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Artigo

A morte de Clara Eliza, a médica cubana, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

opinião

 

[EcoDebate] Faleceu em Bom Jesus da Lapa a médica cubana Clara Eliza, 46 anos, vítima do H1N1. É imperdoável que aqueles que lutam para pôr um limite na crueldade do sistema capitalista, expresso na saúde pública, não tenham dito uma única palavra.

Quando cheguei para morar no sertão, Campo Alegre de Lourdes, Bahia, junto com outros colegas, o índice de desenvolvimento humano sequer era calculado. Em 1990 era de 0,27. Em 2000 era de 0,32. Em 2010 era de 0,56. Ainda um dos mais pobres do Brasil, mas já não índices de miséria absoluta.

Um prefeito do PC do B, alguns anos atrás, quis contratar um médico permanente para o município, se dispunha a pagar 22 mil reais ao mês, e nunca conseguiu um brasileiro que se dispusesse a morar naquele sertão.

Nos últimos anos 3 médicos cubanos, alocados no “Mais Médico”, não só foram morar em Campo Alegre, mas foram morar no interior do município, onde só íamos nós e quando havia a SUCAM.

A solidariedade é uma das mais belas virtudes de alguns seres humanos. É a capacidade de se colocar no lugar do outro, assumir suas dores e problemas e de se comprometer com os mais vulneráveis ao preço da própria vida.

Bom Jesus da Lapa, cidade santuário do Bom Jesus e de Nossa Senhora da Soledade, nas grutas às margens do rio São Francisco, conhece agora essa solidariedade ao extremo.

Em tempos de mesquinharia total, de almas pequenas, de disputas mortais pelo poder, Clara Elisa é o sinal que as mais belas virtudes do ser humano ainda subsistem em alguns corações.

Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

 

in EcoDebate, 29/04/2016

[cite]

 

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5 thoughts on “A morte de Clara Eliza, a médica cubana, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • O artigo do Gogó chama a atenção para um problema muito sério: a gripe H1N1 está chegando ao sertão.
    Antes, confinada às grandes cidades, onde existem as grandes aglomerações, o vírus H1N1 não havia se manifestado ainda em comunidades pequenas. Com a suspeita da morte da Dra. Clara Elisa ter sido por infecção pelo H1N1, o caso muda de figura.
    Penso que seja o momento de se generalizar a aplicação de vacina contra o H1N1 pelo SUS e não confiná-las apenas a nós, que pertencemos ao chamado grupo de risco.
    Lembremos do Dr. Oswaldo Cruz e de sua campanha de vacinação obrigatória contra a varíola no século XIX.

  • Paulo Afonso, o que o Gogó mais quis ressaltar é que os pobres do sertão necessitem médicos que talvez pouco tenham acessado…

    Mas concordo contigo, sempre digo que não deixam o Oswaldo Cruz descansar…

    Abs…

    RNaime

  • claudia visoni

    Gogó,
    Linda homenagem. Essa sim era uma mais-médica.
    Abs!

  • Álvaro Rodrigues dos Santos

    Linda e oportuna homenagem. Trabalhei por um bom tempo, como geólogo, justamente nessa região, Bom Jesus da Lapa, Santa Maria da Vitória, e conheci de perto as enormes carências da população local em tudo, mas especialmente em assistência médica. É de se imaginar a forte ligação humana da valente e sofrida gente sertaneja com médicos que não mediram esforços em estar com eles e assisti-los. Tenho certeza, a nobre médica cubana Clara Eliza estará eternamente no coração desses brasileiros, talvez esse o único pagamento que realmente lhe interessou em sua profissão.
    Álvaro

  • Fiquei consternada com a morte desta médica, que tanto ajudou ao mais médicos

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