A água que nós bebemos, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Um juiz federal liberou a Samarco de fornecer 2 litros de água diária a cada morador de Colatina, ES, foz do Rio Doce, dizendo que o rio já estaria “potável” 3 meses após a contaminação mineral. Essa empresa, a Vale e a BHP (as controladoras da Samarco) aceitaram acordo de indenização de 20 bilhões (seu lucro anual beirava os 3 bilhões) para recuperar a bacia do Rio Doce num prazo de 10 anos. Quanto tempo leva, afinal, para se recuperar um rio contaminado por resíduos metálicos?
A contaminação da água por metais ocorre em todo o país e é um dos fatores causadores de câncer, embora você não ouça falar disso na mídia habitualmente. Um levantamento de quase 100 rios em 7 estados brasileiros mostrou que apenas 11% se mantém com águas limpas. Esgotos domésticos, efluentes industriais, alguns com metais pesados, poluentes orgânicos persistentes e o lixo das mais diversas origens são fontes de poluição.
O problema dos metais na água, que não costuma se divulgado, é que partículas deles persistem mesmo após os métodos de tratamento desta. É ilusório achar que água tratada recupera sua pureza, pois há resíduos metálicos mesmo após o emprego dos melhores sistemas de limpeza. E são justamente esses resíduos que afetam a sua saúde, contribuindo para um aumento significativo dos casos de câncer nas metrópoles.
A tragédia do Rio Doce deveria servir de alerta para o problema da qualidade da água, para mais além dos casos de contaminação evidentes. Surreal o desconhecimento de um magistrado federal capixaba capaz de acreditar que em poucos meses um rio poderia se recuperar. O problema dos mais de 200 milhões de brasileiros está na contaminação invisível das águas que não estão nas manchetes dos telejornais.
É um progresso debatermos tão abertamente a corrupção quanto as escalações dos times de futebol. Mas nem só de corrupção se mata um povo, de negligência também. Houve negligência por falta de barreiras sanitárias contra o Aedes Aegypte ? Com a contaminação de 89% dos nossos rios, está havendo grave negligência nessa área.
Enquanto a água que bebemos não for assunto corrente, enquanto acharmos que as técnicas de limpeza resolvem tudo, enquanto não se divulgam abertamente as correlações entre câncer e outras doenças (como alergias) com a poluição, nossa saúde sofrerá em silêncio. Vivemos esses riscos por uma ignorância coletiva de algo tão fundamental quanto a qualidade da água que nós bebemos.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
in EcoDebate, 15/02/2016
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Artigo singelo e fundamental…
Ocorre lembrar de experiência pessoal emblemática. Colaboradora do serviço de higienização de um grande hospital, referência no centro-oeste brasileiro, dentro de sua concepção humilde e sincera, certa noite numa ala destinada a pacientes com câncer terminal, fez constatação diagnóstica da maior relevância.
Indivíduos de origem européia, expostos a substâncias cancerígenas desde a primeira revolução industrial, da máquina a vapor, estão exibidos ao contágio de substâncias químicas potencialmente cancerígenas.
Aduziu que estes pacientes eram amplamente hegemônicos na referida ala hospitalar.
Cidadãos de origem afro-descendentes, segundo a colaboradora, costumavam ir a óbito por “unha encravada” numa clara alusão de um “chiste”, ”blague” ou pilhéria jocosa.
Metais pesados…
Abs…
RNaime
Excelente artigo. No entanto, como nada é perfeito, merece um pequeno reparo.
As técnicas de tratamento de água usadas pelas empresas de saneamento têm por objetivo situar a água dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Desse modo, a concentração de metais pesados na água que bebemos necessita estar dentro dos limites estabelecidos na Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde.
Em caso de discrepância com essa portaria, a água não pode ser servida à população.
Para maiores detalhes, sugiro consultar: http://www.comitepcj.sp.gov.br/download/Portaria_MS_2914-11.pdf.
Prezado Montserrat , se o intuito e informar , seu artigo nao cumpre a funcao. em nenhum momento voce disse que a agua do rio doce ja era um esgoto antes da tragedia de mariana , e colatina especificamente nao tem sequer uma estacao de tratamento de esgoto, poluindo ainda mais o rio apos passar pela cidade , esta tragedia do rio doce , nada mais e do que uma empresa tratando o rio como todas as cidades que o margeiam fazem , um esgoto a ceu aberto , seu artigo poderia no minimo informar a todos que o problema da agua ja e decano.