Conservação in situ, ex situ e on farm, parte I, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Site do Ministério do Meio Ambiente (MMA) explana princípios da conservação.
Preocupados com as altas taxas de erosão de recursos genéticos e com a perda de componentes da biodiversidade e, mais ainda, interessados no incremento de esforços voltados à conservação dos recursos biológicos em todo o planeta, houveram, negociações, no âmbito do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), que resultaram na adoção da Convenção sobre Diversidade Biológica.
Independentemente da condição episódica de usuário ou provedor de material genético do país considerado.
Recentemente, convencidos da natureza especial dos recursos fito-genéticos para a alimentação e a agricultura e conscientes de que esses recursos são motivo de preocupação comum da humanidade, e também cientes de sua responsabilidade para com as gerações presentes e futuras, os países aprovaram, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Tratado Internacional sobre Recursos Fito-genéticos para a Alimentação e a Agricultura, do qual o Brasil é um dos seus membros.
Diversidade biológica ou biodiversidade são expressões que se referem à variedade da vida no planeta, ou às propriedade dos sistemas vivos de serem distintos.
Engloba as plantas, os animais, os microrganismos, os ecossistemas e os processos ecológicos em uma unidade funcional. Incluem a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos e genéticos e seus componentes, propriedade fundamental da natureza e fonte de imenso potencial de uso econômico.
É também o alicerce das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras,extrativistas e florestais e a base para a estratégica indústria da biotecnologia.
A conservação global da biodiversidade significa maior segurança para os programas relacionados à produção agrícola e à conservação biológica, bem como para a segurança alimentar, constituindo-se em um componente essencial para o desenvolvimento sustentável e para a própria manutenção da diversidade genética das espécies com importância sócio-econômica atual e potencial.
O Brasil, por sua própria natureza, ocupa posição de destaque dentre os países mega-biodiversos. Conta com a mais diversa flora do mundo, número superior a 55 mil espécies descritas cerca de 24% do total mundial. Possui alguns dos biomas mais ricos do planeta em número de espécies vegetais.
A Floresta Amazônica brasileira, com aproximadamente 30 mil espécies vegetais, compreende cerca de 26% das florestas tropicais remanescentes no planeta.
O País conta ainda com a maior riqueza de espécies da fauna mundial e, também, com a mais alta taxa de endemismo. Dois de seus principais biomas, a Mata Atlântica e o Cerrado, estão relacionados na lista dos 25 “hotspots” da Terra, sendo que a Mata Atlântica encontra-se entre os cinco mais ameaçados.
Uma em cada onze espécies de mamíferos existentes no mundo são encontrados no Brasil que registra 522 espécies. Juntamente com uma em cada seis espécies de aves com 1677catalogadas no país, uma em cada quinze espécies de répteis no total de 613 do país, e uma em cada oito espécies de anfíbios totalizando 630.
E mais de 3 mil espécies de peixes, três vezes mais do que qualquer outro país. Muitas dessas são exclusivas para o Brasil, com 68 espécies endêmicas de mamíferos, 191 espécies endêmicas de aves, 172 espécies endêmicas de répteis e 294 espécies endêmicas de anfíbios. Esta riqueza de espécies corresponde a pelo menos 10% dos anfíbios e mamíferos, e 17% das aves descritos em todo o planeta.
A composição total da biodiversidade brasileira não é conhecida e talvez nunca venha a ser na sua plenitude, tal a sua magnitude e complexidade. Nesse sentido, e considerando-se que o número de espécies existentes no território nacional, particularmente na plataforma continental e nas águas jurisdicionais brasileiras, em grande parte ainda desconhecida, é elevado, é fácil inferir que o número de espécies, tanto terrestres quanto marinhas, ainda não identificadas, no Brasil.
Apesar dessas estimativas, a realidade é que o número de espécies conhecidas atualmente, em todo o planeta, está em torno de 1,7 milhões, valor que atesta o alto grau de desconhecimento da biodiversidade, especialmente nas regiões tropicais.
Além disso, é interessante registrar que a maior parte dos conhecimentos sobre a biodiversidade no nível específico se refere a organismos de grande porte. O nosso conhecimento sobre outros organismos, a exemplo dos insetos, liquens, fungos e algas é ainda muito incipiente.
A parcela da biodiversidade menos conhecida está localizada na copa das árvores, no solo e nas profundezas marinhas.
Em relação aos recursos fitogenéticos, estimativas da FAO indicam a existência, em âmbito mundial, de cerca de 6,5 milhões de acessos de interesse agrícola mantidos em condição “ex situ”, que quer dizer deslocados de seu habitat original.
Desse total, 50% são conservados em países desenvolvidos, 38% em países em desenvolvimento e 12% distribuídos nos Centros Internacionais de Pesquisa (IARCs), do Grupo Consultivo Internacional de Pesquisa Agrícola (CGIAR).
Os recursos genéticos são mantidos em condições “in situ”, “on farm”, e “ex situ”. A conservação “in situ”, ou seja no local de origem dos recursos genéticos é realizada, basicamente, em reservas genéticas, reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável. A conservação “in situ” de recursos genéticos pode ser organizada também em áreas protegidas, seja de âmbito federal, estadual ou municipal.
As reservas genéticas, por exemplo, são implantadas e mantidas em áreas prioritárias, de acordo com a diversidade genética de uma ou mais espécies de reconhecida importância científica ou sócio-econômica. Teoricamente, essas reservas podem existir dentro de uma área protegida, de uma reserva indígena, de uma reserva extrativista e de uma propriedade privada, entre outras.
Nos termos da Convenção sobre Diversidade Biológica, conservação “in situ” é definida como sendo a conservação dos ecossistemas e dos habitats naturais e a manutenção e a reconstituição de populações viáveis de espécies nos seus ambientes naturais e, no caso de espécies domesticadas e cultivadas, nos ambientes onde desenvolveram seus caracteres distintos.
A conservação “in situ” apresenta algumas vantagens, tais como permitir que as espécies continuem seus processos evolutivos, favorecer a proteção e a manutenção da vida silvestre, apresentar melhores condições para a conservação de espécies silvestres, especialmente vegetais e animais, oferecer maior segurança na conservação de espécies com sementes recalcitrantes e conservar os polinizadores e dispersores de sementes das espécies vegetais.
Deve-se considerar, entretanto, que este método é oneroso, visto depender de eficiente e constante manejo e monitoramento, pode exigir grandes áreas, o que nem sempre é possível, além do que a conservação de uma espécie em um ou poucos locais de ocorrência não significa a conservação de toda a sua variabilidade genética.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 26/04/2016
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