Abandono ameaça o rio que era um ouro, artigo de Gervásio Lima
[EcoDebate] “Tá tudo errado”. Essas foram as palavras de um garimpeiro ao ser interrogado sobre a extração ilegal do ouro, no leito do rio que leva o mesmo nome em Jacobina. Com uma simplicidade peculiar e marcas da labuta nas mãos calejadas, típicas dos que enfrentam as agruras de um trabalho rústico e perigoso, o trabalhador que não quis se identificar, resume o que está acontecendo com a relação entre o Rio do Ouro, mas precisamente o Parque da Macaqueira, e os órgãos competentes na proteção e defesa do patrimônio natural do município.
Um grande garimpo a céu aberto, o leito e as margens do Rio do Ouro servem ainda, em pleno Século XXI, como fonte de renda para garimpeiros que garantem o sustento de suas famílias com os poucos gramas de ouro encontrados semanalmente em um local que era para ser uma Área de Proteção Ambiental (APA).
Ainda de forma artesanal, como acontecia há centenas de anos, a extração do minério no Parque da Macaqueira é feita utilizando-se de recursos proibidos, como o mercúrio. O uso indiscriminado do mercúrio, elemento metálico, líquido e venenoso utilizado para processar o ouro é uma constante no local. Conhecido pelos garimpeiros como azougue, esse elemento químico é manuseado diariamente pelos trabalhadores que não têm noção alguma do perigo a que estão expostos. Além de poluir com um dos metais mais ofensivos para o meio ambiente, o garimpo é responsável pelo assoreamento de um dos principais afluentes do Itapicuru Mirim.
“Eles proíbe a gente de garimpar e não oferece nada pra gente tirar nosso sustento. Não vou deixar meus filho com fome, vou tirar o ouro escondido mas vou tirar”, disse o garimpeiro que a reportagem encontrou próximo à antiga Casa de Força e Luz, no Parque da Macaqueira. Segundo ele, o município proíbe a atividade mas não apresenta alternativas de sobrevivência para os ‘pais de família’. “Qualquer que fosse o serviço eu topava. Para conseguir encontrar ouro no rio está cada vez mais difícil e trabalhoso”, completou, garantindo que mudaria de comportamento se tivesse uma outra oportunidade de trabalho. “Tem semana que eu não consigo nem o dinheiro da feira”, concluiu.
Os problemas não são de exclusividade das áreas próximas à nascente do rio, onde acontecem as garimpagens. Lixos orgânicos e inorgânicos são jogados diuturnamente em todo o leito do histórico, lendário e folclórico Rio do Ouro. Para complicar ainda mais a situação daquele que até os dias atuais é responsável por parte do abastecimento de água da cidade, a Garagem Municipal, onde são realizadas as manutenções mecânicas de máquinas pesadas e outros veículos automotores, inclusive com lavagens das ambulâncias e dos demais carros, funciona em uma de suas margens.
Existem denúncias que o óleo automotivo e outros diversos dejetos gerados na Garagem da Prefeitura de Jacobina são jogados indiscriminadamente dentro do rio. Uma triste prova de que, quem deveria dá exemplo corrobora com a degradação e a poluição.
É sabido que o óleo lubrificante, quando dispensado no solo, pode matar as espécies naturais, além de a sua substância atingir o lençol freático. Conforme dados científicos, um litro de óleo automotivo pode contaminar um milhão de litros de água. O produto prejudica até mesmo o funcionamento das redes de esgotos. O descarte incorreto de óleo lubrificante pode gerar danos irreversíveis à saúde ao meio ambiente. Por vir do petróleo o óleo já é tóxico e contém altas concentrações que potencializam seus efeitos contaminantes.
Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador
in EcoDebate, 21/08/2015
[cite]
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POPULAÇÃO HUMANA E DESTRUIÇÃO AMBIENTAL.
“Abandono ameaça o rio que era um ouro”.
Lamentemos esse fato, que é apenas um entre milhões ou bilhões de outros, todos com potenciais de devastação ambiental considerável, em dimensões variáveis.
Os invasores europeus, que chegaram aqui, na América do Sul, no início do século XVI, implantaram, imediatamente, o processo de destruição do meio ambiente e dos povos primitivos que habitavam essas terras, utilizando armas e religião para destruir aqueles povos, e iniciaram a exploração desmedida dos recursos naturais, causando devastação ambiental de amplitude cada vez mais elevada.
As ocorrências destruidoras naquela época iniciadas, continuaram, através dos séculos, e estão presentes nos dias atuais.
Mas há uma diferença: o grau de destruição atual é milhões de vezes mais elevado do que foi no século XVI, visto que se desenvolveu em paridade com o crescimento da população humana.
Se mais não podemos fazer, lamentemos a destruição do povo e do meio ambiente, até quando restar algum recurso natural ou alguma vida a ser explorada e acumulada pelos donos do poder, sempre acobertados pelo poder das religiões.