Produção Integrada, artigo de Roberto Naime
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
[EcoDebate] Todos aqueles que já tiveram a oportunidade de conviver com regiões atendidas para produção integrada, seja de aves ou de suínos, sabem dos enormes benefícios advindos para a capacidade econômica e até mesmo para a qualidade de vida dos produtores. Então esta reflexão necessária que vai se desenvolver não deve ser entendida como qualquer forma de julgamento ou questionamento desta realidade. Que como várias outras situações, apresenta aspectos positivos e dimensões problemáticas, que devem ser aprimoradas.
Sempre que se busca compreender a resistência apresentada por um ecossistema, um exemplo didático é a comparação com os elos de uma corrente. A corrente arrebenta no elo mais fraco. Um ecossistema é um sistema natural constituído por vários elementos componentes. Apresenta uma resistência que é a soma de seus elementos constituintes. Quando são poucos componentes, caso das monoculturas vegetais ou animais, estes elementos constituintes dos sistemas ficam vulnerabilizados.
As culturas indígenas sempre tinham grande quantidade de diferentes elementos tanto vegetais quanto animais em pequenos espaços físicos ou geográficos. Isto porque uma espécie tinha resistência a determinado tipo de fungo, outra a determinado tipo de doença e assim as resistências de todas as espécies se adicionava para ampliar a resistência do ecossistema considerado. Consideradas as devidas exceções, no geral este quadro é digno de relevância.
Seja numa lavoura onde predomina uma monocultura de qualquer espécie, seja numa produção integrada, também de qualquer espécie, a vulnerabilidade dos indivíduos aumenta muito pela ausência de diversidade que contribui para aumentar a resistência do cultivo ou criação. Assim, não é de estranhar que para que se possa adentrar galpões de criações integradas, dominados por espécies semelhantes, se tenha que passar por cuidadosas desinfecções com agressivos produtos químicos, para que um simples espirro de nossa autoria gere uma desconfortável e perigosa situação de contaminação.
Por isso não é de estranhar quando se brinca, dizendo que fazenda boa é aquela que tem bezerros, cães e papagaios. Sem a intenção de fazer qualquer associação indevida, o que se está querendo é comprovar uma situação que contribui para o aumento da resistência e até da resiliência do sistema.
Assim tem grande fundamento a utilização de princípios da permacultura, bioagricultura e proposições de integração entre lavoura, pecuária e silvicultura. Ou no mínimo a adoção de formas de manejo que não signifiquem situações de tanta vulnerabilidade para lavouras ou criações de pequenos ou médios animais. Sabe-se das dificuldades operacionais e de eventuais reflexos na lucratividade de propriedades rurais quando submetidas a esquemas de manejo que não possam maximizar situações que podem ser apropriadas com grande mecanização. Mas a questão é de colocar numa balança os prejuízos e benefícios que possam advir desta situação em toda sua extensão.
Quem sabe o fortalecimento dos ecossistemas resulte num menor uso dos caros e agressivos herbicidas, fungicidas e pesticidas em geral, ou resulte num uso mais comedido de antibióticos ou de outros elementos de proteção que necessitam ser adquiridos e que geralmente resultam em situações impactantes para os meios físico e biológico da região considerada.
Quem já esteve ou conviveu com uma situação de extremo uso deste tipo de substância sabe dos malefícios e das consequências que podem ser tão danosas para os meios biológicos e até mesmo físicos quando se utilizam substâncias de elevados tempos de meia vida ou de inertização.
Portanto esta reflexão longe de estabelecer campos de apreciação de condutas busca trazer uma aproximação com práticas que podem se mostrar extremamente satisfatórias e operacionalmente viáveis dentro de outras concepções de manutenção e exploração de propriedades rurais tanto em atividades de agricultura quanto de pecuária.
E determinar novos paradigmas para a manutenção da qualidade ambiental e da qualidade de vida de todas as populações envolvidas. As vezes, apenas por ausência de conhecimentos não são projetadas e planejadas outras alternativas que podem se mostrar extremamente viáveis quando avaliadas com ausência de preconceitos ou premeditações de qualquer natureza.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Publicado no Portal EcoDebate, 12/03/2015
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