Enlace de sustentabilidade, Parte I, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] SILVA et. al. (2014) asseveram que a agricultura passa por um processo transitório pelo qual os agricultores desenvolvem no campo uma forma sustentável de conduzir os recursos naturais com uma preocupação de preservação e ao mesmo tempo de aproveitamento para gerar uma maior qualidade de vida nos assentamentos.
Pode ser denominado este processo transitório de “Enlace da Sustentabilidade” que se compõe de três parâmetros, a transição agroecológica, a soberania alimentar e a economia solidária.
Para isso as vivências efetuadas no assentamento Soledade em Ipojucá, Pernambuco, no contexto da agricultura brasileira, em que a lógica do agronegócio predomina, é um exercício libertário.
Uma marcante transformação na agricultura foi a emergência de uma lógica que defendia o campo como um local de atraso desvalorizando o conhecimento do camponês, introduzindo a necessidade da aquisição de insumos agrícolas (sementes, fertilizantes, inseticidas, herbicidas) gerando um desequilíbrio social e ambiental gerados pela “Revolução Verde”.
Desta forma, a revolução verde agravou o potencial para a segurança alimentar no Brasil, principalmente através de programas de extensão que espalham essa lógica entre grande parte dos agricultores familiares, que em muitos casos deixaram de produzir por não conseguir se adequar a esta realidade (TEIXEIRA 2013).
Um fator importante é a forma como vem sendo produzida as pesquisas agropecuárias que não levam em consideração as características e conhecimentos dos agricultores, almejando um processo de artificialização da atividade, resultando numa crescente dependência de insumos agroquímicos, prejudiciais ao meio ambiente e a saúde dos agricultores e consumidores.
SILVA et. al. (2014) asseveram que o estudo e pesquisa estão distantes do campo sendo este voltado para meios artificiais de pesquisa, que se especializam em estudos teóricos gerado pelos médios e grandes produtores rurais desvalorizando o conhecimento do camponês e negligenciando sua vinculação com o campo.
Presencia-se também a fragilidade da formação agroecológica nos assentamentos pelos extensionistas, levando a uma agricultura um pouco distante dessa visão, onde a assistência técnica está pouco preparada para tal formação expondo para os agricultores uma lógica que retira a autonomia camponesa (ESTEVÃO, et al 2010).
Se percebe o andamento das dimensões, transição agroecológica, soberania alimentar e economia solidária. Planejando a construção de um novo paradigma formado da relação direta entre entidades, universidades e agricultores para que assim haja uma valorização adequada desta realidade.
Já foi organizado um grupo de mulheres que era denominado “Grupo de Mulheres Sertanejas” iniciado em 1997. Trabalhavam com a fabricação de corante feito do processamento do urucum e a produção de polpas de frutas como cajarana, goiaba, acerola, hoje existe a tentativa de reorganizar esse projeto que foi desenvolvido pelo Projeto Semeando Agroecologia/União Européia.
Desde 1998 esse assentamento deu prosseguimento ao trabalho de gênero até hoje. Já desenvolveram projetos que repercutiram de maneira positiva no assentamento, mostrando a importância da participação da assistência técnica nos assentamentos, para uma melhor formação e acompanhamento dos agricultores
Enlace de sustentabilidade requisita a união de transição agroecológica, soberania alimentar e economia solidária na construção de uma práxis agroecológica.
Referências:
ESTEVÃO, P., CASTELA, E. F. de, SOUSA, D. N. de, MILAGRES, C. S. F. A. Extensão rural e sua trajetória histórica. VIII Congresso Latino-americano de Sociologia Rural, Porto de Galinhas, 2010.
TEIXEIRA, G., O agronegócio é ‘negócio’ para o Brasil? Presidente da ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária, 2013
SILVA, Maria Janaina Nascimento, AGUIAR Kalianne Carla de Souza , LEMOS, Marcílio de, COSTA, Paula Alinne de Almeida. O Enlace da Sustentabilidade no Assentamento Soledade: Vivenciando e Construindo saberes agroecológicos. Cadernos de agroecologia, v. 9, n. 4, 2014
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 07/06/2016
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A distância dos que vivem nas cidades (pessoas, instituições, leis e conhecimentos das ciências e tecnologias), em relação às ocorrências no campo, onde nos beneficiamos do que o campo produz, permitiu a invasão dos agrotóxicos, dos OGM´s, dos estragos do solo, das águas e da biodiversidade dos nosso biomas. Deixamos as pessoas do campo sózinhas, sem apoio, e deu no que deu. Ainda bem que estamos acordando com os modelos agroflorestais, permaculturais, orgânicos e variadas ecotécnicas para resgatar o estragado, e caminhar para um modelo mais sustentável.
Concordo plenamente Edgard…
Grande abs…
RNaime
Olá Roberto Naime,
Fiquei muito feliz quando me enviaram esse seu artigo. Esse é um projeto de pesquisa e extensão que desenvolvemos aqui na UFERSA, quer propicia vivências de estudantes em assentamentos e comunidades rurais, tendo como matriz o Enlace da Sustentabilidade, tão bem retratado no seu artigo.
Em m julho estaremos lançando um livro sobre as vivências, inclusive essa em Soledade.
Só uma pequena correção: o Assentamento Soledade, fica em Apodi (RN).
Abraço,
Joaquim Pinheiro – Professor (UFERSA)
Olá Roberto Naime,
Muito bom ver que existe companheiros de luta, que acreditam na construção desse paradigma agroecológico. E, fico muito feliz em ver meu estudo sendo disseminado para mais pessoas.
O Professor Joaquim Pinheiro, foi e é uma figura de grande importancia para esse estudo, que se segue cada dia mais forte.
Uma colocação: Observo que a assistência técnica continuada, sendo ela calcada no conhecimeto agroecológico, exerce um dierecial gigantesco na construção do E.S..
Uma correção:o Assentamento Soledade, fica em Apodi (RN).
Parabéns pelo trabalho,
Janaína Nascimento- Eng° Agrônoma.