Resenha de ‘Sustentabilidade: o que é, o que não é’, por Elissandro dos Santos Santana e Denys Henrique Rodrigues Câmara
Resenha de ‘Sustentabilidade: o que é, o que não é’, por Elissandro dos Santos Santana e Denys Henrique Rodrigues Câmara
Resenha de Sustentabilidade: o que é, o que não é.
Elissandro dos Santos Santana1
Denys Henrique Rodrigues Câmara2
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
[EcoDebate] O livro Sustentabilidade, o que é, o que não é, de Leonardo Boff, um dos teóricos mais respeitados no que concerne à teologia-ecologia, é um convite a pensar o que é essa tal sustentabilidade, tão difundida nas mídias sociais e, até, nos meios tradicionais de comunicação.
A obra compõe-se de 12 capítulos, em considerações finais e na apresentação do documento Carta da Terra. De forma holística, na obra em baila, o autor discorre sobre a sustentabilidade como uma questão de vida ou morte, as origens do conceito de sustentabilidade, métodos atuais de sustentabilidade e sua crítica, causas da insustentabilidade da atual ordem ecológico-social, pressupostos cosmológicos e antropológicos para um conceito integrador de sustentabilidade, rumo a uma definição integradora de sustentabilidade, sustentabilidade e universo, sustentabilidade e a Terra viva, sustentabilidade e sociedade, sustentabilidade e desenvolvimento, sustentabilidade e educação e, por último, sustentabilidade e indivíduo.
No primeiro capítulo, “Sustentabilidade: questão de vida ou morte”, Boff começa a discussão mencionando a Carta da Terra como um dos documentos mais inspiradores do início do século XXI e, em seguida, tece discussões em torno dos desafios para a construção da sustentabilidade, sobre a insustentabilidade da atual ordem socioecológica, a insustentabilidade do sistema econômico-financeiro mundial, a insustentabilidade social da humanidade por causa da injustiça mundial, a crescente dizimação da biodiversidade: o Antropoceno, a insustentabilidade do Planeta Terra com a pegada ecológica, o aquecimento global e o risco do fim da espécie. Termina o capítulo com uma reflexão profunda acerca do fato de que o ser humano deve ser fiel a Terra e amante do autor da vida.
No capítulo, “As origens do conceito de sustentabilidade”, o autor dá início à discussão externando que a grande maioria estima que o conceito de sustentabilidade possui origem recente, a partir das reuniões organizadas pela ONU nos anos 70 do século XX, quando surgiu fortemente a consciência dos limites do crescimento que punha em crise o modelo vigente praticado, em quase todas as sociedades mundiais, mas que o conceito possui uma história de mais de 400 anos. Para aprofundar as noções concernentes à origem do termo sustentabilidade, enriquece a pauta apresentando a dicionarização do termo e suas primeiras semânticas. Ainda nesse capítulo, Boff discorre sobre a Pré-história do conceito de sustentabilidade, mostrando que o nicho a partir do qual nasceu e se elaborou o conceito é a silvicultura, o manejo das florestas, sobre a história do conceito de sustentabilidade, passando pelo alarde ecológico na ONU provocado pelo relatório do Clube de Roma “Os limites do crescimento”, que entre 5 e 16 de junho de 1972, em Estocolmo, ocorreu a Primeira Conferência Mundial sobre o homem e o Meio Ambiente, cujos resultados não foram significativos, mas gerou, pelo menos, a decisão de criar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Boff segue a historicização acerca da sustentabilidade, apresentando a Conferência de 1984 que deu origem à Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo lema foi “Uma agenda global para a mudança”, chegando à Conferência de 1987, mencionando que os trabalhos da comissão anterior foram encerrados nessa com o relatório da Primeira-ministra norueguesa Brundland “Nosso futuro comum” ou “Relatório Brundland”, até o encontro de 1992, 1997 e 2012 no Rio de Janeiro.
No capítulo, “Modelos atuais de sustentabilidade e sua crítica”, o autor começa dizendo que a pressão mundial sobre os governos e as empresas em razão da crescente degradação da natureza e do clamor mundial acerca dos riscos que pesam sobre a vida humana fizeram com que todos encetassem esforços para conferir sustentabilidade ao desenvolvimento. Nessa parte do livro, o leitor se depara com a noção de que muitas empresas e até redes delas como o Instituto Ethos de Responsabilidade Social se comprometeram com a responsabilidade social, partindo do pressuposto de que a produção não deve apenas beneficiar os acionistas, mas toda a sociedade, especialmente aqueles estratos socialmente mais penalizados. Ao longo do capítulo, são discutidos temas como o modelo-padrão de desenvolvimento sustentável, mostrando-se que dentro desse modelo, para ser sustentável, o desenvolvimento deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. O autor também discute acerca de melhorias no modelo-padrão de sustentabilidade, o modelo do neocapitalismo com ausência de sustentabilidade, o modelo do capitalismo natural com a sustentabilidade enganosa, o modelo da economia verde com a sustentabilidade fraca, o modelo do ecossocialismo com a sustentabilidade insuficiente, o modelo do ecodesenvolvimento ou da bioeconomia com a sustentabilidade possível, o modelo da economia solidária com a microssustentabilidade viável e o bem-viver dos povos andinos com a sustentabilidade desejada. Boff termina o capítulo mencionando que é imperioso superar todo o antropocentrismo e que não se trata egoisticamente de garantir a vida humana, descurando a corrente e a comunidade de vida, da qual nós somos um elo e uma parte, a parte consciente, responsável, ética e espiritual. A sustentabilidade deve atender o inteiro sistema Terra, o Sistema Vida e Sistema Vida Humana, pois sem esta ampla perspectiva, o discurso da sustentabilidade ficará apenas no discurso, quando a realidade pede a efetivação rápida e eficiente da sustentabilidade, a preço de perda do lugar do ser humano neste pequeno e belo planeta, a única casa Comum para todos.
No capítulo “Causas da insustentabilidade da atual ordem ecológico-social”, o teórico critica a visão da Terra como coisa e baú de recursos, o antropocentrismo ilusório, o projeto da modernidade com a perspectiva equivocada de progresso ilimitado, já que tal fator é impossível, a visão compartimentada, mecanicista e patriarcal da realidade, o individualismo com a dinâmica da competição e a primazia do desperdício sobre o cuidado, do capital material sobre o capital humano.
No que concerne ao capítulo “Pressupostos cosmológicos e antropológicos para um conceito integrador de sustentabilidade”, Boff afirma que se quisermos uma sustentabilidade viável, precisamos, consoante a Carta da Terra, de “um novo começo” e isto equivale a dizer que temos que construir um novo paradigma civilizatório. Nessa parte da obra, o autor faz discussões acerca do que é um novo paradigma e uma nova cosmologia, elementos da nova cosmologia como base da sustentabilidade. No que tange a tais elementos, Boff coloca que o primeiro deles é a noção de que o universo forma um incomensurável todo que se encontra em evolução e em expansão, a partir daquela primeira singularidade que foi o Big Ban, de onde surgiu tudo o que existe; o segundo elemento nos vem da Teoria da Relatividade de Einstein, segundo a qual massa material e energia são equivalentes; já no tocante ao terceiro elemento, o autor afirma que esse pressuposto vem da Mecânica Quântica, segundo a qual a matéria não possui apenas massa, de onde se originou toda a física moderna, sem somente energia, base para todo o processo industrial, mas possui também informação. O teórico prossegue externando que hoje é possível descodificar estas informações, estoca-las e usá-las nos aparelhos de automação, de robótica e de computação e que cada célula contém todas as informações do código genético pelo qual se constroem os seres vivos. Que esses pressupostos, entre outros, sustentam a nova visão do mundo e, consequentemente, da nova cosmologia. Para aprofundar a discussão em torno da nova cosmologia, discorre sobre o vácuo quântico com a fonte originária de Todo o Ser, sobre as quatro expressões da Energia de Fundo, sobre a complexidade/interiorização/interdependência, sobre a Terra como superorganismo vivo, Gaia, sobre a Comunidade de Vida versus Meio Ambiente, sobre o ser humano como a porção consciente da Terra, acerca do resgate da razão sensível e cordial, sobre a dimensão espiritual da Terra, do Universo e do ser humano. Segue tecendo considerações concernentes ao cuidado essencial como componente da sustentabilidade e termina com elucidações consoantes à vulnerabilidade de toda sustentabilidade.
Em “Rumo a uma definição integradora de sustentabilidade”, continuando a pauta em torno da nova cosmologia, o teórico pontua que a nova cosmologia deve ser por natureza, ecológica. Após isso, discorre sobre a origem da palavra ecologia, mencionando que a palavra deriva de casa que, em grego, quer dizer oikos, dessa forma, ficando claro que a cosmologia significa, em primeiro lugar, o discurso sobre a grande Casa Comum que é o universo, o cosmos e somente depois sobre o Planeta Terra. Diante disso, não se deve restringir a ecologia ao puro e simples ambientalismo, como é predominante nas discussões atuais. Prossegue dizendo que fazer isso seria reduzir o conceito de ecologia e empobrecer o debate, prejudicando uma compreensão mais ampla de sustentabilidade. A ecologia recobre a sociedade (ecologia social), a mente humana (ecologia mental), as indústrias (ecologia industrial), as cidades (ecologia urbana) e as redes de conexão com o cosmos (economia integral). Sendo assim, todas estas realidades são emergências da cosmogênese e ocorrem dentro do processo evolutivo universal e não à margem dele. A nova cosmologia, assim compreendida, possui o valor de uma verdadeira revolução. Neste capítulo, Boff apresenta, dentre outros pontos, a relevância da era Ecozoica, a superpopulação humana, estratégias para a seguridade alimentar da humanidade, a governança global do Sistema Terra e do Sistema Vida e a tentativa de uma definição integradora de sustentabilidade.
No que tange ao capítulo “Sustentabilidade e universo, diz que muitos podem estranhar a relação entre sustentabilidade e universo, mas, à medida que o leitor retoma os capítulos anteriores, consegue perceber que somos, todos, parte do universo e todos feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas. Nessa parte da obra, fala sobre matriz relacional, mostrando que tudo e todos funcionam em ligação, em rede. O teórico em questão termina o capítulo com um poema de Cherokee Norman H. Russel, dizendo o seguinte: Assim como uma árvore não termina na ponta de suas raízes ou de sua copa, assim como um pássaro não termina em suas penas ou em seu voo, assim como a Terra não termina na montanha mais alta, assim eu também não termino em meu braço, no meu pé ou na minha pele, mas ininterruptamente me estendo para fora, pelo espaço e pelo tempo, com minha voz e meu pensamento, pois minha alma é o universo.
No capítulo “Sustentabilidade e a Terra viva”, o autor discorre sobre as três descobertas científicas que estão modificando nosso olhar sobre a Terra: a noção de comunidade cósmica, a comunidade de vida e a constatação de que a Terra é viva, um gigantesco superorganismo chamado Gaia. Para consubstanciar as discussões, apresenta as fontes da sustentabilidade para a Terra e a renovação do contrato natural Terra/humanidade.
Em “Sustentabilidade e sociedade”, dentre outras questões, mostra a necessidade de resgatar o sentido originário de sociedade, a democracia socioecológica como base da sustentabilidade e como poderia ser uma sociedade sustentável.
No que se refere ao capítulo “Sustentabilidade e desenvolvimento”, apresenta noções sobre os pressupostos para a sustentabilidade, questiona como passar do capital material para o capital humano, a viabilidade ecológica de um desenvolvimento sustentável, a sustentabilidade e o capital social regional, a sustentabilidade e a satisfação de necessidades fundamentais, indicadores de um desenvolvimento sustentável, indaga acerca de como passar do capital humano para o capital espiritual e apresenta um exemplo de boa sustentabilidade com o projeto Água Boa.
No capítulo “Sustentabilidade e educação”, Boff, de forma bastante sábia, menciona que a sustentabilidade não acontece mecanicamente. Ela é fruto de um processo de educação pela qual o ser humano redefine o feixe de relações que entretém com o universo, com a Terra e à comunidade de vida, de solidariedade para com as gerações futuras e a construção de uma democracia sociológica. Prossegue mostrando a importância de uma educação ecocentrada e apresentando os princípios norteadores de uma ecoeducação sustentável.
Em “Sustentabilidade e indivíduo”, de maneira filosófica, pontua que, a rigor, o indivíduo não existe, pois o que existe é a pessoa humana, nó de relações orientadas para todas as direções. Ninguém vive fora da rede de relações que sustenta o universo no qual cada um está imerso. Por isso, o correto seria dizer o indivíduo relacional, mas mantém a palavra indivíduo em seu sentido mais filosófico que social. Na oportunidade, faz os seguintes questionamentos: Que representa a sustentabilidade para o indivíduo assim compreendido? Que significa possuir uma existência sustentável? Para aprofundar a discussão, tece considerações acerca da sustentabilidade do homem-corpo indivíduo, a sustentabilidade do homem-psique individual e a sustentabilidade do homem-espírito individual.
A obra termina com algumas considerações acerca de um chamado à cooperação e à esperança, além da apresentação do documento Carta da Terra.
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
1 Especialista em sustentabilidade, desenvolvimento e gestão de projetos sociais, especialista em gestão educacional, especialista em linguística e ensino de línguas, especialista em metodologia de ensino de língua espanhola, licenciado em letras, habilitado em línguas estrangeiras modernas, espanhol e membro editorial da Revista Letrando, ISSN 2317-0735.
Contato: lissandrosantana@hotmail.com
2 Especialista em educação de jovens e adultos; especialista em língua portuguesa; licenciado em letras, língua materna e língua inglesa pela Universidade Federal da Bahia. Professor de inglês da Secretaria Estadual de Educação do Estado da Bahia.
Contato: denyscamara@gmail.com
in EcoDebate, 08/07/2016
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Enfim, mais um texto. Fico sempre esperando novas publicações. Quanto à resenha, a importância do texto está na apresentação de uma das obras de Boff, pois na sociedade plástica, na qual, muitas vezes, a sociedade não para para ler uma obra inteira, uma resenha bem escrita pode ser chamariz. Enfim, leitor assíduo de teus trabalhos.
É sempre um prazer ler seus textos aqui na Ecodebate. Denys e Elissandro, agradeço por terem me apresentado a Revista Ecodebate, pois virei leitor assíduo.
Caros Pedro e Matheus, agradeço a parceria de leitura, pois, como sempre pontuo, vejo na leitura um processo de coautoria do texto.
Enfim, continuem lendo a Ecodebate, pois é um portal de notícias socioambientais incrível.
A ORIGEM DE DEUS.
1. Introdução.
Crença é um sentimento desprovido de fundamentação real, possuindo, portanto, grande probabalidade de conduzir a erros, muitas vezes de graves consequências para o sujeito crente.
2. Crenças religiosas.
As crenças religiosas tiveram origem há mais de duzentos mil anos, época em que a espécie humana, ao se tornar um pouco mais inteligente, passou a suspeitar que os fenômenos naturais eram promovidos por seres super-poderosos, como castigo ou recompensa.
Esses seres super-poderosos, que atualmente são chamados de Deuses, também foram tidos por nossos ancestrais daquela época como “seres” capazes de interferir na vida dos indivíduos ou dos grupos humanos, algumas vezes fazendo o bem, e outras causando o mal e, até mesmo, a morte.
Depois de desenvolverem essas crenças, passaram a crer, também, que poderiam ser atendidos por esses Deuses rigorosos, fazendo oferendas e prometendo obediência irrestrita às suas vontades.
Os Deuses eram tão poderosos que, além de serem capazes de castigar ou de causarem a felicidade e proteger das ameaças naturais da vida, poderiam até restituir a vida aos mortos que fossem merecedores dessa benevolência.
3. Politeísmo e Monoteísmo.
Como vimos, no iníco, as religiões – conjunto de crenças e trabalho para divulgação dessas crenças – eram politeistas, isto é, tinham diversos Deuses, cada um com sua especialidade. Depois de decorrer longo espaço de tempo, há cerca de quatro mil anos, foi criada a primeira religião monoteísta, que recebeu o nome de Judaísmo.
4. Século XXI.
A idéia de um Deus único, dotado de todos os poderes, antes distribuídos entre vários Deuses, deu tão certo que atualmente todas as religiões existentes são monoteístas.
É curioso e lamentável observarmos, hoje, que aquelas ilusões de nossos ancestrais, que viviam o estágio infantil da espécie humana, se mantêm, em pleno século XXI,nas mentes da grande maioria dos seres humanos, apesar de o desenvolvimento científico e tecnológico ter sido tão intenso, mas, por razões que não podem ser explicadas, esse desenvolvimento e as crenças de passado tão remoto se mantêm apartadas e, pior ainda, é ver que esse apego a essas crenças está alimentando guerras em várias partes do planeta Terra.
O resultado de todo esse processo de manutenção e apefeiçoamento das crenças religiosas, aliado à exploração e competição capitalistas, possivelmente será o extermínio de todas as espécies que ainda habitam o planeta – inclusive a espécie humana – por meio de um colapso total, que em algumas décadas ocorrerá.
Nota 1: dissemos tudo isso para concluir que Leonardo Boff, como todos os divulgadores de religião e como todos os defensores do regime capitalista, de exclusão e destruição, faz parte dessa grande mentira em que a espécie humana foi envolta.
Nota 2: Tudo que aqui expuzemos tem fundamentação científica e histórica. Se alguém não acredita, é só pesquisar.