Repensar a economia, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira
[EcoDebate] O rol a seguir, com 12 itens, contempla algumas ponderações que ferem os postulados clássicos do ensino tradicional das ciências econômicas no que toca a pouca atenção mantida com as questões ecológicas:
1. O sistema econômico deve respeitar os limites físicos da natureza, além de fazer um auto-reconhecimento de ser apenas de um subsistema da bioesfera finita que lhe dá suporte;
2. A abundância material, fruto da expansão produtiva sem limites, não é (e nunca será) promotora de bem-estar, posto que um aumento na oferta de bens e serviços, face ao uso constante de energia fóssil, agride a biodiversidade, colocando o próprio bem-estar dos povos na berlinda;
3. Impor limites ao crescimento da economia global não significa travar a atividade produtiva. Limite não é o mesmo que paralisia;
4. É imprescindível reconhecer que a energia física e os serviços energéticos desempenham papéis preponderantes na produtividade e na busca que se espera seja moderada do crescimento da economia;
5. É absolutamente fundamental colocar a vida econômica a serviço do desenvolvimento social, proporcionando, com isso, duplo alcance: aumento das oportunidades e conquista definitiva das liberdades;
6. Urge promover a conciliação entre a economia e o meio ambiente e extirpar o pensamento econômico tradicional que recomenda o crescimento econômico alcançado a qualquer custo;
7. Os agentes econômicos (consumidores, governos e empresas) não são os donos da Terra, mas sim seus hóspedes;
8. Não se pode fingir ou mesmo negligenciar que vivemos em um ecossistema ilimitado;
9. O crescimento econômico permanente, dado os limites da natureza, é impossível de ser alcançado, e é perfeitamente possível obter prosperidade sem crescimento;
10. O eixo central da economia não pode ser o mercado e, o objeto principal, a mercadoria, mas, sim, o indivíduo e suas necessidades elementares, convivendo pacificamente com a natureza e
enaltecendo a vida social que é, sobremaneira, dependente de um conjunto de serviços ecossistêmicos;
11. O ritmo econômico atual, baseado na exploração desenfreada de recursos naturais e no superconsumo, é simplesmente insustentável, incabível e contraproducente;
12. A transição para uma economia global de baixo carbono com preservação e valorização da biodiversidade deve ser a meta síntese dos próximos tempos de todos os governos e povos.
Todas essas ponderações, sem exceção, contrariam à ortodoxia econômica. Tais argumentos colocam em xeque o tradicional pensamento econômico que defende ser a economia (atividade) um sistema fechado, sem interação com a natureza.
Os manuais de Introdução à Economia – qualquer um desses – insistem em defender uma economia hermeticamente padronizada, além de propagarem a prática do individualismo em economias centradas na valorização dos ganhos máximos.
Pouco, ou quase nada, é expresso em termos de valorização do indivíduo, do respeito aos limites físicos e naturais, e de uma economia voltada ao bem-estar coletivo que, essencialmente, incorpore em sua plataforma de ação à temática da economia verde, da economia azul, de uma economia estabelecida no princípio do baixo carbono, resguardando os princípios da sustentabilidade, tema esse tão caro ao fundamento maior que é preservar a qualidade de vida num ambiente que tem sido constantemente agredido pela ação humana.
Surge disso à necessidade de se repensar a economia em outras bases, em outros valores, longe do mercado consumidor, próximo de uma ecologia humana e social.
É mais que urgente, assim, repensar uma economia que esteja acoplada à ecologia, e que submeta os interesses individuais (principalmente de produção e consumo) aos interesses da Terra.
Não é mais possível postergar o enfrentamento do seguinte dilema: a preservação dos recursos naturais (limitados, finitos) de um lado, frente à produção econômica cada vez mais intensiva para tentar “cobrir” as necessidades humanas (ilimitadas, infinitas), de outro.
Ademais, para o atendimento dessas necessidades é imperioso, antes, que a atividade econômica se insira nas condições (limites) do meio ambiente, de onde provém matéria e energia para que a própria produção industrial possa se efetivar.
Dito de outra forma, a produção da atividade econômica tem que respeitar, essencialmente, os limites da biosfera, condição a partir da qual se alcança o que se convenciona chamar de sustentabilidade, ou seja, uma relação equilibrada com o meio ambiente em sua totalidade, considerando que todos os elementos afetam e são afetados reciprocamente pela ação humana e pelo jeito econômico de produzir.
No caminho para a conquista definitiva dos padrões de sustentabilidade, meta almejada para a conquista de um ambiente em harmonia, é importante destacar que qualquer ação da atividade econômica só faz sentido se, e somente se, houver um redirecionamento da economia visando sua inserção dentro dos limites biofísicos; fora disso estamos condenando o meio ambiente ao caos.
Praticar uma atividade econômica longe dos domínios da natureza, longe, portanto, dos limites biofísicos existentes, apenas contribui para o agravamento da crise ambiental que aí está.
Como assevera Luiz Fernando Merico, em Economia e Sustentabilidade (ed. Loyola, 2008), é por isso que “o desejo de manter permanentes os processos que nos sustentam nos conduz ao raciocínio de que o atual modelo de desenvolvimento econômico é insustentável, e de que, portanto, a racionalidade econômica deve ser profundamente alterada, no sentido de incorporação dos limites sociais e ambientais”.
Alterar a racionalidade econômica implica, antes, repensar os caminhos da economia em sentido amplo. É disso que carecemos no momento. É essa a necessidade mais premente dos dias atuais.
Marcus Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é Economista e Professor. Mestre pela (USP) e especialista em Política Internacional (FESP). prof.marcuseduardo@bol.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 17/06/2015
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