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Geólogo discute soluções para enchentes e deslizamentos no Brasil

 

deslizamento de terra em Teresópolis, RJ

 

A partir de um diagnóstico das cidades brasileiras, Álvaro Rodrigues dos Santos defende que o primeiro passo para solucionar os problemas é “parar de errar”

Na manhã de terça-feira (14/7), o tema “Inundações e deslizamentos: problemas e possíveis soluções” foi discutido pelo geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, que atuou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece de 12 a 18 de julho na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Durante a apresentação, Santos selecionou imagens de diversas cidades brasileiras, incluindo São Carlos, para evidenciar os cenários causados pelas inundações. “A cidade impermeável é como se fosse um ‘selo’ de concreto, onde praticamente toda a água da chuva vai para o sistema de drenagem, que fica sobrecarregado”, explicou Santos, que também discutiu os deslizamentos, suas causas e algumas medidas possíveis. “O escorregamento de solo e de rochas nada mais é que a Natureza procurando uma situação de equilíbrio”, definiu.

O geólogo chamou a atenção para o uso equivocado do termo “desastres naturais” para se referir a esses fenômenos urbanos. “Os desastres naturais são aqueles sobre os quais os homens não podem interferir. São os casos, por exemplo, de maremotos e vulcanismos. Mas as enchentes e deslizamentos são fenômenos diretamente ligados à ação do Homem”, ressaltou.

Ao descrever uma dessas ações – a impermeabilização do solo –, Santos criticou a cultura de que as árvores causam sujeira. “Temos uma cultura urbana para o ajardinamento com grama, seguindo o modelo europeu. A grama é pouco mais permeável que o asfalto, permitindo pouca infiltração. No nosso caso, a floresta e os bosques cumprem muito melhor esse papel de injetar a água no lençol freático”, comparou.

Além da impermeabilização, Santos apontou outras técnicas equivocadas que causam os desastres nas cidades, incluindo a canalização de rios e córregos, a engenharia de áreas planas – levando à erosão – e o espraiamento geográfico, isto é, a expansão das áreas urbanas, impermeabilizando áreas cada vez maiores. “A combinação ideal para a cidade é um ambiente concentrado aliado a um ambiente saudável e confortável para o Homem.” Nesse sentido, Santos defende, dentre outras ações, a verticalização das cidades.

Santos também rebateu ideias difundidas como, por exemplo, a de que o lixo urbano é o maior causador de enchentes. “Perto de outros casos, o lixo urbano é praticamente desprezível. Pode, sim, causar problemas localizáveis como um bueiro entupido. Mas, se observarmos as imagens de enchentes, vemos que a água volta do sistema de drenagem pela própria pressão da água em seu interior”, detalhou. Comparado ao lixo urbano, a cultura da impermeabilização é mais grave. “Criminaliza-se o menino que joga um papel de sorvete no chão. Mas não se faz nada contra um supermercado, por exemplo, que impermeabiliza uma área de estacionamento, o que causa um prejuízo muito maior às pessoas”, disse.

Soluções
Além do diagnóstico dos desastres, Santos concentrou esforços para mostrar soluções para enchentes e deslizamentos. Mas destacou: “Para uma primeira decisão para evitar esses problemas, é preciso parar de errar. E o Brasil não começou isso ainda.”

Nos grupos de medidas estruturais e não estruturais, Santos apresentou ao público ideias diversas. Uma delas é a sarjeta drenante, que funciona com uma caixa, com cerca de um metro de profundidade, para retenção e infiltração da água das chuvas. As calçadas com áreas verdes e árvores, na sua opinião, também deveriam ser incentivadas pelos governos municipais, por meio de concursos e até redução do IPTU para imóveis com essas características. Ele também destacou a abundância na quantidade de água da chuva que poderia ser acumulada por reservatórios empresariais e domiciliares. “Precisamos abandonar essa cultura de que a água é um perigo e deve sair logo de nossa presença para tê-la como nossa amiga”, sintetiza.

A programação de conferências e mesas redondas da 67ª Reunião Anual da SBPC pode ser conferida em www.sbpc.ufscar.br.

Informações da UFSCar / Jornal da Ciência, in EcoDebate, 17/07/2015


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Alexa

2 thoughts on “Geólogo discute soluções para enchentes e deslizamentos no Brasil

  • Parabéns pelo excelente conteúdo do artigo. Lembro ao Álvaro que um dos maiores deslizamentos de terra do país ocorreu no natal de 1995, em Timbé do Sul em SC, registrando ainda que toda a área das encostas da Serra Geral eram e ainda são intactas, digo sem desmatamento ou qualquer tipo de ocupação humana. Caso interesse existe um estudo que o Geociências da UFSC realizou sobre o trágico evento que vitimou 29 pessoas de uma mesma localidade.

  • Prezado Tadeu,
    Você tem razão, os deslizamentos de Timbé em 1995, acompanhados de várias corridas de detritos (lama, rocha, árvores), como enorme energia destrutiva, constituiu um dos maiores movimentos naturais de encostas do país. Eventos como esse, de total caráter natural, ou seja, sem a indução humana, são raros, mas acontecem e mostram a altíssima suscetibilidade de certas regiões montanhosas nossas a deslizamentos.
    Forte abraço,
    Álvaro

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