Produção orgânica, reforma agrária e preservação florestal: a história do sítio A Boa Terra, Parte 3/3, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Pelo tamanho das árvores da mata no local e a densidade da ocupação pelas plantas mais baixas, se percebe que é uma mata jovem, que 35 anos antes simplesmente não existia. No entanto, a riqueza da flora e da fauna já se mostra, com muitos pássaros, insetos e sapos.
Produzir água, hoje, talvez seja tão importante quanto produzir alimento. Quem vive na capital paulista sabe muito bem o que isso significa, diante da possibilidade de grave desabastecimento que segue ameaçando a metrópole.
E produzir água significa, na realidade, preservar áreas estratégicas de mata nativa e cuidar das nascentes. Fazendo isso, a água volta a fluir.
No Sítio, a área de preservação é hoje bem mais ampla que a área utilizada para a produção agrícola. Esta compreende 10 hectares naquele local e mais 10 hectares num local próximo, em área de serra, que por ser mais frio é mais utilizado durante o verão.
Já a área preservada compreende dezenas de hectares de mata, além dos 60 hectares de várzea, que depois de encerrado o projeto de cultivo comunitário de arroz e feijão, passaram a ser destinados à preservação permanente.
Hoje, o Sítio recebe ao longo do ano dezenas de turmas de alunos de escolas estaduais de Itobi, para propor dias inteiros de “alfabetização ecológica. O projeto foi concebido por Nicolete, uma das filhas do casal fundador Joob e Tini.
Enquanto aconteciam os projetos sociais, as mulheres começaram a plantar uma horta, utilizando técnicas de biodinâmica que a irmã de Tini havia aprendido em cursos na Holanda.
Ao final de 1981, cerca de meio hectare estava plantado. Foi a partir deste núcleo que cresceu o Sítio A Boa Terra.
Além de sua ampla produção de verduras, legumes e frutas, para atender melhor seus clientes o Sítio hoje comercializa também itens de produtores parceiros. Todos podem ser selecionados pelo site ou por e-mail.
Apenas no segundo semestre de 2014, comercializou um total de 145.439 kg de legumes e frutas (64.050 kg dos quais de produção própria) e 65.009 maços de verduras (sendo 52.251 cultivados e colhidos no local).
A produção própria inclui cenoura, milho, beterraba, rabanete, cebola, abóbora brasileira, abóbora italiana, pepino caipira, alho porro, milho verde, alfaces (americana, crespa, lisa, mimosa e roxa), escarola, couve manteiga, rúcula, almeirão, cheiro verde, manjericão, orégano e hortelã.
“Temos uma pequena área com laranjas, mangas, abacate e vamos plantar este ano mais 4 mil mudas de laranjas”, informou Júlio.
Ao todo, são 40 funcionários: seis no setor de Educação Ambiental, nove na produção e 25 na área comercial.
As cestas entregues aos clientes são assim distribuídas, 9% na região do sítio (Itobi, São José do Rio Pardo, Casa Branca, Vargem Grande do Sul e Mococa), 16% na de Ribeirão Preto e 75% nas regiões de São Paulo e Campinas.
Segundo Júlio, não há qualquer política que favoreça o produtor orgânico na obtenção de financiamento, assistência ou apoio dos governos federal, estadual e dos municipais com os quais o Sítio se relaciona.
Ao contrário, os orgânicos, além de seus custos maiores por preservar o meio ambiente e garantir um alimento sem veneno para o consumidor, têm também que arcar com todos os custos de certificação.
“Na agricultura convencional, é permitida a presença de certos níveis de agrotóxicos nos alimentos e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) analisa os produtos e afere isso. Por que estes produtores não são obrigados a dizer, no rótulo, qual o nível médio de agrotóxicos no alimento? Por que apenas o orgânico necessita de certificação?”, questiona Júlio.
Na prática, são premiados aqueles que contaminam a terra, os lençóis freáticos e os rios com agrotóxicos, e vendem alimentos com veneno, provocando malefícios que são difíceis de contabilizar, mas que certamente impactam nos gastos públicos e privados com saúde.
“Também há muito menos pesquisa acadêmica na área de orgânicos do que na área da agricultura convencional”, ressalta Joop. “Um conhecimento mais refinado dos cultivos ajudaria muito no aumento da produtividade”.
“Conheça as pessoas do campo e suas histórias, entenda a diferença entre a agricultura comum e a orgânica, ouça o campo dos pássaros, relembre o cheiro de terra molhada, o verdadeiro sabor dos alimentos, o deleite dos quitutes caseiros, ande descalço e brinque com o pés na água pelas trilhas da mata. Dê esse presente a você e aos que você ama!”
Referência: MST
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
** Nota: Sugerimos que leiam, também, os artigos anteriores desta série:
in EcoDebate, 28/07/2016
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Como questiona o Julio, por que quem tem de ter certificado são os produtos orgânicos.Quem usa veneno é quem deveria ter de comprovar que não esta contaminado.Os custos de certificação são muito altos para o agricultor orgânico que acaba repassando para os consumidores.
Agora ,no congresso , estão tentando impor a mesma logica para os trangênicos.Quem vai ter de provar que não são transgênicos são os agricultores que indicam que não usam trangenia e terão de provar com analise laboratorial.Uma completa inversão de valores.
Verdade Radomir…uma grande inversão…
Abs…
RNaime