Filme alerta para os riscos de exposição à radiação ionizante na inspeção de segurança
A obra ‘Revista da Morte’, produzida pelo Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER), foi selecionada para a edição 2015 do International Uranium Film Festival, a maior mostra de cinema do mundo sobre energia nuclear. O anúncio oficial e lançamento da programação ocorre no próximo dia 30 de janeiro, no Rio de Janeiro.
A reportagem-documentário Revista da Morte desenvolve uma tese premente sobre os efeitos biológicos da radiação ionizante no organismo humano. Principalmente, sobre as crianças. No caso retratado pelo filme, o uso de radiação ionizante na inspeção de segurança dos presídios de Vila Velha e Viana, no Espírito Santo, pode ter causado 22 abortos em série.
Segundo a presidenta do CONTER Valdelice Teodoro, a busca pelo menor custo e o descumprimento das normas de segurança está fazendo vítimas no Brasil. “A comercialização e uso dos equipamentos emissores de radiação ionizante no Brasil está longe do ideal, não há controle efetivo por parte do governo e das autoridades responsáveis. Tanto nos hospitais quanto nos portos, aeroportos e presídios, os trabalhadores, pacientes e clientes são expostos à radiação sem o menor controle das doses absorvidas”.
O Uranium Film Festival é a primeira mostra de cinema no mundo dedicado a todas as questões da cadeia nuclear: da mineração de urânio, e de outros minerais radioativos, bombas atômicas, usinas nucleares, medicina nuclear ao lixo atômico. A diretora do evento, Márcia Gomes de Oliveira, acredita que um evento deste gênero é a melhor maneira de levar filmes ‘nucleares’ ao grande público. “O horror das bombas atômicas e aqueles que sofreram com elas, os acidentes nucleares, como Three Mile Island, Chernobyl e Goiânia, nunca devem ser esquecidos – nem repetidos. Esse é o nosso espírito ao iniciar a organização de cada festival”, conta.
“Por mais de seis décadas, vários curtas-metragens e documentários sobre questões nucleares não podem ser exibidos devido à pressão política. O International Uranium Film Festival, que está atualmente na cidade, forneceu uma plataforma de exibição destes filmes para o grande público”, escreveu o New Indian Express sobre a passagem do festival na Índia em 2013.
Segundo o diretor do filme, o jornalista Laércio Tomaz, o problema revelado na obra é sistemático e se repete em todo o país. “Para entrar em operação, um serviço de inspeção e segurança que utiliza radiação ionizante precisa ser aprovado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a fim de garantir a segurança de quem for exposto. Entretanto, em todos os presídios do Brasil, é possível encontrar essas máquinas funcionando, sem autorização ou certificação de qualquer natureza. Enquanto isso, as pessoas morrem por falta de informação”, lamenta.
Mas, qual o problema?
A tese de que a radiação ionizante de baixa intensidade não é nociva à saúde humana já foi derrubada em diversos artigos científicos de renome internacional. É consenso no meio acadêmico que a exposição à radiação sem um rigoroso controle das doses absorvidas provoca alterações do material genético das células e pode causar problemas de saúde, como câncer, anemia, pneumonia, falência do sistema imunológico, problemas na pele, entre outras doenças não menos graves, que podem induzir ao infarto ou derrame.
Entre os grupos de risco, o principal é o das gestantes. Uma grávida não pode ser exposta, principalmente, se estiver no primeiro trimestre da gravidez, período em que o feto tem maior nível de radiossensibilidade. Dependendo da exposição, a radiação pode perdurar em uma contagem significativa, gerando risco de efeitos biológicos para a criança.
De acordo com a Portaria ANVISA n.º 453/98, os limites pessoais determinados pela legislação são de 50 milisieverts (mSv) de dose efetiva por ano, devendo possuir uma média de 20 mSv em 5 anos, além de valores intermediários durante os meses, que traduzem níveis sujeitos à investigação e/ou intervenção laboratorial (exames citogenéticos) e notificação às autoridades reguladoras. Para monitorar essas doses, o profissional que lida diretamente com o equipamento deve usar um dispositivo chamado dosímetro. Nos aeroportos, os operadores de escâneres não fazem dosimetria ou uso de qualquer outro Equipamento de Proteção Individual (EPI).
Há riscos para qualquer indivíduo exposto ocupacionalmente, mesmo que o equipamento produza baixas taxas de dose, em função das características de ocorrência dos efeitos estocásticos.
“A radiossensibilidade celular está diretamente relacionada com a taxa de reprodução do grupo celular. Quanto maior a taxa de reprodução, maior a radiossensibilidade. Então as células da pele, tireóide, gônadas e cristalino estão mais suscetíveis aos efeitos biológicos das radiações ionizantes. Portanto, devem estar protegidas no momento da exposição. Contudo, atualmente, os operadores desses equipamentos na área de segurança trabalham sem nenhum cuidado ou acompanhamento à saúde”, esclarece Valdelice Teodoro. É recomendado que os operadores de escâneres façam exame de sangue com contagem de plaquetas a cada seis meses e, ao sinal de queda, o profissional seja afastado preventivamente até o reestabelecimento das taxas.
Quem faz o festival
O Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear – Uranium Film Festival – é realizado pelo Arquivo Amarelo, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
Amarelo é a cor do elemento radioativo urânio e a cor do sinal de alerta. O projeto do Arquivo Amarelo é criar a primeira cinemateca do Brasil e da América Latina sobre a temática nuclear e disponibilizar os filmes principalmente para escolas e universidades.
Até o momento, a maioria dos documentários sobre este assunto tem sido produzido por países não lusofônicos, geralmente em inglês, alemão ou francês. Outro objetivo do projeto Arquivo Amarelo é traduzir estes filmes para a língua portuguesa e, ao mesmo tempo, traduzir as produções lusofônicas para outras línguas.
O Arquivo Amarelo é um projeto para a eternidade, porque irá guardar o saber sobre os riscos radioativos para muitas gerações – uma necessidade das sociedades que produzem diariamente lixo atômico, gerando riscos para milhares de anos, como está muito bem demonstrado no filme “Into Eternity” (2010), longa metragem dinamarquês, vencedor do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear, em 2011.
FONTE: CONTER
http://www.conter.gov.br
Publicado pelo Portal EcoDebate, 22/01/2015
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A pergunta é: é possível diminuir o risco desses aparelhos sem que eles percam a efetividade?
Confesso que não sei, mas chuto que não. Afinal, eles usam a radiação ionizante assim como aparelhos de radiografia usam, e sem emiti-la, simplesmente não funcionariam. Se eu estiver errada nisso, o que não é uma possibilidadepequena, o raciocínio que segue não vale.
Mas considerando que seja necessária a radiação para funcionarem.
Vou desconsiderar os aparelhos dos aeroportos, pois com a exceção daqueles em aeroportos internacionais, onde é necessário seguir normas também internacionais (e se não tivermos os aparelhos nesses, não vamos mais poder viajar para o exterior. Cada um tem a sua escolha nisso, e arque com as consequencias), os outros em aeroportos do Brasil estão lá só para inglês ver, e não vão envenenar ninguém, visto que nem funcionar funcionam.
Agora, em presídios, esse tipo de aparelho é alternativa à revista íntima.
Claro, existem duas outras alternativas a isso ainda:
–> Não permitir visitas a presos. — o que eu não acho que vá acontecer algum dia, e, convenhamos, não seria certo. Nem na Indonésia, onde ainda há pena de morte, como foi tão propagandeado recentemente, se chega ao extremo de permitir visitas.
–> Não se fazer nenhuma vistoria nas pessoas que vão visitar presos e confiar na bondadezinha dentro do coraçãozinho delas para que nada de mal aconteça e nada seja contrabandeado para dentro dos presídios. — o que seria pior para a sociedade do que os efeitos deletérios da revista íntima e da radiação ionizante somados, já que é o que permite o descontrole dos presídios, a organização de sociedades criminosas a partir deles e todos os males associados. As nossas vistorias já não são lá grandes coisas, mas não tê-las seria desistir completamente da idéia de usar presídios como centros de reabilitação.
Então o que sobra é utilizar esse tipo de aparelho ou fazer revistas íntimas. Eu não seria contra darem à escolha aos visitantes sobre qual tipo de revista passarem, mas alguém tem alguma dúvida de que 99% (chutando baixo) das pessoas escolheria a revista pelo aparelho?
Bem, é perfeitamente possível fazer o uso racional do equipamento sem perder a efetividade, basta que o operador tenha a qualificação necessária e a instalação do escâner tenha sido feita dentro dos padrões internacionais de segurança, para não haver espalhamento/fuga de radiação ionizante.
No ES, acontece que a empresa vendeu os equipamentos, foi lá, instalou de qualquer jeito, ensinou aos agentes penitenciários como liga e desliga, e tchau. Esse treinamento deveria ter pelo menos 1,2 mil horas…
Depois de terminar o filme, recebi a notícia que vários agentes penitenciários que operam o equipamento começaram a apresentar sintomas, como queda de cabelo, ânsia de vômito, dores de cabeça, esterilidade, etc. Eles não têm a menor ideia do que estão lidando. Soubemos, inclusive, que eles ficam passando pelo RX pra fazer um campeonato de quem tem o pênis maior.
Olha, eu sou a favor do uso dos RX na inspeção de segurança dos presídios, a justificativa é válida. Nenhum ser humano merece ser exposto de maneira vexatória, o que se fazia era humilhante. Idosas e pessoas com deficiência de toda ordem sendo tratado como gado. Um horror.
Mas, lamentavelmente, acontece que a necessidade social foi transformada em negócio. As mega empresas que comercializam esses equipamentos se alastram pelo país como uma praga, violando a soberania nacional, e todos assistem ao circo pegar fogo mediante propina. Tem muita grana envolvida.