Filma eu, Galvão ! artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] O espetáculo do impeachment foi marcado para domingo, 17 de abril, para passar ao vivo na TV e ter a audiência e a influência da ampla maioria da população favorável a tirar esse governo e colocar outro, qualquer que seja. Temer e Cunha já anteveem seu dia de glória, Temer até já gravou o discurso, que vazou antes.
A preferência de 79% da população seria por novas eleições, se o TSE julgasse o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer. Mas como o TSE não tem priorizado esse processo, a população quer que tirem a Dilma mesmo assim, mesmo que só 12% aprovem Temer e que Cunha, notório corrupto, seja o condutor do impeachment.
Do ponto de vista Constitucional – que é o que separa uma medida legal de um golpe político – o Impeachment é previsto para situações juridicamente graves e comprovadas relacionadas à Presidência. Por isso o The New York Times essa semana descreveu o episódio como um golpe patrocinado por corruptos, já que o processo é conduzido pelo Cunha. No Brasil, o debate jurídico mais técnico ficou em segundo plano, pois a opinião pública já fora formada com o vazamentos dos áudios, que posteriormente o juiz Moro se desculpou perante o STF por ter liberado.
O que tivemos domingo, então, foi um grande espetáculo, com possíveis recordes de audiência, milhões de pessoas de amarelo nas ruas, talvez outros milhões de vermelho, enfim, tudo que se espera de um domingo de sucesso na TV, com duas grandes torcidas vibrando pelos seus “times”.
Sem debates reveladores, pois todos já tem opinião formada. Foi um dia de jogos de cena, onde Deputados indiciados por corrupção encheram a boca para criticar a corrupção do outro lado. Não foi um dia de politização, embora se trate de política, pois ela não foi conduzida por discursos com conteúdos, mas por apelos emocionais, “patrióticos”, mirando alguns segundos na TV.
“Nunca antes na História desse país”, a mais arrogante das frases do Lula e sua turma, PT e Dilma incluídos, se voltou contra seus autores. Ao se dizerem os únicos virtuosos, “nunca ninguém fez tanto”, não reconhecendo méritos em mais ninguém na História do país, quando apareceram seus desvios se tornaram alvos das mesmas frases, do tipo “nunca ninguém roubou tanto”.
A provável saída desse governo e do clima que se instalou pró e contra ele não garante que o debate político supere a fase do maniqueísmo. A política, cada vez mais, é um espetáculo de mídia, de marketing viral, de “memes”, de construção e desconstrução de imagens. Muitas pessoas que participam pela primeira vez estarão aprendendo a fazer política de um modo mais passional que racional, torcendo por um dos “times”, com a mesma passionalidade do futebol. Filma eu, Galvão !
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
in EcoDebate, 18/04/2016
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