Força do El Niño deve agravar a seca que atinge o semiárido, diz Cemaden
Relatório divulgado nesta quarta-feira (18) aponta para cenário de poucas chuvas no Nordeste entre fevereiro e maio de 2016. Seca atinge 910 municípios e um milhão de propriedades da agricultura familiar.
Relatório divulgado nesta quarta-feira (18) pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI) aponta para um cenário de poucas chuvas na região Nordeste entre fevereiro e maio de 2016, o que deve agravar os impactos da seca que atinge a região.
O Relatório da Situação Atual da Seca e Impactos no Semiárido do País também revela que choveu pouco nos últimos 90 dias, sobretudo, no Maranhão, sul da Bahia, e norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Ainda que neste período sejam esperados índices pluviométricos mais baixos, nos últimos meses os acumulados foram abaixo da média. Segundo o Cemaden, a causa é o fenômeno El Niño, que está mais forte.
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“A avaliação das condições climáticas de grande escala mostra que o fenômeno El Niño está presente, intenso e em franco desenvolvimento. Sob este condicionante, no trimestre novembro-dezembro de 2015 e janeiro de 2016, há chances mínimas de reverter o quadro crítico, apontado pelo indicador de risco agroclimático. Outra indicação decorrente deste cenário climático, altamente provável, é que já se pode inferir que a próxima estação chuvosa do norte do Nordeste (de fevereiro a maio de 2016) apresente condições de deficiência de precipitação”, diz o documento.
Cerca de um milhão de propriedades da agricultura familiar estão localizadas nas áreas afetadas pela seca, em 910 municípios. De acordo com o índice VSWI (sigla em inglês para Índice de Vegetação de Abastecimento de Água), indicador de seca agrícola, esses municípios apresentam pelo menos 50% de suas áreas agrícolas ou de pastagens em condições de déficit hídrico.
Monitoramento
De acordo com a Resolução Nº 13, de 22 de maio de 2014 do Ministério da Integração Nacional e, posteriormente, com o Decreto Presidencial Nº 8.472, de 22 de junho de 2015, o Cemaden/MCTI tem a responsabilidade de fornecer informações para as ações emergenciais adotadas pelo governo para mitigar os impactos da seca. Assim, além do monitoramento da seca, o Cemaden desenvolve um sistema de alerta de riscos de colapso de safras para a agricultura familiar do semiárido.
Monitoramento das condições hidrometeorologicas
Nos últimos 90 dias (10/ago a 08/nov) os acumulados de chuva foram inferiores a 30 mm em grande parte dos municípios localizados na área de atuação da SUDENE. Ainda que neste período sejam esperados índices pluviométricos mais baixos, nos últimos meses os acumulados foram abaixo da média.
![seca](http://www.cemaden.gov.br/secaeimpactos/img/outubro/figura1.jpg)
Regiões consideradas “Muito Secas” pela análise dos percentis de chuva se localizam na porção leste, nos Estados do Maranhão, sul da Bahia, norte dos Estados de Minas Gerais e Espirito Santo. Considerando o calendário de plantio para o Estado do Espírito Santo (out-nov) tais resultados já indicam risco de queda na produção agrícola da região. Destaca-se ainda que a região norte de Minas Gerais vem enfrentando déficit de precipitação há 4 anos consecutivos conforme descrito no relatório anterior (mês setembro).
![seca](http://www.cemaden.gov.br/secaeimpactos/img/outubro/figura2.jpg)
De acordo com a avaliação do risco agroclimático (balanço hídrico) para o período de 07 de novembro de 2014 a 07 de novembro de 2015 (avaliação anual), 115 municípios foram classificados com risco agroclimático MUITO ALTO e 190 como risco ALTO. A maior parte desses municípios está localizada nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e norte da Bahia.
![seca](http://www.cemaden.gov.br/secaeimpactos/img/outubro/figura3.jpg)
De acordo com o índice VSWI, considerando os impactos da seca em áreas de atividades agrícolas e/ou pastagens, 910 municípios apresentaram pelo menos 50% de suas áreas impactadas pela seca. Tais áreas totalizam aproximadamente 50,5 milhões de hectares, onde estão incluídos cerca de 1 milhão de estabelecimentos de agricultura familiar.
Tabela 1. Avaliação da Extensão dos Impactos da seca
Previsão Climática Sazonal
![cantareira](http://www.cemaden.gov.br/secaeimpactos/img/outubro/figura4.jpg)
Os mais recentes indicadores atmosféricos e oceânicos mostram que o atual episódio de El Niño continua em franco desenvolvimento. O Indicador ONI (Oceanic Niño Index) do – Climate Prediction Center, da NOAA mostra que este episódio existe desde o trimestre FMA e vem se fortalecendo desde então.
A previsão por consenso do IRI-CPC (International Research Institute e Climate Prediction Center, ambos dos EUA) estima uma chance superior a 99% de que este episódio perdure até dezembro, e chance de 90% de duração até abril-maio. Portanto, as quadras chuvosas do semiárido serão influenciadas pelo fenômeno El Niño.
A previsão climática sazonal do MCTI para o trimestre NDJ/2015-16 prevê chuvas abaixo da média climatológica no extremo Norte e Nordeste do País. De acordo com a indicação das áreas (Fig. 7) todo o semiárido poderá potencialmente ser afetado.
Vale ressaltar que mesmo em anos de forte El Niño, como é o caso do presente episódio, podem ocorrer chuvas esporádicas e irregulares em sua distribuição espacial, porém, em geral os totais acumulados não superam a média climatológica.
Climatologicamente, o quadrimestre novembro a fevereiro, corresponde ao período chuvoso dos setores sul, central e noroeste da Bahia, além do extremo sul do Piauí. Dado que estes estados apresentam atualmente um quadro de déficit hídrico, o cenário climático atual implica que, nos próximos quatro meses, há chances mínimas de reverter o quadro crítico que o indicador de risco agroclimático mostra para alguns dos 120 municípios da Bahia, com mais de 50% de área impactada pelo déficit hídrico.
Tendências na escala de tempo subsazonal
Oscilações sub-sazonais
Nesta época do ano (novembro a janeiro) a Oscilação de Madden-Julian (OMJ) pode estar associada a eventos de precipitação no semi-árido. Porém, após um período de grande atividade (final de junho e julho) a OMJ enfraqueceu, prevalecendo atualmente atividade de mais baixa frequência associada ao atual episódio de El Niño, i.e., chuva acima da média no Pacífico Central-Leste.
As previsões não indicam que a OMJ nas próximas 2 semanas. Dadas estas condições, a OMJ não deve ter um papel relevante em acentuar ou amenizar condições de chuva no NE do Brasil, especificamente a Bahia, que deve iniciar o seu período chuvoso (NDJF) nos próximos três meses (NDJ).
Previsão por conjuntos para os próximos 10 dias
A previsão por conjuntos do modelo Eta-CPTEC/INPE indica chances de chuvas que podem atingir até 100 mm nos próximos 10 dias, no semiarido de MG e ES, resultantes da atuação de sistema frontal.
Figura 5 – Previsão de precipitação acumulada (mm) nos próximos 10 dias emitida pelo do modelo numérico ETA/CPTEC/INPE. Esta previsão é resultado da média de um conjunto de 7 membros (7 previsões semelhantes em que a cada previsão é iniciada com o estado da atmosfera ligeiramente diferente).
Projeção para a segunda semana – 24 de novembro a 01 de dezembro
As previsões para a segunda semana indicam que, após a chuvas devidas aos sistema frontal atuando no semiárido de MG e ES, as condições atmosféricas favoráveis a ocorrência de precipitação tendem a se esvanecer. Desta forma caracteriza-se um período desfavorável para a ocorrência de chuvas no semiárido.
Figura 6 – (Esq.) Previsão de anomalia de precipitação no período 24 a 30 de novembro de 2015, pelo modelo de previsão por conjuntos do NCEP/NOAA. (Dir.) Previsão de anomalia de precipitação no período 25 de novembro a 01 de dezembro de 2015, pelo modelo de previsão por conjuntos do CPTEC/INPE.
Fonte: Cemaden
in EcoDebate, 20/11/2015
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Muito bom. Parabéns.