Poluição Luminosa: Apague a luz, por favor! artigo de Antonio Silvio Hendges
[EcoDebate] Muitos pesquisadores afirmam que atualmente as intervenções humanas e seus impactos são comparáveis aos efeitos de uma era geológica e que a partir especialmente da Segunda Revolução Industrial, justifica-se a determinação de um novo período, o holoceno ou tecnógeno, caracterizado pela não existência de espaços sem interferência humana, mesmo quando se tratam de locais preservados, caracterizados como uma “concessão” das atividades antrópicas.
Uma das características marcantes das ações humanas no planeta é a emissão de luzes artificiais, com mais intensidade proporcional ao desenvolvimento industrial e por isso mesmo em expansão infinita, posto que a industrialização seja o modelo de desenvolvimento humano e econômico dominante. As fontes emissoras são em geral alimentadas por combustíveis não renováveis, energia nuclear, termoelétricas e hidrelétricas. Em pequena escala são utilizadas fontes renováveis como solar fotovoltaica, eólica, biomassa e outras que ainda não são economicamente e tecnicamente viáveis em um sistema de produção maciça de bens de consumo em um só sentido de uso e desperdício da energia, sem as características cíclicas da matéria presentes nos sistemas naturais.
O resultado desta produção e consumo linear da energia são os resíduos, desde os nucleares, particulados, industriais, pós consumo, até as sobras de alimentos das refeições diárias. E poluição luminosa. Desde o excesso local, mau planejamento do dimensionamento e distribuição dos pontos, uso errôneo de lâmpadas e luminárias, incidência de luz direta sobre pessoas, plantas, animais e produtos, até o sky glow – poluição luminosa caracterizada pelo efeito brilhante e reflexivo noturno nos espaços aéreos das grandes aglomerações urbanas. Portanto, o holoceno também se caracteriza pela emissão massiva de luzes artificiais que interferem nos ecossistemas do planeta, inclusive naqueles relacionados com os usuários não humanos dos espaços aéreos como insetos, aves e sementes, com previsíveis impactos negativos sobre a biodiversidade.
Os impactos ambientais da poluição luminosa afetam os ciclos migratórios, reprodutivos e alimentares de muitas espécies de vertebrados e invertebrados, principalmente causando desorientação aos organismos adaptados aos espaços escuros: os filhotes das tartarugas são atraídos pelas luzes artificiais nas praias e são desviados de seu caminho para o oceano; as fêmeas dos vagalumes atraem os machos a 45 metros de distância e as luzes artificiais reduzem ou mesmo eliminam a visibilidade, prejudicando a reprodução; os períodos de floração de plantas são alterados, impactando o balanço natural na produção de pólen, flores e frutos; há um aumento da atração de insetos vetores de doenças e um desequilíbrio em suas populações com o aumento destas em áreas antropizadas; animais selvagens perdem-se e são atropelados nas rodovias e cidades, inclusive morcegos; aves migratórias e noturnas também são impactadas negativamente pelos excessos das luzes artificiais.
Na saúde humana, causa cansaço visual e sonolência, ardência nos olhos, dor de cabeça, stress e pesquisas indicam uma relação direta entre a poluição luminosa e o desenvolvimento de alguns tipos de câncer. A diminuição da capacidade de trabalho e consequentemente da produção é outro efeito econômico e social da iluminação excessiva. Acidentes de trânsito também são comuns causados pelo ofuscamento e excessos de luz. Também está comprovado que espaços excessivamente iluminados não diminuem a criminalidade, dando uma falsa impressão pessoal de segurança e mesmo facilitando rotas de fuga. Economicamente, toda iluminação acima da linha do horizonte é energia completamente desperdiçada. Estima-se um desperdício de 30% da energia utilizada pelos governos, empresas e consumidores na iluminação externa das áreas de ocupação humana.
A poluição luminosa também prejudica as pesquisas em diversas áreas relacionadas com a observação do espaço, como a astronomia e a astrofísica, que tem a capacidades dos telescópios e equipamentos prejudicados pelos reflexos e ofuscamentos das luzes artificiais, mesmo de aglomerados urbanos distantes de onde estão localizados.
O descarte incorreto pós uso dos diversos tipos de lâmpadas é outro impacto aumentado pelos excessos de iluminação. Os elementos utilizados nos componentes como mercúrio, vanádio, chumbo, cádmio, bário, sódio, antimônio, estrôncio e outros são altamente tóxicos e apresentam efeitos acumulativos no meio ambiente e nos organismos.
Apague a luz, por favor!
Antonio Silvio Hendges, Articulista no EcoDebate, Professor de Biologia, Pós Graduação em Auditorias Ambientais, assessoria e consultoria em educação ambiental e sustentabilidade – www.cenatecbrasil.blogspot.com.br
in EcoDebate, 20/07/2016
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Excelente texto! Infelizmente no âmbito urbano ‘apagar a luz’ nem sempre é possível. Grata por compartilhar seu conhecimento! Inté!