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Refletir sobre o significado da Conferencia de Estocolmo e do Dia Mundial do Meio Ambiente, artigo de Reinaldo Dias

 

Legendária líder indiana Indira Gandhi fala na primeira conferência da ONU sobre o clima, em Estocolmo (1972): inauguração da agenda ambiental . (Foto: Yutaka Nagata/UN)

 

[EcoDebate] Data comemorada em todo mundo como o Dia Mundial do Meio Ambiente, o 5 de junho foi escolhido em 1972 para marcar o início da primeira grande Conferencia da ONU sobre o Meio Ambiente, que ocorreu nesse ano em Estocolmo, Suécia. Considerado um marco no debate ambiental global, o evento criou o Programa nas Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) principal órgão da governança global em matéria ambiental.

Mas o fato marcante dessa reunião é que, embora não tenha sido convocada explicitamente para discutir o desenvolvimento, a Conferência tornou-se um fórum de debates entre diferentes posições dos países desenvolvidos e em desenvolvimento (estes na época denominados subdesenvolvidos ou do terceiro mundo).

Os países desenvolvidos compareceram com propostas de limitação do desenvolvimento econômico nos países subdesenvolvidos, justificando com a necessidade de preservar o estoque de recursos naturais existentes em termos globais. Os países do terceiro mundo por sua vez, atuando em bloco, adotaram uma postura defensiva, argumentando que a questão ambiental encobria na verdade uma ação das grandes potências para inviabilizar a expansão do parque industrial dos países em vias de desenvolvimento.

O resultado da inesperada polarização foi a formação de uma nova divisão entre as nações no sistema internacional baseada na oposição entre os países ricos do norte e os pobres do sul, pois a que prevalecia até então, dividia os países entre comunistas e capitalistas. Esse novo panorama explicitava duas novas preocupações: o esgotamento dos recursos naturais e a redistribuição de renda no planeta como forma de desenvolvimento dos países do sul.

Por isso, no dia mundial do meio ambiente devemos recordar que surgiu numa Conferencia que inaugurou um debate sobre a relação entre crescimento econômico e meio ambiente que teve consequência, mais tarde, na elaboração de uma nova proposta de desenvolvimento, o sustentável, que hoje predomina em termos globais como perspectiva para a humanidade. Assim, a data, além de comemorativa, deve servir para reflexão sobre os problemas ambientais globais e a responsabilidade dos países desenvolvidos, que ainda persistem em explorar de forma abusiva os recursos naturais dos países do Sul.

Há inúmeros exemplos dessa prática exploratória dos países desenvolvidos. Diversos tipos de resíduos são despejados nos países em desenvolvimento: lixo eletrônico na Nigéria, lixo naval em Bangladesh, baterias de automóvel em inúmeros países que causam a morte de milhares de pessoas contaminadas pelo chumbo. Esta última prática consiste no desmonte de baterias sem proteção alguma, principalmente em Gana, Camarões, Quênia e Indonésia. Somente nos países africanos são desmontadas anualmente um milhão e duzentas mil baterias que vão abastecer de chumbo o mercado europeu.

Os países mais desenvolvidos destacam, muitas vezes, a utilização de produtos ecológicos desconsiderando sua cadeia produtiva. Um exemplo é o óleo de Palma, considerado combustível ecológico na Europa, é extraído de plantações em áreas de florestas milenares derrubadas na Indonésia e que serviam de refúgio para animais raros e ameaçados de extinção como orangotangos, tigres e rinocerontes.

Retrocesso se observa também na população de grandes e simbólicos animais dos países em desenvolvimento, onde elefantes, rinocerontes, leões, tigres, onças entre muitos outros estão desaparecendo ameaçados de extinção. Por outro lado, avanços devem ser registrados na Europa e América do Norte, o lobo que estava quase extinto é encontrado atualmente na maioria dos países, seguem o mesmo caminho, as populações de bisões, ursos entre outros.

Passados mais de quarenta anos desde a Conferencia de Estocolmo, a relação perversa entre desenvolvimento dos países do Norte e do Sul permanece, acentuando-se em termos ecológicos com novas vertentes de exploração, nada sutis, como tornar vários países em desenvolvimento em cloacas do mundo.

Como reflexão, nesse dia devemos considerar que o avanço rumo a padrões sustentáveis de desenvolvimento global passa necessariamente pela resistência dos países em desenvolvimento ao neocolonialismo ecológico promovido pelos países mais ricos. E que só a superação da extrema pobreza permitirá avanços rumo a sustentabilidade.

*Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais

 

in EcoDebate, 09/06/2016

[cite]

 

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