Fontes de Assinaturas Geoquímicas Urbanas, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho
[EcoDebate] Aspectos básicos da ciência “geoquímica urbana” foram apresentados em artigo anterior (Medeiros Filho, 2016). Em continuidade, serão discutidos algumas assinaturas geoquímicas (alóctones ou não nativas), comuns na área urbana, a partir de pesquisa bibliográfica, especialmente do artigo de Chambers et al. (2016).
Áreas urbanas incorporam características geoquímicas diferentes do ambiente natural (geogênico) e que podem ser comuns para a maioria das cidades de porte similar ou ser relativamente exclusiva em decorrência de um desenvolvimento histórico particular de uma área.
As assinaturas geoquímicas de uma zona urbana são influenciadas por distúrbios ou modificações no seu relevo, como também por materiais alóctones incorporados durante o desenvolvimento e degradação (erosão e intemperismo) das suas infraestruturas.
Materiais como calcários, areias, argilas, cascalhos e britas de vários tipos de rochas são amplamente utilizados na construção de estradas, edifícios, calçadas, praças, barragens e outras obras e incluem, principalmente, minerais carbonáticos, óxidos e uma ampla variedade de silicatos.
Concreto é um dos exemplos de material de construção mais comum. É constituído, normalmente, por brita de rocha silicosa e cimento rico em cálcio, além de vários tipos de impurezas em subordinadas quantidades (traços), como urânio que pode aparecer, com pequenos teores, em produtos de procedência granítica. O intemperismo e o desgaste de antigas construções podem, consequentemente, enriquecer o solo e correntes urbanas em cálcio e bicarbonatos.
Metais ou associação de metais como Cu, Pb e Zn são usados em canalizações, fiações e em material de cobertura. Alumínio e aços (ligas de Fe-carbono ou Fe-cromo, por exemplo) são comumente utilizados em construções e como componentes de veículos e encanamentos. Os metais ocorrem, ainda, como componentes menores em diversos materiais de construção.
Em adição aos componentes inorgânicos, áreas urbanas contêm muitos polímeros orgânicos na forma de madeiras e produtos petroquímicos, como asfaltos e plásticos. Ressalta-se, ainda, a presença de nano materiais de composição orgânica e inorgânica com uma grande variedade de aplicações industriais e comerciais e que podem resultar em concentrações anômalas, no ar, solo e água, dos seus elementos e componentes associados.
Processos e atividades que podem produzir e definir uma assinatura geoquímica urbana incluem: corrosão (intemperismo e erosão) de estruturas, liberação de combustíveis fósseis, correntes de enxurradas, fluxo de resíduos industriais e domésticos, lixões e escapes de esgotos. A liberação de componentes das infraestruturas urbanas altera a química do ambiente no entorno e afeta a qualidade do ar, solo e água.
A corrosão de objetos metálicos e a lixiviação de materiais de construção aumentam a concentração de metais no ambiente urbano e podem representar um risco para saúde humana. Por exemplo, Zn e Pb são liberados de materiais presentes em exteriores de edifícios como tijolos, tintas, concretos e metias galvanizados.
Contaminação de metais são especialmente pronunciadas próximo a rodovias que recebem contaminantes de descargas de veículos (Pb, Mn), desgastes de pneus (Zn, Cd), corrosão de chapas de metais soldadas (V, Ce, Ni, Cr) e a combustão de óleos lubrificantes ( Cd, Cu, V, Zn, Mo). Acrescenta-se a presença de elementos do grupo da platina, como Pd, Pt e Rh, associados com conversores catalíticos.
A fonte dominante que afeta a geoquímica do ar urbano é a combustão de combustível fóssil. Fontes estacionárias (chaminés industriais) e móveis (descargas de veículos) tornam anômalo o ar urbano em gases de efeito estufa, partículas orgânicas e matais pesados. Componentes liberados para a atmosfera são subsequentemente depositados na superfície do solo e retidos por indefinidos períodos de tempo, tornando, assim, o solo um marcador do legado da deposição de contaminantes.
A caracterização geoquímica e a descrição das fontes e processos requerem análise e tratamento multielementar, incluindo análise isotópica, que podem permitir a identificação e distinção da assinatura geoquímica urbana / antropogênica das contribuições geogênicas locais.
Referências Bibliográficas
Chambers, L.G.; Chin, Y; Filippeli, G.M.; Gardner, C.B.; Herndon, E.M.; Long, D.T.; Macpherson, G.L.; McElmurry, S.P.; McLean, C.E.; Moore, J.; Moyer, R.P.; Neumann, K.; Nezat, C.A.;
Soderberg, K.; Teutsch, N.; Widom, E. 2016. Developing the scientific framework for urban geochemistry. Applied Geochemistry 67 1-20.
Medeiros Filho, C.A. Notas sobre Geoquímica Urbana, in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/05/2016.
Medeiros Filho, C.A. Mapa Geoquímico Urbano – Ferramenta de Controle Ambiental, in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/07/2015.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.
in EcoDebate, 21/06/2016
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