EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Alô, mamãe! … E pelos meus filhinhos, digo SIM! No ar, mais um campeão de indecência! artigo de Manoel Marcondes Machado Neto

 

opinião

 

[EcoDebate] O lastimável espetáculo midiático do domingo, 17 de abril, na votação da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados superou em audiência – e bizarrice – qualquer matéria já vista no Fantástico ou no Domingo Espetacular. A coisa estava mais para um Topa Tudo Por Dinheiro com audiência de Copa do Mundo.

Mas, no caso, quem perdeu de 7 a 1 foi a consciência cívica brasileira – se é que isto ainda existe. Sim, porque os atores da pantomima (como já se referira Fernando Collor à mesma edição do ‘programa’, lá no Vale a Pena Ver de Novo de 1992) foram por nós eleitos, e em termos de legitimidade, a todos nós representavam.

Tudo farinha do mesmo saco

E se é pouca, meu pirão primeiro! Também, quem mandou o time do PT aliar-se à ‘seleção’ do PMDB – e aí vai a escalação dos onze titulares: Temer, Sarney, Renan, Jader, Jucá, Cunha, Moreira, Pezão, Paes, Piccianão e Piccianinho. Tá certo – ou tá errado? – que o Piccianinho marcou o gol contra, mas… – esta falha não prejudicou o resultado do nosso trabalho de equipe… deviamos ter escalado o Cabral ou o Geddel no lugar desse aspirante…

Quer que eu desenhe?

Peraí! Mas quem é que está falando de futebol? O assunto aqui é política! Então, vamos explicar direitinho. No presidencialismo ‘de coalizão’ (para lembrar o termo favorito do ex-craque George W. Bush), não tem jogo se você não formar um clube dos treze, ou quatorze, ou dos vinte e cinco. E olha que está fácil, pois temos, hoje, 35 opções no plantel partidário.

Mas… sempre tem um mas… o que dizer de cada uma delas se, na foto, as opções parecem todas iguais? Ninguém consegue distinguir o ponta-esquerda do ponta-direita, o beque central do centroavante. Dá para distinguir só o goleiro – aquele ali de chuteira vermelha… o Cardozão – e, ainda assim… – tem um monte de gente na torcida vaiando ele… Parece que são de outra corrente no meio da torcida organizada.

E tem outra coisa sinistra… – a técnica Dilma montou praticamente toda a equipe reserva com base naquele timinho que nem existia quando ‘a liga’ criou o campeonato… – o PSV Eindhoven? – Não, o PSD do Kassab. O coach FHC diria… – assim não dá, assim não pode.

No fim do jogo, a gente ainda teve que aturar aquela chatíssima resenha esportiva com os boleiros mandando beijinhos para as câmeras: – Alô, Mamãe! – Alô, Marcilene! – Alô, amigo suplente Uóston! – Alô, meu querido pai Jefferson! E por aí foi o circo de horrores…

Na moral

Agora, sem o Bial no dial, vamos falar sério. A presidenta fez um gol quando, no calor dos protestos de 2013, antes de sua reeleição, falou em constituinte exclusiva e reforma política. O problema é que ninguém mais ouviu, naquele momento, a voz rouca das ruas… e ficamos diante – como nunca dantes – dos discursos de nossas excelências (… ou seriam excrescências?) em todo o seu paroquialismo, patrimonialismo e papagaísmo.

Em 2014, antes das eleições daquele ano, o Observatório da Comunicação Institucional realizou uma pesquisa sobre o discurso dos partidos políticos brasileiros. Analisou o que todos à época (eram, então, 32 siglas) diziam sobre si mesmos na grande rede, a internet. E o que se concluiu? Duas coisas: (1) Que TODOS os partidos se comunicam muito mal com a cidadania, e (2) Que os partidos, TODOS, não se distinguem uns dos outros perante o eleitorado. Todos falam mal e todos falam a mesma coisa. Ora, se a comunicação – que é a ponta do ‘iceberg’ – mostra tão graves defeitos é porque toda a montanha de gelo (que não vemos), o ‘corpus’ partidário, está defeituoso. E os partidos são, simplesmente, as principais instituições de uma democracia representativa!

Diante de tais achados, não percamos mais tempo! Game Over, Tilt, Reset. É preciso, ‘político-partidariamente’ falando, refundar a República Federativa do Brasil-il-il!!!

Prorrogação: sobre as 32 amorfas siglas partidárias brasileiras, hoje com representantes no Congresso Nacional, acesse o infográfico no portal do Observatório da Comunicação Institucional

Manoel Marcondes Machado Neto é doutor em Ciências da Comunicação pela USP, pesquisador e professor associado da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. É cofundador do Observatório da Comunicação Institucional e líder do grupo de pesquisa “Gestão e Marketing na Cultura” junto ao CNPq. É autor de quatro títulos de referência na área comunicacional e coautor de outros três títulos. Secretário-geral do Conrerp1 entre 2010 e 2012, foi eleito “relações-públicas do ano” em 2013. Edita o portal www.marketing-e-cultura.com.br

 

in EcoDebate, 27/04/2016

[cite]

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.

3 thoughts on “Alô, mamãe! … E pelos meus filhinhos, digo SIM! No ar, mais um campeão de indecência! artigo de Manoel Marcondes Machado Neto

  • Prof. José de Castro Silva

    Excelente artigo, Manoel Marcondes. Falou tudo.
    Alguma coisa precisa ser feita para o futuro. E agora????
    Não adianta criticar porque foi a voz das urnas. Mais do que a vontade pessoal do candidato, o agora deputado foi contemplado por milhões de votos dos eleitores. Foi o povo que os colocou lá. É a voz das ruas.
    Se a Dilma obteve 54 milhões de votos, onde estão os seus eleitores. Poucos se arriscam a dizer que votaram nela.
    Então, teremos que conviver com o espetáculo circense por longo tempo ou sonhar que os eleitores, um dia, saibam escolher melhor os seus representantes.
    Que digam e façam alguma coisa mais do que mandar beijos e abraços. Pobre Brasil….

  • Acho de um rigorismo extremo a forma crítica com que o autor se referente ao que denomina “Espetáculo Midiático” que culminou com a admissibilidade do processo de impeachment da Presidente da República! Aonde quer ele chegar, não entendi. Na verdade os Deputados se apresentaram “em serviço”, como poucos o fazem, como puderam, eis que, sabe-se, a oportunidade de fazerem discursos e pronunciamentos no Parlamento é mínima. Não pude assistir a sessão toda, mas vi os votos, que ora me lembro, de Jean Willis, Jair Bolsonaro, Sílvio Costa e outros, cabendo, por mérito próprio, evidenciar o voto do TIRIRICA. Tiririca foi simples, objetivo e autêntico, QUEM DIRIA? votou pelo SIM sem espetaculizar e, assediado por situacionistas, deu a resposta devida contra a “venda” do seu voto, E com humildade redarguiu aos que o agrediram com palavras agressivas como “traidor” e outras de baixo calão: “isso é o que vocês pensam”. Jean Willis, abaixo da crítica, e Bolsonaro perdendo excelente oportunidade de ficar calado. Quem diria? Espero que tudo passe o mais rápido possível e que o Brasil possa caminhar, a despeito de tanto defeito que existe. Afinal de contas, perfeito o ser humano não é, GRAÇAS A DEUS!!!

  • Prof. José de Castro Silva

    Prezada Elisa:

    Interpretei a crítica do colega Manoel Marcondes como procedente pela forma como os nobres deputados alegaram os seus votos. Estava em julgamento o procedimento jurídico-político do afastamento de uma Presidente da República, bem como sua avaliação no envolvimento, que se caracterizaria como crime ou não.
    O espetáculo midiático referido é que apenas 42 deputados de todos os presentes (mais de 500) se referiam ao processo em julgamento em si.
    Não questionamos o resultado e nem as motivações para a manifestação do voto dos parlamentares. Questionamos, sim, os argumentos apresentados; “em nome da mãe, da esposa, da sogra, dos netos, dos afilhados….de Deus …de todos os brasileiros).
    Quanto aos posicionamentos do Jean Wiliis, do Bolsonaro e alguns poucos, tudo se torna mais lamentável. São parlamentares que nos envergonham e que deveriam ser banidos. Mas estão lá porque foi a vontade das ruas. Estão lá porque seus eleitores assim o quiseram. E isto é o Brasil; alguém chama isto de democracia, porque representa o país-plural: eles representam esta parte do Brasil.

Fechado para comentários.