Já encheu a sacolinha! crônica de Ulisses Tavares
[EcoDebate] Eu, boboca sempre pré-ocupado com os animais e a natureza, sofro da síndrome do saco cheio com essa história das sacolinhas de supermercados.
Como sou também dublê de dona de casa atualizada e atenta aos imperativos ecológicos destes tristes tempos nestes tristes trópicos, ouço e converso muito com a mulherada durante as compras. Dicas de culinária, banalidades em geral, e até ocasional papo cabeça.
Infelizmente, tive de deixar de lado o assunto das sacolinhas.
A maioria das consumidoras lamenta e detesta o fim desse conforto que é enfiar as compras em mil saquinhos plásticos e depois jogar fora para poluírem os bueiros, os esgotos, os rios e os mares. A maioria é gente boa de milhões de amélias que cuidam bem do lar, mas não está nem aí para o lar de todos, a nossa Terra. Zelam pela família, mas não incluem nela os peixes e outros animais marinhos que irão morrer, engasgados e sufocados, pelas malditas embalagens descartadas.
Como Freud, desisti de entender as mulheres, ao menos estas alienadas que vejo e observo fuçando as prateleiras.
Só não desisti é de protestar contra os governantes, autoridades e funcionários públicos (aqueles burrocratas que nos atendem para nos ferrar e justificar seus carguinhos e o cartaz que diz que não se pode ofender funcionário público), que superam os cidadãos consumidores em hipocrisia e miopia ambiental.
Até quando acerta, esse bando erra feio.
Primeiro, proibiram as sacolinhas.
Ok, foi gol, na trave. Os supermercados faturaram pacas em sacolas retornáveis e se livraram de uma despesa.
Daí entrou o lobby dos fabricantes e as nefandas camisinhas de comestíveis voltaram.
Não ouvi ninguém reclamando, só elogiando. Por isso calei minha boca grande diante de minhas amigas sofredoras, digo, consumidoras. A quase ninguém ocorre ter pouco mais de trabalho para muito ajudar o planeta.
Apenas uma senhorinha, até hoje, me apoiou: certo seria não comprar latinhas, mas levar as garrafas de cerveja e encher o caneco; ter sua própria sacola ou carrinho no leva e traz; não comprar mais que o necessário, e por aí vai.
Não resolve, mas alivia a barra do planeta.
Agora, as otoridades, aqui em Sampa, botaram o prego no caixão: só usaremos sacolinhas verdes. Traduzindo: sacolinhas feitas de cana de açúcar. Segundo os fdps (filhos da prefeitura), elas suportam até três garrafas pets cheias, anunciaram com orgulho.
Seria de rir, não fosse pra chorar: lucra a lavoura canavieira que, com aval verde, avançará sobre as matas nativas; lucra a indústria das garrafas pets, que esmerdeia as águas; lucra o político demagogo.
Só não lucra o meio ambiente.
Ah, sim, lembrei: não estou atacando os petistas, nem aecistas, nem quejandos.
Pelo que também vejo, ouço e converso nos supermercados das ideologias, o tema do ecossocialismo é tabu.
Das sacolinhas, então, nem se fala.
Ulisses Tavares, inspirado no filósofo ateniense Zenão, prefere não falar com reis, mas com quem o entende. Zenão repartia seu alimento e sabedoria com os cães de rua. Coisas de poeta.
Colaboração de Nathália Lippi, para o Portal EcoDebate, 02/03/2015
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