio, por exemplo, não tem nenhum destaque olímpico mas tem muitas nações entre as de maior IDH. No sentido inverso, o Brasil é o 37º no ranking de medalhas na História, mas nosso IDH (0,75) é apenas o 75º do mundo. Dos sul-americanos somos os que temos mais medalhas, mas nosso IDH era inferior ao da Argentina, Chile, Uruguai e Venezuela, antes da crise dessa última.
A esperança, o prazer e as histórias de superação que o esporte proporcionam, sendo capaz de transformar vidas de pessoas humildes, geram a empolgação nacional em torno de diversas modalidades, além da nossa paixão pelo futebol. Mas a previsão de nos tornarmos “potência olímpica”, de ficar entre as 10 primeiras no Rio 2016, eram exageradas, como se vê agora ao final, quando ficaremos próximos do nosso melhor desempenho anterior que foi o 16º lugar em Atenas em 2004, a única vez que havíamos tido mais de 3 medalhas de ouro. Também ficaremos próximos do desempenho de Londres em 2012 onde havíamos obtido o maior número de medalhas no total, 17 naquelas Olimpíadas.
O incentivo ao esporte é um fator de promoção social e uma estratégia de prevenção à violência, principalmente na infância e juventude, embora não seja uma “panaceia” capaz de resolver as nossas maiores mazelas sociais. Um assunto menos popular é mais decisivo: as políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento econômico, social e humano é que devem ser capazes de enfrentar nossos problemas mais graves. Essas políticas públicas tem de prever a inclusão através das mais diversas modalidades, mas seria ilusório achar que os esportes resolvem tudo, pois infelizmente há assuntos menos divertidos – de diretrizes políticas, administrativas, de gestão, de infraestrutura – a enfrentar, como respostas necessárias aos nossos dilemas. Após os jogos, voltamos aos interesses públicos, em jogo nas eleições.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
in EcoDebate, 22/08/2016
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Nenhuma “panacéia’ resolve os problemas sociais ou ambientais…
Parabéns pelo artigo…
Abs…
RNaime