Crise imigratória na Europa, artigo de Bruno Peron
[EcoDebate] A Europa contempla uma grave crise humanitária e imigratória em seu próprio território. Os contratempos pelos quais seus membros passam perturbam inclusive a estrutura e a coesão da União Europeia. Esta já estava frágil devido à crise financeira que desestruturou países como Espanha e Grécia. Agora este bloco de integração ficou ainda mais incerto e vacilante.
Botes e barcos precários levam centenas de migrantes da África e do Oriente Médio para que tentem a vida em países mais avançados da Europa. Muitos não chegam ao outro lado da travessia, pois adoecem ou afogam-se. Até início de junho de 2015, 950 pessoas haviam morrido no mar Mediterrâneo na tentativa de migrar à Europa. Somente num fim de semana de junho de 2015, houve o resgate de 6.700 imigrantes perto de ilhas no sul da Itália.
Por alguma razão de proximidade geográfica ou até de reputação maior de acolhimento, a maioria desses imigrantes chega à Itália e, a partir dela, tenta seguir viagem a outros países. Um ponto favorável é a pressão do Papa para acolher os imigrantes. Além disso, italianos foram bem recebidos no Brasil, nos Estados Unidos e noutros países aonde fugiram das guerras europeias. Agora, eles dão o exemplo e fazem o mesmo com imigrantes africanos.
Nessas semanas últimas e dentro de suas possibilidades, italianos têm oferecido apoio físico, logístico e moral a esses imigrantes. A Cruz Vermelha, por exemplo, é uma organização internacional cujos membros têm provido alimento, medicamento e roupa aos imigrantes. No entanto, há que reconhecer que o ônus não deve pesar somente sobre os ombros da Itália.
Nota-se que outros países europeus tiram o corpo do problema. A França fechou sua fronteira e não deseja que mais imigrantes africanos aportem em seu território. É claro que os africanos preferem ir à França, por sua reputação como epicentro da “civilização” e da “Cultura” com maiúscula. Além disso, muitos desses imigrantes têm familiares que residem na França.
No entanto, o governo francês e alguns de seus cidadãos estabelecem um bloqueio xenófobo em sua fronteira com a cidade italiana de Ventimiglia. A maioria dos imigrantes vem de Costa do Marfim, Eritreia, Somália e Sudão. Seu objetivo é seguir para França, Alemanha, Áustria e outros países do centro-oeste da União Europeia. Seus mandatários já estão bem cientes das rotas principais desse fluxo migratório dentro da Europa.
Desde um ponto de vista histórico, há uma dívida colonizadora a ser paga por certos países que pesa menos sobre a Itália. Por isso, seria mais justo que os imigrantes africanos e asiáticos cheguem à França, Inglaterra, Holanda, Portugal, que são os países que mais escravizaram pessoas do continente africano. Essa dívida já tem sido paga, embora esses países tirem o corpo da responsabilidade patente de acolher as famílias de seus ex-escravos.
Ainda nesse cenário, o governo italiano é o que mais acolhe a entrada desesperadora de imigrantes em seu país. Tenta também negociar com outros países da União Europeia a redistribuição desses estrangeiros nos países do bloco europeu para que a Itália não seja o único país responsável.
O primeiro-ministro italiano quer que a União Europeia atue verdadeiramente como uma comunidade – não só quando o mar estiver tranquilo – e ofereça assim uma solução conjunta para o problema. A reação de alguns países, contudo, não é favorável à proposta do estadista italiano. A França, por exemplo, fecha suas fronteiras para evitar o fluxo imigratório.
Parece que, por fim, um problema civilizatório que a Europa causou no resto do mundo bate à sua porta com todo vigor. Eis a cobrança da colonização que chega através de botes e barcos precários, irregulares e carregados de pessoas desesperadas para garantir um futuro digno a suas famílias.
Todo esse sonho se cultivou na Europa por um preço muito alto aos demais países. Estou pensando nos colonialismos, nos escravismos, no controle do mercado internacional e noutras políticas que um dia rebentariam entre aqueles que são os maiores responsáveis pelas desigualdades no mundo.
Confio na imparcialidade da justiça das leis da natureza.
* Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), para o Portal EcoDebate, 23/06/2015
http://www.brunoperon.com.br
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Estamos num mundo globalizado e, obviamente, não podemos fechar os olhos para os africanos que fogem da guerra e da miséria.
Os europeus deveriam seguir o exemplo do Brasil. No século XIX e início do século XX, italianos, alemães e japoneses foram acolhidos por nossos antepassados. Hoje, os haitianos são acolhidos sem nenhum processo de xenofobia.
O peso da imigração não deve pesar somente sobre a Itália. Mais uma vez, os europeus deveriam seguir o exemplo do Brasil, que transfere os imigrantes para regiões onde possam encontrar emprego e começar uma nova vida.
O número de refugiados no mundo só tende a aumentar, enquanto as condições ambientais pioram. Não existe “fechamento de fronteiras” que irá barrar pessoas que não tem mais esperança de condições de vida (nem precisa do digna) em seus países de origem. Enquanto o fluxo ainda não atingiu seu ápice (pois não atingiu. Ainda estamos no início desse processo, nem sequer no meio), os países da Europa fariam bem em descobrir como se adaptar à chegada desses imigrantes, como se organizar para receber essas pessoas e para fazer com que essas novas pessoas possam, o mais rápido possível, deixarem de ser gente precisando de caridade e passem a ser cidadãos participando da vida econômica do país.
O Brasil, que está no início do início do início desse processo, recebendo haitianos e bolivianos, também precisa aprender essas lições. O quão mais rápido se puder, pois a tendência do problema é piorar.
Na União Europeia ainda estão descobrindo como se adaptar, procurando soluções sociais à nova onda de imigração. A França e o Reino Unido são os países que mais imigrantes recebem a título definitivo, com as condições necessárias e suficientes para essas populações de refugiados.
O nosso Brasil recebe imigrantes haitianos e bolivianos sem quaisquer infraestruturas dignas, nem estruturas econômicas/sociais.