Lideranças indígenas questionam eficácia das grandes conferências sobre clima
A Roda de Diálogos sobre Mudanças Climáticas, parte do Fórum Social Indígena dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI), reuniu ontem (26), em Palmas, lideranças indígenas de vários povos, que questionaram a eficácia de grandes conferências sobre clima.
“Nós estamos aqui, uma minoria dos povos, questionando os direitos que a Constituição Federal nos declara. A Eco 92 discutiu questões dos povos indígenas que até hoje não vingaram. Nunca se cansam de falar em meio ambiente, mas nunca chegam a um lugar comum”, afirmou o índio Carlos Tucano, que representa o povo Tucano.
“No nosso entendimento, a Rio+20 e a Eco 92 não progrediu porque os grandes poluidores se juntaram contra a luta [em defesa da terra] que os povos originários começaram”, disse o líder indígena Jeremias Xavante, lembrando que são os países do primeiro mundo que devastam o meio ambiente. O indígena cobrou da 21ª Conferência do Clima (COP21) resultados práticos à preservação ambiental. “Quero levar uma informação para o meu povo. Se eles se fizerem presentes serão ouvidos?”.
Na opinião do especialista em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Tocantins, Thiago Bandeira, o agronegócio e as grandes empresas que mais consomem água formam “uma classe corporativa e articulada em altos níveis”, que protege seus interesses a despeito da assinatura de acordos e tratados pelo não desmatamento.
A indígena e bacharel em Direito Maial Paiakan Kaiapó alertou sobre necessidade de avançar na preservação ambiental e disse que o mundo “já está pagando a conta das mudanças climáticas”. Ela defendeu que os indígenas tenham representantes no Congresso Nacional. “Os governantes nos representam mas moram nas cidades. O branco está ali como político, como representante do ideal dele. Precisamos nos unir para ter um representante”, disse Maial.
Os índios brasileiros aproveitaram para fazer novas críticas à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere a decisão sobre demarcação de terras indígenas do Ministério da Justiça para o Congresso Nacional. Para o líder Carlos Tucano, a demarcação é uma das principais providências a serem tomadas a favor da preservação ambiental. “É um fator principal, e sempre foi. Se o governo pode discutir a PEC 215, pode discutir também a demarcação de terras”, disse, sob aplausos.
Os indígenas também criticaram o silêncio de Dilma Rousseff, durante a cerimônia de abertura do evento, na última sexta-feira (23). Jeremias Xavante pediu uma posição da presidenta contra a PEC 215 e contra as mortes de índios Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. A presidenta não discursou no evento.
“A chefe da nação entrou muda e saiu calada, e não deu satisfação aos povos indígenas. Ficam só prometendo e na realidade não sai nada”, reclamou Carlos Tucano. Esperava-se um discurso de Dilma na cerimônia. Segundo uma pessoa presente na tribuna de honra, Dilma chegou a ser questionada durante a festa de abertura se haveria alguma fala, mas a posição da presidenta foi por apenas assistir o evento.
De acordo com a assessoria do Palácio do Planalto, um possível discurso foi descartado antes de Dilma chegar a Palmas. A interpretação foi de que a presença da presidenta se deu apenas como convidada em uma festa dos indígenas. O silêncio, no entanto, não soou bem para as lideranças, que esperavam com uma fala de apoio às suas causas, segundo alguns representantes indígenas.
Os debates feitos durante os Jogos vão resultar em uma Carta de Declaração dos Povos Indígenas, que será levada à 21ª Conferência do Clima (COP21), que ocorrerá em Paris, no mês de dezembro. A conferência tem o objetivo de elaborar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa.
Por Marcelo Brandão, da Agência Brasil, in EcoDebate, 27/10/2015
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