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Fazendas eólicas, artigo de Roberto Naime

 

parque eólico

 

[EcoDebate] A energia eólica é a energia que é obtida pelo movimento do ar, que gira cataventos metálicos, que acionam a turbinas de geração elétrica associadas. As fazendas eólicas são os conjuntos de individuais de cataventos e geradores que se instala em determinado sítio em função do potencial eólico do local, previamente estudado.

Os moinhos de vento foram imortalizados pelo escritor espanhol Cervantes, em seu célebre clássico “Dom Quixote de la Mancha”. Mas moinhos de vento que geram aproveitamento eólico para apropriação energética que exerça tarefas de interesse humano se conhece desde a idade de ouro da civilização persa, segundo descrito pelo escritor Gore Vidal em seu célebre livro denominado “Criação”, no século quinto antes de Cristo. Na época sua principal atividade era o bombeamento de água para irrigação agrícola.

Todas as vantagens de instalação, manutenção e operação de matriz baseada em fontes renováveis de energia são inúmeras e de conhecimento disseminado. Somente a ausência de geração de gases de efeito estufa na produção energética é motivo mais do que suficiente para ser celebrado. Nicholas Stern, ex-presidente do Banco Mundial em seu livro “Um caminho para o desenvolvimento sustentável”, prefaciado por Israel Klabin e lançado há poucos anos pela editora Elsevier no mercado brasileiro, registra dados de grande relevância. Em poucos anos, uma política implantada na Alemanha, sem a inversão de qualquer recurso, conseguiu resultados da maior importância. Concedendo isenções fiscais para produção de energia a partir de fontes limpas e renováveis, conseguiu a alteração dramática da matriz de energia do país, que caminha de forma célere para contemplar a matriz eólica como principal fonte de geração energética.

Em todos os países considerados e em todas as localidades existem fatores preocupantes sob a dimensão ambiental. As fazendas eólicas, forma de denominação das redes de cataventos instalados conjuntamente para aproveitamento de regimes eólicos de determinados sítios, sempre sofrem contestação e preocupação por parte de ambientalistas, pois as hélices dos cataventos que giram para alimentar as turbinas podem representar ameaça a espécies de animais, principalmente a aves em episódios migratórios ou não.

No entanto novas pesquisas indicam que as usinas eólicas podem não representar qualquer risco. Dados publicados no mês de junho de 2014 e divulgados em site do Instituto de Pesquisas em Biodiversidade (BRI) citam estudos desenvolvidos pelo Instituto de Recursos Marinhos e Estudos do Ecossistema (IMARES) da Universidade e Centro de Pesquisa Wageningen e pelo Escritório Waardenburg do Instituto Real de Pesquisa Marinha da Holanda (NIOZ), sugere que as turbinas eólicas offshore não oferecem quase nenhum risco para a fauna, e, por outro lado, fornecem um novo habitat para os animais marinhos, estimulando a biodiversidade.

O pesquisador e professor Han Lindeboom do IMARES, assevera que as colisões de pássaros com as hélices foram estimadas numa quantidade muito reduzida e que para peixes e mamíferos marinhos, as fazendas eólicas “offshore” em áreas costeiras fornecem um oásis de calma nestas áreas costeiras que são relativamente agitadas.

Em linguagem dos operadores da área de energia, em jargão linguístico próprio, ocorre a afirmação verdadeira de que a energia eólica não constitui energia “firme”. Porque de fato vária de acordo com as estações do ano e até horários do dia. Ventos são o ar em movimento e são gerados pelas diferenças de temperatura entre as terras, águas, planícies e montanhas, da topologia existente incluindo as diferenças de temperatura entre regiões equatoriais e polos terrestres. A topografia e a rugosidade do solo determinam alterações na intensidade, velocidade e frequência de ocorrência dos fenômenos que giram os cataventos. Mas o certo é que integrando esta fonte energética dentro de um mosaico de fatores geradores, são muito satisfatórios os resultados obtidos.

Em todos os países, ocorre um certo atraso na liberação de fazendas eólicas por parte de órgãos ambientais responsáveis, dada a complexidade dos fatores intervenientes envolvidos. E isto é perfeitamente compreensível sob qualquer dimensão que se considere. No país, é destaque o estado do Ceará, onde além da instalação de várias fazendas eólicas, já houve minuciosos levantamentos de capacidade eólica. No mundo existem milhares de turbinas instaladas e estima-se que em até 2020, esta fonte energética seja responsável por cerca de 10% da demanda energética que se registra no mundo.

No mundo se destacam além da Alemanha já citada, a Dinamarca e os Estados Unidos e também Índia e Espanha. O que não se pode admitir é que depois de grandes estudos e minuciosos levantamentos, trabalhosos licenciamentos ambientais e onerosas inversões, ocorram falhas nas gestões dos sistemas, com a ausência de linhas de transmissão e de interligação nos sistemas de geração elétrica, após a instalação de fazendas eólicas.

A cidadania brasileira não pode mais admitir que falhas desta natureza ocorram, desperdiçando geração de energia a partir de fonte limpa e renovável e negligenciando fatores muito importantes de contribuição à atenuação de impactos ambientais pelas energias geradas de outras fontes como hidrocarbonetos. Sem falar em outros aspectos ligados a fatores de vinculação econômica.

Segundo nota publicada pelo jornalista Lauro Jardim, na sua coluna Radar, consultada em 22/08/14, “após a conexão dos vários parques eólicos às linhas de transmissão em 30 de maio – obras que estavam atrasadas há mais de dois anos – o setor deu um enorme salto”. O jornalista publica ainda que a média diária de 500 MW passou para 1.500 MW e um recorde de produção recente permitiu que a energia eólica representasse um total de 3,2% da matriz energética do país.

Não importa o motivo desta ocorrência, que caracteriza uma gestão deficiente e incapaz, que não se deve compartilhar. O que se busca permanentemente é a melhoria das condições de qualidade ambiental, que são propiciadas pela geração de energia a partir de fontes eólicas e o incremento da qualidade de vida das populações consideradas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Publicado no Portal EcoDebate, 30/04/2015

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4 thoughts on “Fazendas eólicas, artigo de Roberto Naime

  • Deveria existir uma Lei Feed-in para a eletricidade (Electricity Feed-in Law) a qual tem como finalidade assegurar a aquisição da energia produzida por qualquer fonte renovável, quer seja em uma pequena moradia, em um pequeno sítio ou em uma grande fazenda.

  • Bem manifestado, mas te lembra, estams no Brasil, onde não se usa imposto para induzir ou obstruir nada…ao contrário da Alemanha, que via ação fiscal resolve quase tudo…onerando práticas inadequadas ou desonerando boas práticas…

    Grande abs..

    RNaime

  • Dr. Roberto Naime. Gostaria de convidá-lo para conhecer os bastidores da região norte do estado da Bahia. Depois, gostaria de saber se continua com os aparentes 100% de apoio às fazendas eólicas. Se não for 100%, por favor, mostre o outro lado. Obrigada.

  • Não sou defensor a qualquer preço de fazendas eólicas, sei que tem muitos impactos também, mas temos que procurar as alternativas menos problemáticas…

    Concordo com você…

    Abs

    RNaime

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