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O mapa da Pegada Ecológica, artigo José Eustáquio Diniz Alves

 

O mapa da Pegada Ecológica, artigo José Eustáquio Diniz Alves

pegada ecológica per capita, países, 2012

 

[EcoDebate] A Global Footprint Network apresenta duas medidas úteis para se avaliar o impacto humano sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural” do mundo. A Pegada Ecológica serve para avaliar o impacto que o ser humano exerce sobre a biosfera. A Biocapacidade avalia o montante de terra e água, biologicamente produtivo, para prover bens e serviços do ecossistema à demanda humana por consumo, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza.

Em 2012, o mundo tinha uma população 7,1 bilhões de pessoas, com uma pegada ecológica per capita de 2,84 hectares globais (gha) e uma biocapacidade per capita de 1,73 gha. O déficit ambiental global era de 64%. Para que o mundo vivesse sem déficit a pegada ecológica deveria ser igual à biocapacidade, isto é, 1,73 gha.

A pegada ecológica cresce em função do aumento do consumo e das atividades econômicas. Em geral, a pegada ecológica é maior para os países mais ricos

A pegada ecológica cresce em função do aumento do consumo e das atividades econômicas. Em geral, a pegada ecológica é maior para os países mais ricos, com alto IDH, ou grandes produtores de petróleo. Em 2012, os países com as maiores pegadas ecológicas per capita eram: Luxemburgo (15,8 gha), Aruba (11,9 gha), Qatar (10,8 gha), Austrália (9,3 gha), EUA (8,2 gha), Canada (8,2 gha), Kuwait (8,1 gha), Singapura (8,0 gha), Trinidad e Tobago (7,9 gha), Oman (7,5 gha), Bahrain (7,5 gha) e Suécia (7,3 gha).

No mapa, só os países bem clarinhos tinham pegada ecológica igual ou menor do que 1,73 gha. Já os países mais escuros tinham pegada ecológica superior a 6,7 gha. Nota-se que nenhum país da América Latina e África possuía pegada ecológica elevada. Os dois países mais populosos do mundo tinham pegada ecológica de 1,2 gha na Índia e 3,4 gha na China. O Brasil tinha pegada de 3,1 gha em 2012 (acima da média mundial de 2,8 gha).

Já o mapa da pegada ecológica total muda de figura, pois é preciso multiplicar a pegada per capita pela população. Observa-se que a Índia tem uma pegada ecológica per capita muito baixa, mas como tem uma população muito grande (que deve ultrapassar a China e se tornar o país mais populoso do mundo a partir de 2025) a Pegada Ecológica total é enorme. Não por coincidência, são os 3 países mais populosos do mundo (China, Índia e EUA) que possuem as pegadas ecológicas totais mais elevadas.

China = 1,4 bilhão de habitantes, com pegada ecológica per capita de 3,4 gha. A pegada ecológica total era de 4,8 bilhões de gha. A biocapacidade per capita chinesa era de 0,9 gha em 2012. O déficit ambiental era de 260%.

Índia = 1,24 bilhão de habitantes, com pegada ecológica per capita de 1,2 gha. A pegada ecológica total era de 1,4 bilhão de gha. A biocapacidade per capita chinesa era de 0,5 gha em 2012. O déficit ambiental era de 160%.

 

pegada ecológica total, países, 2016

 

Estados Unidos = 318 milhões de habitantes, com pegada ecológica per capita de 8,2 gha. A pegada ecológica total era de 2,6 bilhões de gha. A biocapacidade per capita chinesa era de 3,8 gha em 2012. O déficit ambiental era de 120%.

Nota-se que o déficit ambiental total dos EUA é menor do que o da China. E a diferença fundamental é o tamanho da população. A China tinha em 2012 a maior população do mundo e uma pegada ecológica média. O resultado é a utilização de 4,8 bilhões de hectares globais, utilizando 39% da biocapacidade total do Planeta. Os Estados Unidos (EUA) tinham uma população bem menor do que a China, mas uma pegada ecológica per capita muito alta. O impacto global dos EUA era de 2,6 bilhões de gha, representando 21% da biocapacidade total do mundo. A Índia tinha em 2012 a segunda maior população do planeta, mas uma pegada ecológica per capita bem abaixo da média mundial. O resultado é uma pegada ecológica global de 1,4 bilhão de gha, representando 12% da biocapacidade total da Terra.

Para que o mundo saia do vermelho do déficit ambiental e passe para o verde do superávit ambiental será preciso diminuir a pegada ecológica (consumo), ou a população ou os dois ao mesmo tempo. O que não dá é para continuar sobrecarregando o Planeta com o crescimento demoeconômico e a ampliação do déficit ambiental. O caminho atual leva ao abismo e, como diria Cartola: “Abismo que cavaste com os teus pés”.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

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2 thoughts on “O mapa da Pegada Ecológica, artigo José Eustáquio Diniz Alves

  • Desidério Farias

    Aqui, relendo o texto sobre pegadas ecológicas e cogitando acerca de minhas pegadas, no quanto minhas ações podem colaborar para ampliar ainda mais o quadro de insustentabilidades no planeta. Artigo interessantíssimo! Parabenizo a revista e o autor do trabalho!

  • Os animais selvagens sempre consideram o risco existente em torno deles, especialmente quando estão à procura de alimento, mesmo assim são considerados irracionais.

    O capitalismo, esse sim, é absolutamente irracional, pois toda sua atenção sempre está totalmente voltada para o lucro, para o desenvolvimento econômico, não dispensando qualquer interesse a tantas as outras questões relacionadas com a própria existência da vida na Terra.

    A política capitalista aliada ao poder das religiões, em breve, levarão à extinção de todas as formas de vida que ainda existem na Terra.

    Pegadas ecológicas não teem qualquer importância para os defensores do capitalismo.

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